A ideia do museu enfadonho em palácios antigos ou casarões históricos não é realidade mais única. Há algum tempo eles se tornaram monumentais. Adotaram linguagens arquitetônicas singulares e marcantes, e vão “muito bem, obrigado”, mesmo à contragosto de alguns críticos contemporâneos.
O arquiteto Rodolfo Sastre, que leciona na Universidade Positivo (UP), destaca que essas novas construções são justamente onde os arquitetos têm maior liberdade criativa. Não à toa, hoje os museus contemporâneos são disneylândias da cultura, como brinca a arquiteta Sylvia Ficher, da Universidade de Brasília (UnB). “Não se trata mais de apenas um lugar para exposição. Há toda uma nova infraestrutura para a fruição artística”, sentencia a arquiteta.
Para criar esses espaços, as principais estratégias utilizadas são explorar os percursos internos e as diferentes sensações, brincar com luz, sombra e formas, e criar espaços de interação com o entorno. A Haus selecionou cinco museus contemporâneos que honram essa nova tradição.
Museu Guggenheim Bilbao
Fale em museus contemporâneos e a presença do Guggenheim Bilbao se torna obrigatória. A obra do norte-americano Frank Gehry no norte da Espanha ainda hoje é aplaudida pela transformação social que trouxe consigo. Antes da abertura do museu em 1997, a cidade estava fora do mapa por ter uma reputação desinteressante e feia, principalmente devido ao antigo porto da cidade. Gehry utilizou-se justamente deste conceito para dar forma ao museu. De perto, a construção lembra um barco, evocando a história industrial do porto. Foram utilizadas placas de titânio, material empregado somente na aeronáutica até aquela década, e foram criados softwares especiais, até então inexistentes, para auxiliar o projeto.
Centro Georges Pompidou
O monstro de Paris. Esse foi o apelido do centro logo após sua construção em 1977. Quase desconhecidos na época, os arquitetos Gianfranco Franchini, Richard Rogers e Renzo Piano, hoje aclamados internacionalmente, chocaram com um projeto tecnológico que virava a construção do avesso, deixando as estruturas aparentes e o interior livre para a arte. O exoesqueleto feito de vidro e de tubos e cabos de aço permite identificar claramente a função de cada elemento do edifício por meio da cor. Entre as diversas instituições que abriga, o Pompidou sedia o Museu Nacional de Arte Moderna, um dos maiores museus europeus de arte moderna e contemporânea, com mais de 60 mil obras
Museu de Arte Moderna Astrup Fearnley
Embora projetado pelo mestre dos museus, como o renomado Renzo Piano é comumente chamado, a instituição, reaberta em 2012, em Oslo, na Noruega, honra a tradição escandinava. A estrutura de madeira que abriga o museu se encaixa como uma luva na paisagem do fiorde. Por isso, se tornou também uma área de convivência para as pessoas que vão se divertir na praia. Ao todo são dois prédios conectados por pontes, que abrigam arte contemporânea e pop art internacional.
Museu de Arte Chichu
O exemplo extremo do bom diálogo entre arquitetura e seu entorno. Para preservar a paisagem da ilha de Naoshima, no Japão, o museu foi concebido como uma escultura subterrânea, permitindo um encontro perfeito entre céu, mar, terra, arquitetura e arte. Por isso, nem sempre é tão fácil perceber onde a arquitetura termina e a arte começa. As aberturas geométricas no teto das galerias maximizam o uso da luz natural e a utilização do concreto armado faz jus ao minimalismo oriental. Aberto desde 2004, recebe a assinatura do arquiteto japonês Tadao Ando e tem em seu acervo obras tardias de Monet e arte contemporânea dos norte-americanos Walter de Maria e James Turrell.
Museu de Groninger
A sobriedade costuma acompanhar os museus, até mesmo os de arte moderna e contemporânea. Mas não o Museu de Groninger, na cidade homônima ao norte da Holanda. Ele é conhecido por ser extrovertido e lúdico. Desde 1994, cada pavilhão foi desenhado por diferentes designers e arquitetos, como Philippe Starck, Coop Himmelb(l)au e Alessandro Mendini, entre outros, em um mix de diferentes expressões. Apesar de alguns críticos dizerem que a linguagem arquitetônica do museu é uma verdadeira bagunça, devido à falta de diálogo conceitual entre as galerias, a experiência de visitação é única. O acervo vai desde prataria e cerâmica oriental do século 17 até obras contemporâneas.