Arquitetura
Madeira de antigo moinho vira estrutura para casa de campo moderna

De inspiração modernista, projeto utiliza módulos de madeira com formato assimétrico para dar sustentação à casa. Foto: Eduardo Macarios / Divulgação | Eduardo Macarios
A madeira da árvore que décadas atrás foi plantada na antiga Fazenda do Pinho, em Irati, foi usada para dar forma a um moinho no centro da cidade. Alguns anos depois, a mesma madeira retornou para a região de onde foi extraída para compor a estrutura de uma casa de campo projetada pela Canalli Arquitetura, de Fernando e Natalia Canalli, onde vive o casal Marcelo Vosnika, industrial, e a esposa Juliana Vosnika, diretora do Museu Oscar Niemeyer.

Quando a terceira geração da família Vosnika, proprietária da antiga fazenda, e agora Chácara do Pinho, decidiu substituir a estrutura do moinho por concreto armado, veio do arquiteto Fernando Canalli, a sugestão de que a madeira original fosse guardada para dar forma ao projeto da casa, que teria 350 m². Dos pisos ao teto, passando pela pelas vigas e pelas paredes, tudo foi erguido com o produto das árvores que ali cresceram. “Tínhamos tanta madeira que quis usar tudo e não perder nada, criar uma espécie de museu”, relembra Canalli.

Na cobertura, foram usadas telhas de barro, outro material natural, aproveitando peças já utilizadas em outras construções e reforçando o DNA ecológico e sustentável do projeto. “Os sulcos das telhas fazem com que sejam mimetizadas com a natureza, assumindo algumas texturas e manchas, tornando-se camuflável no ambiente”, diz Fernando.

A distribuição dos cômodos e da própria planta dentro da área do terreno foi pensada levando em consideração a posição em relação ao bosque e ao lago que integra a paisagem. “Quem desenhou a casa foi o sol, que nasce atrás do bosque, então incluímos um plano só, de cobertura inclinada, aberto para o sol nascente, e baixamos a parte de trás para aproveitar o sol da tarde”, explica o arquiteto.

Cheia de significados, a casa remete em sua arquitetura ao conceito de um rally off road, esporte do qual o morador é entusiasta, mas faz também referência a um importante estilo arquitetônico. “A construção foi feita a partir de um módulo padrão que remete a uma trave de futebol, mas com um formato diferente, inclinado, que lembra um carro de corrida quando acelera, movimento que faz com que a frente vá em direção ao chão e a traseira fique empinada. Ao mesmo tempo, o módulo é um elemento básico do modernismo, que permite repetir peças iguais. Então, é como se fossem dezenas de traves de futebol, lado a lado”.

Toda essa estrutura foi distribuída de forma otimizar os recursos naturais. A lateral mais alta recebe o sol da manhã, enquanto a mais baixa se protege contra o sol forte da tarde. “Quando o sol está quente, esquenta a parte baixa. Nestes dias, basta abrir as portas de vidro, no lado oposto, e imediatamente a casa refresca”.

Quando a própria estrutura da edificação assume o protagonismo da decoração, a mobília não precisa de muito para criar uma composição atraente. “A casa, por si só, já é uma obra de arte e de arquitetura. Compramos alguns móveis e alguns já tínhamos de família. Em determinado momento chamamos um profissional para apenas adequar o mobiliário existente e recém-adquirido”, explica Marcelo. Com peças de acervo pessoal, a decoração traz ares modernistas com a união do preto e do branco ao tom natural da madeira.

Na sala, prateleiras de madeira ostentam objetos pessoais, memórias e recordações, em um espaço onde um sofá preto com linhas retas reforça o estilo limpo e direto do espaço. Na cozinha, cadeiras da mesma cor são compostas com uma mesa branca, ao lado da parede de vidro que convida os moradores a olhar para fora e admirar a bela paisagem. “Utilizamos cadeiras tulipa Eero Saarinen na mesa de refeições e o tampo do mesmo designer para uma mesa de aperitivos na parte externa da casa, com vista para a piscina e lago”, diz o industrial.

Além destas, peças como as mesas laterais também são de design, como a Eileen Gray, que convivem com mesas de centro de toras de madeira, do próprio local, beneficiadas pelos próprios moradores. “tapetes vindos da Turquia, Índia e África, colchas e almofadas também são da Ásia e usamos algumas obras de arte de artistas como Paul Garfunkel”, detalha. Recordações de viagem e antiguidades de família completam a decoração.
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