Arquitetura
Mosaicos multicoloridos ornamentam o piso de construções históricas de Curitiba
Uma das entradas do prédio histórico da UFPR, na Praça Santos Andrade: cerâmica com bossa. Foto: Fernando Zequinão/Gazeta do Povo | Gazeta do Povo
Fotografar os pés sobre pisos coloridos e antigos virou mania nas redes sociais. Várias contas do Instagram apresentam “selfeets” mostrando, além dos sapatos, a beleza dos pisos que por vezes passam despercebidos em prédios históricos.
Quem se dedica a observar esses pisos é impactado por dezenas de referências. Das mais óbvias, que se impõem na arquitetura exposta em elementos diversos, às mais sutis, que podem estar ali, sob os pés. A HAUS visitou alguns lugares em Curitiba em busca de ladrilhos coloridos, cerâmicas fabricadas no início da industrialização deste tipo de material e pedras recortadas. São pisos que contam a história e a evolução dos revestimentos.
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De acordo com Cláudio Forte Maiolino, arquiteto e professor de História da Arquitetura e Conservação e Restauro da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), a pré-fabricação de elementos artísticos coincide com a arquitetura eclética do final do século 19, momento em que o Paraná recebe os imigrantes europeus e, com eles, novas técnicas e materiais. “O grande produto para piso do início do século 20 é o ladrilho hidráulico, que foi adotado em muitas construções e substituiu, em grande medida, as tábuas de madeira que eram usadas na arquitetura colonial”, aponta.
A substituição se deu por conta da capacidade de os ladrilhos hidráulicos resistirem à água e serem duráveis, tanto em áreas internas quanto externas.
Grande parte dos requintados solares, chalés e palacetes que passaram o ocupar a paisagem urbana de Curitiba recebeu as peças feitas artesanalmente com cimento e pintadas com uma camada de aproximadamente dois milímetros do material colorido à base de óxidos de ferro.
É o caso de imóveis como o Solar do Barão, o Museu da Imagem e do Som, o Palacete dos Leões, entre outros que mantêm até hoje os ladrilhos no piso.
“O produto é encontrado em todo o Brasil e, na maioria dos casos, foi usado em construções ligadas à elite ou em prédios públicos. O custo de produção era, e é até hoje, elevado”, explica Zeila Maria Machado, restauradora especializada em azulejaria e professora em universidades como a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Com o desenvolvimento da indústria cerâmica nos anos 1950 e 1960, aos poucos os ladrilhos foram sendo substituídos. No entanto, as primeiras levas do “novo” material ainda tinham “um quê” de ladrilho. “Gosto da citação do arquiteto e professor Fernando Carneiro que diz que ‘as formas persistem mesmo depois que as causas que a fizeram surgir desaparecem’. É o caso destes primeiros revestimentos cerâmicos, que observamos em vários prédios reformados ou construídos a partir da segunda metade do século 20”, destaca Maiolino.
Como ponto positivo no processo de valorização dos pisos antigos, Zeila destaca a busca crescente pela restauração dessas peças mesmo em espaços em que não se tem a obrigatoriedade legal para tanto, como em prédios tombados, por exemplo. “Mesmo em projetos novos, há um retorno do ladrilho e de outras peças antigas, valorizando uma arte tradicional e única.”