Arquitetura

Os “prédios deitados” de uma Curitiba art déco

Eloá Cruz
27/05/2015 01:02
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o Museu Guido Viaro mantém fachada original desde sua construção, datada da década de 1930. Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo | GAZETA

Entre o fim do ecletismo e o início do pré-modernismo, os edifícios de art déco da década de 1930 apontavam o início da verticalização das moradias em Curitiba. Não que houvesse carência de terrenos por aqui. Nem superpopulação, afinal, não passávamos de 100 mil habitantes. Mas os conjuntos de pequenas habitações surgiram como oportunidade para quem pretendia investir no setor imobiliário.
Em um terreno de tamanho médio, onde normalmente se construía apenas uma casa, com um pouco mais de tecnologia passou a se levantar um edifício, que pudesse abrigar vários pequenos apartamentos. Com no máximo dois andares, os  “prédios deitados”, como são chamados pelo arquiteto Key Imaguire, tinham como alvo a pequena classe média que não tinha condições de ter um imóvel na região central. “Seria mais ou menos como as quitinetes contemporâneas. Esses apartamentos, construídos nas esquinas próximas às praças, eram voltados a trabalhadores que precisavam morar próximo ao emprego”, ressalta.
Enquanto a art déco delineava aos poucos as edificações de Curitiba, as construções começavam a usar materiais industrializados, como madeiras processadas, revestimento em pó de pedra, ladrilhos hidráulicos, louças e peças sanitárias de fabricação brasileira.
Dessas edificações, poucas são remanescentes. Entre elas, as localizadas na esquina entre as ruas Duque de Caxias e Inácio Lustosa, no cruzamento das ruas Desembargador Motta e Saldanha Marinho, e o mais preservado de todos (ao menos em seu exterior): o edifício do Museu Guido Viaro, na rua XV de Novembro, esquina com a General Carneiro.
Fachada x área interna
Numa análise mais detalhada do edifício do Museu Guido Viaro, o professor de arquitetura da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Roberto Sampaio, explica que a fachada em pó de pedra, além de dar ares robustos, trazia ao edifício um aspecto de pequeno casarão. E essa é uma característica comum aos prédios horizontais. A entrada para os apartamentos, ao contrário do que encontramos nos prédios mais recentes, não era centralizada. “Ela era separada para evitar a circulação de pessoas no interior do prédio. O espaço para um hall interno ‘mataria’ parte da área de construção.”
A estrutura interna desses imóveis também era diferente. Os dormitórios ficavam ligados à sala, a entrada do apartamento no corredor principal e os banheiros localizados próximos à cozinha. O que, para Sampaio, seria explicado pelo fato de os dois espaços necessitarem de instalação hidráulica, a cozinha ser vista como ligação entre a casa e o quintal, onde antes ficavam os “banheiros”, e regras sanitárias não serem tão rigorosas.
Prédio horizontal localizado na esquina das ruas Inácio Lustosa com Duque de Caxias, no bairro São Francisco. Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo
Prédio horizontal localizado na esquina das ruas Inácio Lustosa com Duque de Caxias, no bairro São Francisco. Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo
Construção entre as ruas Desembargador Motta e Saldanha Marinho ainda permanece com característica residencial. Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo
Construção entre as ruas Desembargador Motta e Saldanha Marinho ainda permanece com característica residencial. Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo