Arquitetura
Morre Lubomir Ficinski, um dos criadores da canaleta do “expresso” de Curitiba
O arquiteto e urbanista Lubomir Ficinski na canaleta da Av. Paraná. Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo | GAZETA
O arquiteto Lubomir Ficinski Dunin, um dos grandes nomes do urbanismo paranaense, faleceu na madrugada desta quinta-feira (29), aos 87 anos. Segundo informações da família, o profissional estava em tratamento quimioterápico para combater um câncer no pulmão e faleceu em casa, vítima de uma parada cardíaca. O velório será realizado no cemitério Parque Iguaçu, a partir das 17h desta quinta-feira (29). O sepultamento está previsto para esta sexta-feira (30), às 15h.
Ficinski deixa um importante legado à arquitetura e ao planejamento urbano de Curitiba e de todo o Paraná. Juntamente com os arquitetos Rafael Dely e Carlos Ceneviva, ele foi um dos criadores do sistema de transporte sobre as canaletas exclusivas com ônibus expresso, que fez de Curitiba modelo internacional quando o assunto é o transporte público.
A experiência dele no tema era tamanha que, em 2010, o arquiteto foi convidado pelo então prefeito Luciano Ducci para assumir a diretora de Transportes da Urbanização de Curitiba (Urbs), com a missão de modernizar o atual sistema de transporte da capital. Em outubro de 2011, no entanto, deixou o cargo, descontente com a lentidão da administração da capital.
Isso não significou seu afastamento em relação ao planejamento de Curitiba. Ativo, no auge de seus 87 anos, Ficinski aceitou o convite feito pelo atual prefeito Rafael Greca para integrar sua equipe, na função de conselheiro na área de planejamento urbano do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), que presidiu por duas vezes (de março de 1971 a maio de 1972 e de abril de 1975 a março de 1979). Até esta quarta-feira (28) ele cumpriu integralmente com a função.
“A atuação de Ficinski no Ippuc talvez seja a mais significativa de todo o seu trabalho. Ele foi uma das quatro pessoas que convenceram o então prefeito Ivo Arzua a fazer o plano preliminar de desenvolvimento urbano da cidade (de 1965), que levou à institucionalização do Ippuc e é o que a gente vive até hoje”, avalia Reginaldo Luiz Reinert, atual presidente do instituto.
Para ele, o arquiteto representava o pilar entre o início do processo de construção da Curitiba que temos e a esperança de que a cidade possa ser melhorada. “A grande frase do ‘Lubo’ referia-se à capacidade que as pessoas têm de se indignar com as condições adversas e tentar melhorá-las sempre”, lembra Reinert.
A Prefeitura de Curitiba decretou luto de três dias pela morte do arquiteto e urbanista. Em nota publicada no site da administração municipal, o prefeito Rafael Greca afirmou que Ficinski deixa um grande legado nas obras, “mas também de compromisso, caráter e retidão profissional”.
Obra
Além das canaletas de transporte, a obra de Ficinski está presente em outros cartões-postais curitibanos. Ele participou, por exemplo, do projeto de implantação do Parque Barigui e da Conectora 5 (uma das ligações entre a CIC e o Centro da cidade), como lembra o arquiteto Osvaldo Navaro Alves, que já presidiu o Ippuc e criou o Plano de Arborização da capital paranaense e a primeira lombada eletrônica de que se tem notícia.
“Ele foi o criador dos grandes terminais de transporte, como os do Pinheirinho e Santa Cândida, que valorizaram ainda mais o sistema de transporte”, frisa Navaro. “Também deu avanço a implantação da Conectora 5, com recursos do Banco Mundial [instituição da qual foi consultor]”, acrescenta.
Mais recentemente, já como conselheiro do Ippuc, Ficinski desenvolveu o projeto do Anel Metropolitano de Transporte, para a integração da capital com os municípios vizinhos, pela Linha Verde e os eixos estruturais.
No governo do estado, mais precisamente na gestão Jaime Lerner (1995-2003), Ficinski foi autor do programa Paranacidade, que tinha por objetivo apoiar o desenvolvimento dos municípios paranaenses.
“O Lubomir era uma pessoa extremamente competente e, principalmente, muito interessada em resolver os problemas urbanos de Curitiba e as questões do próprio estado”, resume o arquiteto Domingos Bongestabs, autor de projetos como a Ópera de Arame, a Universidade Livre do Meio Ambiente (Unilivre) e a Praça 29 de Março.