Arquitetura

Moinho desativado será primeiro prédio público sustentável de Curitiba

Stephanie D’Ornelas*
16/09/2019 10:45
Thumbnail

O local terá autossuficiência energética, conforto térmico, captação de água da chuva, aproveitamento da iluminação natural e pouca geração de resíduos no processo construtivo. As obras devem começar em 2020. Imagem: divulgação

O passado e o futuro se integram no Engenho da Inovação, antigo Moinho Rebouças. A edificação, erguida na década de 1930 como fábrica de farinha, abrigará o primeiro prédio público de Curitiba — e o segundo do Brasil — com certificação internacional de sustentabilidade. O projeto, desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), visa revitalizar um dos prédios do antigo complexo fabril dentro dos parâmetros do Certificado LEED (Leadership in Energy and Environmental Design, em português, Liderança em Energia e Design Ambiental), que reconhece construções verdes ao redor do mundo.
Após décadas sem uso, em 2006 o local se tornou sede da Fundação Cultural de Curitiba. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Após décadas sem uso, em 2006 o local se tornou sede da Fundação Cultural de Curitiba. Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo
Após décadas de desuso, o antigo moinho consolidou sua reocupação a partir de 2006, quando se tornou sede da Fundação Cultural de Curitiba (FCC). Desde 2017, ele é também o endereço da Agência Curitiba e coração do Vale do Pinhão, movimento desenvolvido pela Prefeitura para estimular a inovação na capital paranaense. Agora, o projeto do Ippuc dará vida nova a um prédio desocupado do complexo, apelidado de “Escher” em referência ao do artista gráfico holandês Maurits Cornelis Escher (1898-1972). O perfil do prédio produz efeito ótico que lembra os padrões geométricos do mestre ilusionista.
O projeto de revitalização do Escher prevê que o prédio tenha autossuficiência energética e que garanta conforto térmico, captação de água da chuva, aproveitamento da iluminação natural e pouca geração de resíduos no processo construtivo, requisitos importantes para conquistar a certificação internacional. “Almejamos que a edificação seja ‘Zero Energia’, com 100% de autonomia energética. O projeto prevê painéis fotovoltaicos e alto nível de iluminação natural, auxiliado pela própria arquitetura do local”, aponta a coordenadora de projetos do Ippuc, Célia Bim.
A expectativa é que a edificação atinja o selo Platinum, o maior grau de certificação LEED. Imagem: divulgação
A expectativa é que a edificação atinja o selo Platinum, o maior grau de certificação LEED. Imagem: divulgação
O projeto, que é conduzido pelos arquitetos Lisiane Soldateli Vidotto e Paulo França, será uma referência para o Ippuc, de acordo com Célia. “Estamos cada vez mais envolvidos com as questões de sustentabilidade. Além de almejar edificações que respeitem o meio ambiente, acreditamos que uma obra como essa melhora a qualidade de vida e a saúde das pessoas que estão usufruindo deste ambiente, porque elas vão ter melhores condições de trabalho em relação a ventilação, conforto térmico, iluminação”, diz a coordenadora.
A expectativa é que a edificação atinja o selo Platinum, o maior grau de certificação LEED. “A pontuação mínima para este nível é 80 pontos. Pela simulação feita pela consultoria técnica, se o projeto for executado como o planejado poderemos atingir 86”, afirma Célia. As outras categorias LEED são Ouro (pontuação de 60 a 79), Prata (50 a 59 pontos) e Certificado (40-49).
Imagem: divulgação
Imagem: divulgação
O primeiro e único prédio público brasileiro com certificação LEED até agora é a Creche Hassis, em Florianópolis. A edificação sustentável tem certificação Platinum e é autossuficiente em eletricidade, que é gerada por meio de energia fotovoltaica. Além disso, a construção tem aquecimento de água por meio de energia solar, aproveitamento da água da chuva e madeira certificada.

Espaço para a inovação

O projeto do novo Escher possibilita espaço de sobra para a inovação. A estrutura de 2.179 m², distribuídos em cinco pavimentos e um terraço, terá ambientes para coworking público, fab labs e startups, com capacidade para abrigar 170 postos de trabalho. Haverá também um auditório com 70 lugares, além de duas salas para eventos e exposições. “Queremos que este espaço seja consumido pelas universidades, startups e outras iniciativas da cidade como um agregador do ecossistema de inovação de Curitiba”, afirma a presidente da Agência Curitiba de Desenvolvimento, Cris Alessi.
Atual estágio do complexo. Foto: Henry Milleo/Arquivo Gazeta do Povo
Atual estágio do complexo. Foto: Henry Milleo/Arquivo Gazeta do Povo
A edificação, que é uma Unidade de Interesse de Preservação (UIP), terá as características fabris externas preservadas. Na parte interna, os pavimentos receberão uma base metálica para garantir a segurança e estabilidade do edifício. Será feita uma abertura na laje da cobertura e em todos os pavimentos para a entrada de luz natural e para a visualização do espaço como um todo.
Imagem: divulgação
Imagem: divulgação

Obra para 2020

No dia 22 de agosto, o Ippuc publicou edital de licitação no valor de R$ 913.911,61 para a contratação dos projetos para a nova ala do Engenho da Inovação. De acordo com informações divulgadas pela Prefeitura de Curitiba, a licitação é dividida em dois lotes: um deles, com valor global de R$ 254.616,67, é voltado para a contratação de empresa para elaboração de serviços de Consultoria Técnica de Sustentabilidade, enquanto o outro, de R$ 659.294,94, será destinado para os Projetos e Serviços de Engenharia e Arquitetura de restauro do espaço. A estimativa é que a obra comece em 2020.

LEIA MAIS

*especial para Gazeta do Povo