Arquitetura
Roteiro inédito apresenta detalhes de 124 prédios da Curitiba dos primeiros arranha-céus
Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo/Arquivo | GAZETA
Mudar-se para um edifício até 1960 significava bem mais do que simplesmente morar nas alturas. Era se jogar no futuro, desfrutando de todas as inovações tecnológicas recentes que pareciam vindas de outro mundo. Para quem estava acostumado a viver em casarões insalubres sem água encanada e energia elétrica, ver a água jorrar da torneira, poder usar elevador ou ter uma sacada de onde dava para contar todas as oito igrejas de Curitiba era o pulo-do-gato, o ápice da modernidade.
Todo esse processo está documentado no livro “Morar nas alturas! A verticalização em Curitiba entre 1930 e 1960”, da arquiteta Elizabeth Amorim de Castro e da antropóloga Zulmara Clara Sauner Posse, que reúne um roteiro inédito de 124 edifícios da região central. A obra, que levou três anos para ficar pronta, foi lançada no último sábado (24). Quem não quiser adquirir o livro, que está à venda por R$ 80, pode acessar o conteúdo gratuitamente pelo site Memória Urbana, que também contém pesquisas anteriores das pesquisadoras.
O estudo analisou 30 anos de publicações diárias de todos os jornais da época que circulavam pela capital paranaense, o que inclui a Gazeta do Povo, e fez mais de 20 entrevistas com alguns dos moradores e construtores mais antigos da cidade. “Foi por meio de uma entrevista que descobrimos que a primeira galeria de Curitiba foi o Edifício Nossa Senhora da Luz, na Tiradentes, de 1940, que mais tarde foi fechada”, revela Zulmara. “Isso você não encontra em nenhum registro oficial.”
Curitiba era o Centro
A cidade precisava crescer, mas não havia espaço para além do Centro, onde estava surgindo toda a infraestrutura moderna aos longos dos limites da urbanização, que eram as regiões entre as praças Osório e Santos Andrade, Tiradentes e Carlos Gomes, e Zacarias e Rui Barbosa.
A primeira fase da verticalização acontece até 1944, na Boca Maldita, com edifícios mais baixos e com múltiplas moradias. “De forma marcante, temos o Palácio Avenida, que se destaca pelo número de atividades que abrigava, e o Garcez, que impressionou a cidade com seus oito pavimentos”, explica Elizabeth. Depois disso, acontece a consolidação do movimento com o surgimento de prédios exclusivamente comerciais, como é o caso do Eduardo VII e do Augusta, na Muricy. E que transformam definitivamente o Centro, pois agora as pessoas têm acesso facilitado a todos os serviços, sem precisar realizar grandes deslocamentos.
“Em um primeiro momento, esses edifícios surgem querendo imitar a casa com muitas áreas mal planejadas, com uma sucessão de salas que podem ser usadas de diversas maneiras, sem uma divisão clara de uso, e muitos corredores, que são uma perda de espaço total”, avalia a arquiteta.
A decaída do Centro começa em 1960, quando a noção de futuro e de espaço mudam novamente, e as pessoas começam a deixar suas moradias lá para ir para outros bairros. “O Centro se torna essencialmente comercial e vira um mundo fantasma. As pessoas apenas passam e utilizam o Centro, não o veem mais como sua casa”, atenta Zulmara.