Arquitetura

Mobilização popular quer reativar biblioteca abandonada em Curitiba

Marina Mori*
14/05/2017 17:30
Thumbnail

Casa de Leitura Franco Giglio, no Bigorrilho está fechada desde janeiro de 2011. Ativistas querem recuperá-la e reabri-la. A foto é de 2014. Foto: Antonio More / Gazeta do Povo | Antônio More / Agência de Notícias Gazeta do Povo

Não é de hoje que a situação de abandono da Casa de leitura Franco Giglio, no Bigorrilho, incomoda os moradores da região. Mas, no último sábado (13) um piquenique literário deu mais um passo no sentido de reativá-la e devolvê-la para a sociedade.
Encontro reuniu moradores da região e de outros bairros para mobilização em prol da reabertura da Casa de Leitura Franco Giglio.<br>Foto: Marina Mori / Especial para a Gazeta do Povo
Encontro reuniu moradores da região e de outros bairros para mobilização em prol da reabertura da Casa de Leitura Franco Giglio.<br>Foto: Marina Mori / Especial para a Gazeta do Povo
O movimento comunitário “Volta Biblioteca Franco Giglio” se reuniu, pela segunda vez, em parceria com o grupo Urban Sketchers, de croquis urbanos, no quintal da Casa de Leitura, que funcionou durante quase 30 anos na Rua Jerônimo Durski, 1.039.
Reprodução da nota oficial da Fundação Cultural de Curitiba quando do fechamento da Casa de Leitura em 2011.<br>Foto: Reprodução.
Reprodução da nota oficial da Fundação Cultural de Curitiba quando do fechamento da Casa de Leitura em 2011.<br>Foto: Reprodução.
Quando foi fechada há seis anos, em 25 de janeiro de 2011, a Fundação Cultural de Curitiba informou, em nota, que a biblioteca passaria por reformas e, por isso, permaneceria temporariamente fechada.
Painel raro de Franco Giglio poderá ser demolido junto com casa na região metropolitana de Curitiba.<br>Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo
Painel raro de Franco Giglio poderá ser demolido junto com casa na região metropolitana de Curitiba.<br>Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo
Desde então as portas da casa amarela não abriram novamente. A reforma nunca foi realizada e, hoje, a construção está abandonada. O movimento da comunidade começou quando descobriram que obras raras do muralista italiano Franco Giglio (1937-1982) correm o risco de serem destruídas. Conforme informou a HAUS em matéria publicada no dia 03 de maio, cerca de 18 m² de painéis de cerâmica foram identificados no interior de uma casa, em Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. O imóvel, comprado por uma construtora, será demolido para se tornar um edifício na região.

Mobilização

Entre as iniciativas do grupo está a articulação com a Fundação Cultural de Curitiba FCC) e, segundo Struck, as previsões são positivas. “Fomos bem recebidos e pretendemos criar condições para que aqueles painéis venham para cá. Por isso, estamos tentando dar visibilidade à causa para que apareça o apoio”, afirma o ativista Mathieu Struck, que também faz parte do movimento “Salvemos o Bosque Gomm”.
Grupo de croquis urbanos aproveitou a ocasião para retratar a  Casa de Leitura Franco Giglio. Foto: Marina Mori / Especial para a Gazeta do Povo
Grupo de croquis urbanos aproveitou a ocasião para retratar a Casa de Leitura Franco Giglio. Foto: Marina Mori / Especial para a Gazeta do Povo
A ideia do grupo é realocar as obras para a biblioteca, resgatando, assim, o legado artístico de Giglio, figura importante para a arte e arquitetura do Paraná. “Este foi o fio condutor do movimento. A partir daí, criamos uma página no Facebook, a ‘Volta Biblioteca Franco Giglio’, que em menos de 10 dias já conta com mais de 600 curtidas”, diz.
“Estamos promovendo o envolvimento da comunidade para que a ocupação da biblioteca seja sustentável. Uma forma de isso acontecer é criar um cronograma de cursos e palestras que as pessoas participem ativamente”, explica.

Fã de carteirinha

Assim que a Biblioteca Franco Giglio abriu, em 12 de outubro de 1982, o espaço ganhou uma visitante assídua, que morava a poucos passos dali. Desde criança, antes de se tornar jornalista e psicopedagoga, Carolina Caldas é uma leitora.
Promessa de recuperação da Casa de Leitura vem desde 2011. Foto: Marina Mori / Especial para a Gazeta do Povo.
Promessa de recuperação da Casa de Leitura vem desde 2011. Foto: Marina Mori / Especial para a Gazeta do Povo.
Aos oito anos de idade, foi a segunda pessoa a se cadastrar na biblioteca, logo depois de sua irmã. Passava dias inteiros entre os livros, tinha aulas de história da arte, flauta e se divertia com as crianças do bairro no espaço.
Hoje, com 41 anos, luta pela reabertura da biblioteca para poder ver sua filha, Manoela, de 5 anos, aproveitar o  local que foi tão importante para a formação dela. “Lembro até hoje do gosto de terminar um livro para pegar outro em seguida, por isso quero que ela tenha o mesmo carinho pela leitura que eu tive”, diz.

Juntos pela causa

A psicóloga Helen Cerqueira Leite Pimentel, 56, mora do outro lado da cidade, no Pilarzinho, e mesmo assim faz parte do movimento pois acredita na cooperação entre os cidadãos. “Não é a biblioteca mais próxima, mas acho que a gente precisa fazer para outras pessoas, não necessariamente para o nosso próprio uso”, diz. Ela também participou dos movimentos de revitalização do Bosque Gomm, nos fundos do shopping Pátio Batel.
Outro ativista é o empresário Samuel Lago, 50. “Não dá para ficar reclamando atrás do teclado. A importância de reabrir um espaço como esse é fundamental, porque a vida tem que acontecer nos bairros”, conclui.
*Especial para a HAUS