Arquitetura
Novo refúgio de livros da Arte e Letra transforma casa abandonada no Batel

Rua Desembargador Motta, 2011: o novo endereço da Arte e Letra é o 4º na mesma quadra do Batel. Fotos: Albari Rosa/Gazeta do Povo | Gazeta do Povo
Livraria, café, editora e laboratório gráfico. É essa combinação de funções que forma o coração da Arte & Letra, criando uma artilharia em prol da literatura há quase duas décadas em Curitiba. Em agosto, seus fundadores, os irmãos Thiago e Frederico Tizzot, alcançaram uma façanha um tanto curiosa: abrir a quarta sede da Arte e Letra na mesma quadra.
A livraria — título pro forma para o empreendimento de várias faces — reabriu suas portas em agosto no número 2011 da Rua Desembargador Motta, no Batel, depois de ter passado pela Alameda Dom Pedro II e por dois endereços na Presidente Taunay. “Não era algo planejado, nós tivemos de sair da outra casa. E como estamos na região desde 2006, mudar para fora dessa área faria a gente demorar muito tempo para retomar o ritmo em que estava”, conta Thiago. “Então tentamos achar uma casa por aqui e por sorte achamos essa”.

O projeto, assinado pela arquiteta Larissa Costa de Araujo, deu vida ao espaço que antes funcionava como uma empresa de recursos humanos e que estava altamente deteriorado. A grande premissa é tornar os livros os grandes protagonistas do projeto e, por isso, todos os elementos são pensados como uma consequência deles. Isso é visível desde a fachada: a sala central da casa é dedicada à livraria, com janelas do chão ao teto que funcionam como uma grande vitrine.

“A ideia é mostrar que cada livro é uma obra de arte”, ressalta Larissa. “A gente quis aproveitar a ideia de que toda a produção dos livros é feita aqui, e para isso a gente usa materiais crus, com cara industrial — uma ideia que faz parte de todos os projetos da Arte & Letra”, conta a arquiteta, que assinou os projetos das quatro sedes, além da livraria na PUCPR e do café na Biblioteca Pública do Paraná, ambos inaugurados em 2018.
Para a linguagem industrial, Larissa apostou em estantes de vergalhão com prateleiras de MDF, cores neutras e iluminação cênica, com trilhos e spots. Em contraste, a arquiteta quebra a seriedade com elementos como o teto em madeira na área do café, o porcelanato que imita granilite, uma poltrona suspensa e plantas.

Os outros espaços se moldam a partir da livraria. O café fica em um ponto estratégico, com vista para os 50 lugares. As mesas são distribuídas em diversas salas diferentes, todas com permeabilidade para os livros — os azulejos hexagonais coloridos, por exemplo, criam caminhos para os visitantes chegarem até eles.
A ideia de permeabilidade também é uma constante. Uma das áreas dedicada às mesas também convidam quem está na rua a entrar. Internamente, uma janela se abre para a área do laboratório gráfico, permitindo que se veja a produção dos livros da editora.

“Tanto o conceito que a loja tem hoje quanto seu projeto arquitetônico foi sendo construído ao longo dos endereços: cada vez ajustamos algum ponto”, relata Thiago. “Desde a primeira loja, a gente quer que os móveis apareçam o menos possível. A ideia é deixar o espaço físico mais neutro, porque o colorido vai vir dos livros. Mesmo assim, essa suposta neutralidade chama muito a atenção”.
No total, o espaço tem 80m² de loja e 230m² de área total. O projeto foi realizado em quatro meses, de abril até agosto.
Confira abaixo a linha do tempo da Arte & Letra em Curitiba: