Arquitetura
Nova York vai proibir construção de arranha-céus espelhados? Entenda a polêmica
Foto: Lukas Kloeppel/ Pexels
O prefeito de Nova York, Bill de Blasio, realizou uma entrevista coletiva em abril para anunciar a implementação do NYC’S Green New Deal, o plano de ação da cidade para reduzir a emissão de poluentes e diminuir a pegada de carbono da cidade, entre outras medidas voltadas a sustentabilidade e conscientização ecológica da situação.
Entre as iniciativas propostas pelo plano, uma fala do prefeito chamou a atenção do público e da imprensa internacional nas últimas semanas: a de que a cidade não vai mais permitir a construção de prédios com fachada de vidro e aço, os famosos edifícios espelhados.
Na declaração, de Blasio diz que as medidas afetarão especialmente alguns prédios que não deveriam ter sido construídos nunca, para começo de conversa. “Nós vamos introduzir uma legislação para banir os arranha-céus de vidro e aço, que contribuem tanto para o aquecimento global. Eles não têm mais lugar na nossa cidade ou no nosso planeta”, cravou o prefeito, declarando guerra a este tipo de construção.
O motivo do embate é o impacto ambiental deste tipo de prédio, que segundo o prefeito, contribuem imensamente para o aquecimento global. “Por que estamos tão focados em prédios? Porque eles são a causa número um de emissão de gases de efeito estufa. Não são carros, são os prédios”.
Com resistência do mercado imobiliário, a cidade aprovou uma lei que impõe multas de até um milhão de dólares por ano para quem não cumprir as regras do novo acordo. A declaração – e a lei em si – causaram polêmica e resistência no setor dentro e fora de Nova York, já que os gigantes prédios espelhados são parte importante da paisagem local, gerando uma das skylines mais famosas do mundo.
A aplicação da mesma, no entanto, não será tão fácil e a cidade deve encontrar resistência por toda a parte. A colunista da revista internacional Architectural Digest, Audrey Gray, escreveu em seu espaço na publicação que, embora seja “forte em sentimento”, contém “mais latida do que mordida”. “Não haverá uma proibição total do vidro e do aço para novas construções, mas haverá certos padrões de eficiência energética que os edifícios terão de cumprir, cujas especificidades ainda não estão claras”, escreveu ela.
Os comentários do prefeito surpreenderam muitos arquitetos da cidade, segundo ela, especialmente por conta dos recentes avanços nas técnicas de construção ecológica. “Os projetistas agora podem criar mais torres de carbono neutro usando todos os tipos de materiais, incluindo painéis de vidro.”
A própria fala seguinte do prefeito na coletiva já esclarece a polêmica: “Se uma companhia quer construir um grande arranha-céu, ela pode usar todo o vidro que quiser, se ela fizer todas as coisas que precisa para reduzir as emissões, mas construir monumentos que prejudicam o planeta e ameaçam nosso futuro, isso não vai mais ser permitido na cidade de Nova York”.
Em outras palavras, não se trata exatamente de um banimento deste tipo de construção, mas de uma intensificação na vigilância para que as os prédios passem a se preocupar, obrigatoriamente, com a emissão de gases de efeito estufa.
Um grande acordo municipal
Para inspirar os empresários do setor, a prefeitura vai começar a mudança pelos próprios edifícios, investindo 3 bilhões de dólares na reforma de prédios públicos para torná-los menos poluentes. Ao todo, o Green New Deal vai custar aos nova-iorquinos U$ 14 bilhões.
“É a primeira grande cidade no planeta a exigir que seus prédios parem de emitir tantos poluentes perigosos. Agora é lei que nossos prédios devem fazer a coisa certa pelas pessoas dessa cidade”, complementou de Blasio na coletiva.
O objetivo de Nova York com este plano é o de reduzir em pelo menos 30% as emissões de gases de efeito estufa até 2030.
Veja a entrevista coletiva na íntegra:
*Especial para Haus