Brutalismo no Água Verde
Arquitetura
Livro resgata história e arquitetura de edifícios icônicos do Clube Curitibano
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Pavilhão da piscina do Clube Curitibano, projetado pelo escritório Forte Gandolfi em 1969 é de autoria de Luiz Forte Netto, José Maria Gandolfi, Dilva Cândida Slomp Busarello, Orlando Busarello e Vicente de Castro | Modernidade concreta: a ousadia que mudou a história do Clube Curitibano/Reprodução
Duas das principais edificações do Clube Curitibano -- clube social da capital paranaense com 140 anos e cerca de 30 mil associados -- representam um capítulo importante da chamada arquitetura brutalista, vertente do movimento modernista brasileiro, que ganhou fôlego nas pranchetas a partir de São Paulo, nos anos de 1960.
Foi com o objetivo de resgatar e valorizar a história destas duas construções icônicas, localizadas na unidade do bairro Água Verde, que o Departamento de Cultura do clube convidou o arquiteto Fábio Domingos Batista e a historiadora Deborah Agulham Carvalho para escreverem o livro "Modernidade concreta: a ousadia que mudou a história do Clube Curitibano", que foi lançado em evento fechado na última quinta-feira (13).
A obra foi publicada pela Editora Grifo e terá venda exclusiva no Departamento de Cultura do Curitibano. Para não sócios, o livro pode ser adquirido a partir de 20 de outubro pelo telefone (41) 99680-0376.
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“A proposta do livro surgiu da necessidade de valorizar essa parte significativa da nossa história. Muitos associados não têm ideia da relevância dessas obras”, explica o diretor de Cultura do Clube Curitibano, Rafael Cini Perry, idealizador do projeto. “Estabelecido que faríamos o livro, iniciamos um amplo trabalho de pesquisa. Foram analisados mais de 40 anos de atas de reuniões e revistas do clube. Os pesquisadores também fizeram entrevistas com os arquitetos e as famílias e coletaram informações com associados.”
Arquitetura icônica
O Salão Social e o Pavilhão da Piscina, construídos na sede principal, no bairro Água Verde, foram concluídos no início dos anos 1970 e são considerados vanguarda na cena paranaense. Foram concebidos por profissionais renomados em um período em que a arquitetura começava a dar os primeiros passos em Curitiba. O curso de arquitetura na Universidade Federal do Paraná (UFPR) havia sido criado apenas poucos anos antes, em 1962, e uma efervescência juvenil atraiu profissionais de São Paulo e Rio de Janeiro.
"As edificações do Clube Curitibano são duas verdadeiras jóias da arquitetura curitibana e impressionam pela grande tecnologia embutida. Representam o desejo de Curitiba daquela época de se mostrar tecnológica, inovadora e moderna. O que chama atenção também é que eles não eram obras públicas”, observa o autor do livro, Fábio Domingos Batista.
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A história é contada do período que vai da década de 1920, quando foi adquirido o primeiro terreno no bairro Água Verde, até os anos 1970, quando as obras foram concluídas. “Na época, pensar a construção de uma sede do clube em um bairro distante do centro urbano foi uma iniciativa corajosa, pois previu, inclusive, a ampliação das atividades e a implementação de modalidades esportivas. O livro conta essa trajetória. Por exemplo, antes da construção do Salão de Festas e do Pavilhão da Piscina, a sede abrigou a Boite Encantada, a Casa do Bosque, quadras de tênis e o ginásio", conta Deborah.
Ousadia arquitetônica e construtiva
O projeto do Salão Azul foi elaborado em 1966 por Luiz Forte Netto, Vicente de Castro e os irmãos José Maria e Roberto Luiz Gandolfi. O edifício, de formato redondo e com uma cobertura que simula um guarda-chuva, se destaca pela ousadia arquitetônica e pelo desafio de engenharia.
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Ao longo das décadas, porém, as edificações foram submetidas a obras de reforma e ampliação que descaracterizaram muitos dos traços originais. "O livro é uma forma de recuperar a história do clube e sua evolução a partir destes edifícios que, na época, nasceram da vontade e necessidade de usar a sede do Água Verde para moldar um novo caminho, dando ênfase às atividades esportivas. E também mostrar a ousadia arquitetônica modernista", explica Rafael.
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Embora não exista um consenso entre os estudiosos, parte dos historiadores considera o brutalismo um estilo ou movimento que se difundiu em muitos países do mundo, como desdobramento da arquitetura modernista, entre os anos 1950 e 1970. O termo brutalismo seria uma derivação da expressão francesa betón brut, que significa concreto aparente. De fato, as características principais das construções brutalistas são a exaltação do concreto e a minimização das etapas construtivas.
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"O processo construtivo é simplificado: dentro de uma forma de madeira, se coloca a armadura de aço, se preenche com concreto e espera secar. Nada mais. O brutalismo é a materialidade do edifício vinculada ao concreto", explica Domingos. No Brasil, bons exemplos de edifícios brutalistas são o prédio da Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo (USP) e o Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro. Já em Curitiba, o brutalismo encontrou sua máxima expressão nas sedes do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná, no bairro Cabral, e da Paranaprevidência, no São Francisco, além da Casa Niclewicz, projetada pelo arquiteto curitibano João Batista Vilanova Artigas.
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SERVIÇO
"Modernidade concreta: a ousadia que mudou a história do Clube Curitibano"
Autoria de Fábio Domingos Batista e Deborah Agulham Carvalho
Editora Grifo, 2022.
Valor: R$ 100
Venda exclusiva no Departamento de Cultura do Curitibano. Para não sócios, entrar em contato pelo telefone (41) 99680-0376 a partir de 20/10