Arquitetura

Os segredos da arquitetura total

Marina Fabri
22/11/2012 02:24
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Espaço cultural A Fabrika: a maior parte do projeto é de Albuquerque

O arquiteto e urbanista Lucio Albuquerque é um cidadão do mundo. Mora em São Paulo (SP), mas não é paulistano. Nasceu em Porto Alegre (RS), mas não é só gaúcho. Morou por vários anos em Brasília, onde iniciou a faculdade, e terminou em Porto Alegre. Especializou-se em arquitetura de interiores e anatomia da casa na Universidade da Califórnia (UCLA), em Los Angeles (EUA), há 20 anos, e voltou para o Brasil – mas nunca parou de viajar. Hoje, tem projetos em São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Uruguai, Estados Unidos e Europa, sem contar Curitiba, onde tem vários, como o espaço cultural A Fabrika. Orgulhoso em dizer que está sempre de malas prontas para ir onde quer que seja solicitado, Albuquerque prega um modo de viver mais prático e concentra nele mesmo quase 100% de seus projetos.
O foco da sua carreira é na arquitetura de interiores, certo? Por que essa escolha?
Exatamente. Tive a oportunidade de descobrir essa área, que há 20 anos era um pouco desprezada. Estamos falando de uma época em que não existia faculdade de design, existiam algumas poucas de desenho industrial, e ainda não existiam formandos, nem profissionais. Era um mercado em que, quem fazia arquitetura de interiores não era especializado academicamente.
Fui estudar em Los Angeles, nos Estados Unidos, voltei com essa formação e comecei a trabalhar no primeiro mês. Acredito que a arquitetura de interiores, ou seja, uma casa bem organizada, consegue interagir com seus habitantes a ponto de faze-los mais felizes. Uma das suas especialidades é a arquitetura total.
Como é essa proposta?
Em um trabalho, faço desde o projeto arquitetônico até a decoração, o desenho dos móveis, a parte de iluminação, o paisagismo. Fiz essa opção pela arquitetura total em um tempo que o mercado todo começava a se especializar em nichos muito específicos. Tenho colegas que viraram arquitetos de hospitais, por exemplo. E eu senti que eu poderia centralizar tudo, que isso deixaria meu trabalho mais uniforme. Até porque, muitas vezes, em um projeto, há muitas pessoas envolvidas – o arquiteto, o paisagista, o especialista em iluminação – e o cliente, que hoje tem pouco tempo, tem que se reunir com cinco, seis pessoas para explicar o que quer. Eu vi esse movimento do mercado e achei ilógico. Então, eu gerencio, administro e executo todas as etapas. Não sou especialista em tudo, me assessoro e faço parcerias, mas sou sempre o canal junto ao cliente.
Você tem projetos em Curitiba? Como é seu trabalho na cidade?
Sim, sempre tenho projetos em Curitiba, que é uma cidade que acolheu, aceitou muito bem meu trabalho e é um privilégio trabalhar aqui. Meu primeiro projeto aqui foi há 18 anos, um restaurante que ficava na Pracinha do Batel (onde hoje fica o Lellis Trattoria) – ele não existe mais, mas muito da minha intervenção continua lá. Também sou responsável pelo projeto A Fabrika (espaço cultural que reúne escolas de idiomas, dança e academia) há 15 anos, com exceção do Goethe Institut, que foi desenvolvido por outra arquiteta. Tenho carinho ainda por um projeto de apartamento residencial no Ecoville, que tem quatro suítes e é extremamente prático. Todo o metro quadrado é usado. Não há sala de almoço e sala de jantar. Se o apartamento tem uma sala linda, maravilhosa, você almoça nela, janta nela, toma café da manhã nela.
É possível dizer que a praticidade é uma marca do seu trabalho?
Sim. Por exemplo, não faço muitas salas de estar íntimo, procuro fazer do living o estar íntimo. Também coloquei um home office no meio do living – eu pensei “meu cliente vai trabalhar em um quartinho? Com esse living com sete metros de pé direito, todo envidraçado, e vista para o jardim? Ele vai ter que trabalhar olhando para isso!”. São mudanças de conceito que eu tenho autonomia para fazer porque observo a residência como organismo vivo, sincronizada com o dia a dia de seus habitantes.