Entrevista

Arquitetura

Marina Nessi relembra os 30 anos de CASACOR PR e fala sobre a evolução da arquitetura nas últimas 3 décadas

Sharon Abdalla
Sharon Abdalla
02/07/2024 18:23
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Piscina, um dos ambientes externos da CASACOR PR 2024, por Wolfgang Schlögel | Eduardo Macarios

A CASACOR PR entra neste dia 4 de julho em seu primeiro mês de exposição com resultados expressivos. Até o último dia 24 de junho, o número de visitantes já era 15% superior ao da edição 2024. Não bastasse isso, os 34 ambientes desta 30ª edição da mostra têm recebido elogios da mídia especializada e por parte de quem visita os espaços para se divertir em família ou buscar inspiração para a obra ou reforma que deseja realizar em casa.
Eles fazem jus ao trabalho, ousadia e inovação propostos pelos profissionais que integram o elenco da edição 2024 da mostra, mas também, e principalmente, ao empenho e dedicação de Marina Nessi, franqueada da CASACOR no Paraná, que há 30 anos acompanha de perto todos os detalhes que fazem da edição curitibana um sucesso.
Prova disso é a quantidade de acenos e reverências que recebeu durante a uma hora em que recebeu a equipe de HAUS na CASACOR PR para esta entrevista. Sentada ao ar livre, ela comentou sobre a volta da exposição para um endereço residencial e relembrou sua trajetória com a marca, que nasce de um drama familiar e ilustra a coragem de uma mulher que, assim como muitas, enfrentou dificuldades para criar os filhos e se posicionar no mundo dos negócios. Confira na íntegra!
Marina Nessi está há 30 anos à frente da CASACOR PR | Daniel Assal
Marina Nessi está há 30 anos à frente da CASACOR PR | Daniel Assal

HAUS - Quais foram as motivações para o retorno da mostra para um endereço residencial?

Marina Nessi: A CASACOR tem como missão a valorização dos profissionais de arquitetura e decoração. E para isso acontecer, a gente faz um evento. E esse evento, para ser interessante para o público, sempre foi dentro das regras básicas do negócio de, a cada ano, ir para um espaço inovador. Na nossa história estivemos no Castelo do Batel, no Moinho Paranaense, no Asilo São Vicente, no Clube Concórdia, […]. Tivemos passagem por inúmeros imóveis e residências também. 30 anos é muito tempo!
Também buscamos imóveis industriais, imóveis esquecidos. Houve um ano em que ocupamos o prédio dos arcos, na Comendador Araújo [Curitiba/PR]. E, no momento da pandemia, ocupávamos a antiga academia, o Aquacenter […], que era um imóvel fabuloso, com muito potencial, com espaços muito grandes - tem 6.500 metros. Optamos por ficar por três anos naquele espaço que nos serviu muito bem, pois durante esses anos fizemos diferentes interpretações de arquitetura e decoração num mesmo espaço. Se pôde medir ali a capacidade dos nossos profissionais.
Passado isso, os nossos próprios arquitetos e decoradores, assim como o público, manifestaram a expectativa sobre a volta para uma casa. E eu tenho um carinho muito grande pelo Batel, moro aqui, a primeira CASACOR foi aqui no Batel. O anseio de voltar para uma casa foi uma solicitação do mercado e veio bem a calhar. Escolhemos muito bem a casa! Estamos [no primeiro mês] do evento e só ouvimos elogios. A dobradinha casa e Batel [está sendo] uma dobradinha vencedora.
[…] A casa tem um astral muito grande, mas também sempre tivemos a consciência de que ela era uma casa, digamos assim, um pouco pequena para os padrões da CASACOR. […] Nós propusemos isso e, para a nossa surpresa, nossos arquitetos adoraram a ideia e nos surpreenderam com essas casas magníficas. A soma disso tudo está fazendo uma CASACOR esplendorosa.

HAUS - Sobre as diferenças da mostra deste ano em relação às anteriores, a mudança de metragem quadrada é o único ponto a ser destacado ou há outros?

MN: Não é o único ponto. Como se trata de uma casa, ela tem um sentido lógico no percurso. A gente está contando uma história de como se poderia viver nessa casa. Mantivemos os ambientes [com suas funções]: o hall de entrada é o hall de entrada, o lavabo é o lavabo, o living é o living, a sala da lareira manteve-se como sala da lareira. Claro que é uma interpretação completamente diferente. A gente percebe que essa era uma casa muito fina, que tinha requinte mas que, naturalmente, passados 40 anos, precisava de certa reciclagem. Então, era uma casa muito, muito interessante, com uma piscina linda, que foi toda reformada. A área do lounge era a churrasqueira da casa onde, no primeiro domingo [da mostra], aconteceu uma cena muito linda. A antiga moradora veio com os filhos, os netos e eles almoçaram na antiga churrasqueira. Foi algo bem bonito!

HAUS: Vamos entrar um pouco na história. Quero voltar na Marina de 30 anos atrás para que a senhora nos conte o que a motivou a ser uma franqueada da CASACOR.

MN: A motivação passa por um drama familiar. Eu nem falo muito [sobre isso], mas acho que esse é o momento de falar. Eu, com 31 anos, fui abandonada pelo marido com três crianças. Foi uma virada de vida, né? Eu era uma princesa que casou com um cara pensando num casamento maravilhoso. O marido era médico, tínhamos três criancinhas e, de repente, ele diz: “tchau, querida, saturei”. E aí a vida muda totalmente. Primeiro, chorei por dez anos. Eu era professora e precisei de tratamento psiquiátrico para reagir e para buscar um novo motivo para viver, pois eu tinha três crianças pelas quais eu tinha que viver, né? A pessoa que não podia perder a capacidade de pensar era eu. Então, de professora, migrei para a oportunidade de ser sócia de uma prima que tinha a primeira loja de revestimento de interiores de Porto Alegre [RS]. Lá vendia-se tapetes, tecidos, papel de parede, tecido para cortina, tecido para colcha, e eu não sabia nada de decoração. Mas eu tinha sido professora, tinha sido diretora de escola e, de repente, assumi essa parte administrativa da loja. Quando o marido dela foi transferido para o Rio de Janeiro, eu fiquei com a loja para mim. E fui muito bem sucedida no meu trabalho lá.
E aí, num determinado momento, eu acho que foi no ano de 1987, me tornei representante do tapete Avanti, que era um tapete finíssimo. A fábrica ficava no Rio de Janeiro e o dono percebeu o que era a CASACOR, que começava a acontecer em São Paulo. Desde o ano de 1987, quando teve a primeira edição, ele foi o patrocinador. Como eu era representante do Avanti, fiquei encarregada de levar arquitetos do Rio Grande do Sul para visitar a mostra. A primeira pessoa que falou em CASACOR no Rio Grande do Sul fui eu, pois era uma tarefa minha, com a minha franquia.
Depois, quando a CASACOR começou a enxergar que tinha que expandir e fez a primeira franquia (naquela época a gente não chamava de franquia), […] eles me chamaram e eu abracei a CASACOR. Mas houve um fato antes. Cerca de dois anos antes, os profissionais de decoração do Rio Grando do Sul acharam que tínhamos que fazer algo em Porto Alegre, e eu e um grupo de lojistas e decoradores criamos um evento, o Salão Gaúcho de Decoração. […] Eu sempre fui a cabeça disso, com muita coragem, mas sem perceber até onde a coisa iria acontecer. Eu cheguei a fazer quatro edições do Salão Gaúcho de Decoração. E, em 1992, aconteceu a primeira CASACOR em Porto Alegre. Quando eu fui assinar o contrato de franquia, tive o grande insight da minha vida e disse: eu assino, mas quero a região Sul, quero o Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. E elas disseram: “ok!” Eu não conhecia nada, Curitiba era um lugar de passagem[…] não conhecia nada daqui, mas elas concordaram.
Eu fiquei 13 anos indo e vindo, indo e vindo, vivia nessa ponte aérea. Fazia [a CASACOR] no Rio Grande do Sul e fazia aqui. E, nesse meio tempo, fiz também as duas primeiras em Santa Catarina. Depois entregamos esta franquia e fiquei com a do Rio Grande do Sul e do Paraná.
Quando decidi mudar para Curitiba [e ficar com a mostra daqui] meu negócio [cresceu]. Os curitibanos precisavam me ver como alguém daqui. Isso foi uma coisa incrível. Foi uma decisão difícil também, mas que precisava ser tomada. Eu vim, e depois conquistei o título de Cidadã Honorária de Curitiba.

HAUS: Em todos esses anos de CASACOR não foi só a amostra que evoluiu. Nós também podemos falar de uma evolução da própria arquitetura e design de interiores. E a senhora vivenciou isso de perto e a partir de diversos olhares, de um elenco sempre formado por dezenas de profissionais. Qual é o arco de evolução que traça neste sentido?

MN: A CASACOR trouxe a cultura das revistas de decoração. As vitrines decoradas, os apartamentos decorados, essa fórmula de vender os empreendimentos, tudo isso é cria da CASACOR. A CASACOR criou essa cultura e, paralelamente a isso, o mercado evoluiu. Quando eu vim para cá, Curitiba começava a se tornar uma cidade cosmopolita. Hoje, ela é essa cidade, você encontra aqui tudo o que tem no mundo.
Naquela época em que a CASACOR começou, o tema decoração era uma coisa muito elitizada. Essa evolução aconteceu. Outra que vejo na sequência disso é o aprimoramento de toda a cadeia produtiva por trás da CASACOR, essa mão de obra especializada. São 1 mil pessoas que trabalham para montar um evento como esse aqui, considerando o dono da empresa, o funcionário, o cara do marketing. Cada empresa que está aqui dentro tem um grupo, um time muito grande. Cada arquiteto tem um time também. Nós temos 34 ambientes. No mínimo, 30 pessoas trabalharam em cada um desses ambientes.
Hoje, você ao médico, ao dentista, não adianta o profissional ter somente o título pendurado na parede. A arquitetura e a decoração do consultório têm que estar de acordo com o nível do profissional. Então, houve crescimento até nesse mercado. E disso eu nunca esqueço: muitos anos atrás fui a Porto Alegre, no meu médico, e notei que ele estava com consultório novo. E ele falou: “você é que é culpada, né, Marina? Se eu não estiver atualizado, serei engolido pelo mercado, pelos meus próprios residentes”. Houve um aprimoramento em tudo. Se você vai num dentista, analisa o padrão do cara pelo consultório. Olha o movimento que existe nos escritórios, os showrooms das construtoras, estão todas transformadas quase em galerias de arte. Temos vários exemplos aqui. Isto é a evolução do mercado. E não estou dizendo que a CASACOR é a fonte número um [das mudanças], mas certamente ela foi a semente dessa qualificação.
Outra observação é a de que há no mercado as superespecializações também na arquitetura e na decoração. Se na medicina tem um cara que é especialista em mão, outro em joelho, na arquitetura temos os arquitetos que fazem a linha comercial, outros a residencial, outros a corporativa.

HAUS: Pode citar alguns nomes que estiveram com a senhora desde a primeira edição da CASACOR PR e que construíram um nome, uma carreira também por estarem aqui?

MN: O Eduardo Mourão, o Jayme Bernardo, a Yara Mendes… sem constrangimento nenhum, eu digo que são filhos diretos da CASACOR. Tem muitos arquitetos que começaram sua carreira, não sei se vão ficar magoados de eu citar, mas tem muita gente que está no mercado há 15, 20 anos, que começou na CASACOR com um pequeno banheirinho e, hoje, são grandes estrelas, porque a CASACOR também criou esse mercado. E em uma época em que não havia rede social, antes dos influencers, surgiram os arquitetos como estrelas. E os profissionais reconhecem isso, eu sinto essa reciprocidade. Então, para quem quer alavancar sua carreira, aqui é o lugar. O marketing direto é uma necessidade, a pessoa não pode cair fora da mídia, fora da vitrine, e a CASACOR é uma vitrine ao vivo e em cores.