Arquitetura
Nova onda da arquitetura nacional

Fernando Forte (à esq.), Lourenço Gimenes e Rodrigo Marcondes Ferraz
Três jovens criativos, que se conheceram na universidade, acabam de receber um grande reconhecimento pelo conjunto de seus 14 anos de carreira. Fernando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo Marcondes Ferraz, do escritório FGMF Arquitetos, receberam uma das mais importantes premiações da arquitetura internacional, o WAN 21 for 21, organizado pelo World Architecture News. O prêmio tem como objetivo escolher 21 arquitetos, de todo o mundo, que têm se destacado no século 21 pelo potencial de inovação para o futuro da arquitetura. O FGMF é o único escritório brasileiro na lista, que será finalizada em 2014.
Qual a importância de ser premiado pelo WAN 21?
Ficamos muito felizes por perceber que o escritório está indo por um caminho interessante. Esse foi o primeiro prêmio que ganhamos que é baseado em toda a nossa obra na arquitetura contemporânea e investigativa e não apenas em um projeto. O prêmio tem uma curadoria rígida, com arquitetos gabaritados, como a Martha Thorne, diretora executiva do Prêmio Pritzker (considerado o principal prêmio de arquitetura).
Como o escritório avalia a indicação para a arquitetura nacional?
Creio que é muito importante ter um escritório participando do prêmio que está elegendo 21 escritórios para o século 21. Esta participação é importante, pois estamos em um momento em que a arquitetura brasileira está renascendo e ganhando reconhecimento internacional.
O que você definiria como esse renascimento?
Nos anos 1950 e 1960 tivemos a famosa arquitetura moderna brasileira. Depois, durante a ditadura militar, muitos profissionais interessantes, criativos, saíram do país e ficaram de fora da construção das cidades. Vieram crises sucessivas e o mercado de construção civil ficou estagnado, especialmente nos anos 1980 e 1990. Hoje, com a nova fase de crescimento do país, a produção criativa vem crescendo.
E qual a relevância dessa produção nacional no cenário mundial?
Ficamos muitos tempo repetindo fórmulas, demoramos a nos reinventar, mas hoje vemos mais gente produzindo, participando de exposições e desenvolvendo projetos aqui e fora do país. Soma-se a isso a facilidade que a internet oferece para o intercâmbio de ideias.
Qual a principal característica da arquitetura local atual?
Em primeiro lugar, abolimos o preconceito com os materiais. Saímos daquela “amarra” do modernismo de só poder usar o concreto aparente e procuramos soluções mais adequadas para cada projeto. Além disso, há a incorporação da tecnologia, com técnicas construtivas mais apuradas e sustentáveis, e a tentativa de fazer com que as pessoas vivam melhor.
Voltando na questão da arquitetura que vocês fazem, queria que comentasse sobre as referências que inspiram vocês.
Nós três estudamos na USP (Universidade de São Paulo) que tem uma carga de tradição da arquitetura moderna muito forte e por mais que a gente tente se libertar, há uma influência forte do modernismo brasileiro. Mas buscamos apresentar projetos de forma diferente, com outra cara. Tentamos incorporar novas ideias que observamos fora do país, especialmente com tecnologias diferentes. O interessante de ser arquiteto é que o trabalho acontece o tempo todo. Às vezes vendo um filme surge uma boa ideia que servirá de solução para um projeto.
A questão da sustentabilidade aparece muito no discurso da arquitetura. A prática está confirmando isso?
Na prática tem aumentado de uma forma mais lenta do que no discurso. Muitas vezes diz-se que o prédio é sustentável, mas na verdade a edificação é mal implantada e tem apenas alguns itens de materiais que são um pouco mais sustentáveis. O primeiro passo, na minha visão, é conter o desperdício. As construções feitas de forma artesanal têm índice de desperdício de material de cerca de 30%. Significa que a cada três prédios construídos hoje no Brasil, nós jogamos um fora.
Por outro lado, creio que estamos avançando. A indústria tem produzido materiais melhores. Porém o custo ainda barra muita coisa. Em projetos de interesse social é difícil implantar esses itens. Mas, aos poucos, com políticas públicas e boas ideias vamos tornando o discurso mais próximo da prática.
Como é o trabalho a seis mãos?
Nós estamos há muito tempo trabalhando juntos. Acredito que nós nem saibamos mais como é projetar sozinho. A fase de definições é sempre feita pelos três, até porque é a fase mais criativa. O bom de nos conhecermos bem é poder discutir as ideias e argumentar sem medo. Afinal a arquitetura é um trabalho coletivo e complexo. Às vezes para erguer um prédio há uma equipe de quase 300 pessoas. É ilusão pensar que é apenas o traço do arquiteto que dá vida para um projeto, nós trabalhamos em equipe.
Como é para vocês, ainda tão jovens, tornarem-se referência para outros arquitetos?
A gente acha até um pouco engraçado. Parece que foi ontem que saímos da faculdade e agora recebemos a visita de estudantes pedindo material para preparar projetos de conclusão de curso ou para mestrado. Nós procuramos estar próximos da academia, dando muitas palestras por todo o Brasil e, por causa do prêmio, estamos viajando e falando com estudantes no Japão, Nova York, entre outras cidades. É muito gratificante tudo isso. O mais bacana é poder falar para os jovens que a arquitetura é uma profissão que acontece a todo o momento, é preciso observar o que está sendo construído e ter curiosidade para saber como as coisas são feitas. Um arquiteto curioso tem mais chances de conseguir sugerir novas soluções para os seus projetos.