Arquitetura

Opinião: Prédios de “mau gosto” fazem bem à cidade

Luan Galani*
31/08/2016 09:42
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Obra do russo Sergei Tyukanov que retrata Alice no País das Maravilhas por meio de construções fantasiosas. Imagem: Reprodução

Por que os prédios são tão sisudos? Alguns arquitetos pós-modernos levantaram esse mesmo questionamento e decidiram abandonar a preferência por cubos e quadrados, que passam a falsa ideia de estabilidade, solidez e permanência em um mundo ditado pela impermanência.
No lugar das linhas retas, construções com um quê de fantástico, com uma pitada de humor. Algo tão incomum nessa disciplina.
Muitos estudantes e professores universitários torcem o nariz para essa estética. Dizem que não há refinamento, que se trata de um discurso sem pé nem cabeça, um corpo desprovido de razão, como sentencia o arquiteto Fernando Fuão, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no ensaio “O fantástico na arquitetura”.
O que só revela que a arquitetura precisa ser mais tolerante. Melhor: arquitetos precisam ser mais tolerantes. Em uma época que se propaga tanto essa palavra, não podemos nos esquecer de nós mesmos nessa equação.
A diversidade é saudável. E sua riqueza precisa ser reconhecida.
A ânsia pós Segunda Guerra Mundial de levantar construções universais para o homem moderno nem sempre faz bem. A história prova. A genialidade do próprio Antoni Gaudí, mestre da arquitetura catalã que dispensa apresentação, só foi devidamente reconhecida depois de sua morte.
Curitiba não é exceção e tem várias dessas construções. O policiamento do refinamento arquitetônico não deixa passar e vive uma cruzada para criticar esses exemplares “diferentes”.  Mas se esquece que, no dia a dia, essa mesma arquitetura pode tornar dias pesados mais leves. Esses edifícios se transformam em ícones da paisagem e passam a fazer parte do inconsciente urbano. Como o castelinho marroquino do Alto da XV, que desperta a imaginação de todo mundo que passa pela sempre apressada Rua José de Alencar.
Fotos do Castelinho Árabe da Rua José de Alencar para a Revista HAUS. Local: José de Alencar, 1800 - Juvevê.
Fotos do Castelinho Árabe da Rua José de Alencar para a Revista HAUS. Local: José de Alencar, 1800 - Juvevê.
Curitiba Trade Center Office Building. Paraná. Construído em 1997, é até agora o edifício mais alto do estado do Paraná. (Informação de 2014).
Curitiba Trade Center Office Building. Paraná. Construído em 1997, é até agora o edifício mais alto do estado do Paraná. (Informação de 2014).
Matéria sobre a Ordem Rosa Cruz , Caderno G, Haus. Fotos Ordem Rosacruz. Museu Egípcio. Múmia Andina, múmia Tothmea, Grão-mestre Helio de Moraes e Marques , Rose-Croix . Local: Ordem Rosacruz Rua Nicarágua, 2620.
Matéria sobre a Ordem Rosa Cruz , Caderno G, Haus. Fotos Ordem Rosacruz. Museu Egípcio. Múmia Andina, múmia Tothmea, Grão-mestre Helio de Moraes e Marques , Rose-Croix . Local: Ordem Rosacruz Rua Nicarágua, 2620.
Em tempo: essas mesmas construções fantásticas, kitsch ou “de mau gosto”, como batem no peito muitos mestres da academia, são responsáveis por quebrar a monotonia. Quem já perambulou por algumas cidades europeias como Amsterdã ou Praga entende. Com raras exceções, as casas são todas iguais, da mesma cor, com a mesma linguagem. E os novos arquitetos querem justamente sacudir a paisagem, imprimir o diferente.
Tente reexaminar algumas obras a partir dessa perspectiva. Veja a capela Romchamp de Le Corbusier. O arquiteto franco-suíço deixou de lado vários de seus dogmas. Reinventou-se.
A arquitetura é uma forma de manifestar nossas vidas no mundo físico. Com as tecnologias, em vez de viver em árvores ou cavernas, nós passamos a construir nossas próprias árvores e cavernas.
Como me disse certa vez Bjarke Ingels, o “cara” da nova arquitetura: “Como seres humanos, não temos que aceitar o mundo como ele é. Nós podemos criar o mundo dos nossos sonhos“.
Nossas cidades agradecem.
*Jornalista da revista HAUS.