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Arquitetura
Lina Bo Bardi ganha nova biografia: como a italiana foi quem melhor interpretou o Brasil
Retrato da ítalo-brasileira Lina Bo Bardi no SESC Pompeia. | Bob Wolfenson/Cortesia Instituto Bardi
A arquiteta, designer, cenógrafa e artista italiana naturalizada brasileira Lina Bo Bardi (1914-1992) se tornou uma das principais intérpretes do Brasil para os brasileiros, e para o mundo. Mas como pode uma estrangeira ser capaz de enxergar tanto um país que não era seu? É esse o principal ponto da nova biografia sobre ela, que acaba de sair pelas mãos do crítico e ensaísta Francesco Perrotta-Bosch e pela editora Todavia.
Bastariam três projetos para que ela inscrevesse seu nome no panteão da arquitetura brasileira: o Masp e o Sesc Pompeia, ambos em São Paulo, e o Solar do Unhão, em Salvador. Mas sua trajetória vai muito além desses prédios icônicos. Ela se envolveu com teatro, cinema, deu aulas na universidade. Trazia na bagagem a formação erudita dos círculos letrados de Milão, mas não via hierarquia entre uma tela de Giorgio De Chirico e um brinquedo de madeira feito à mão nos rincões da Bahia.
Para Lina Bo Bardi, tudo poderia ser projetado, da arquitetura às páginas de revistas, de instituições culturais aos cardápios, dos acontecimentos às recordações. Tudo ela quis decidir — até mesmo seu país.
Lina tinha horror à oficialidade e aos ritos sociais da vida burguesa. Foi comunista, teve papel importante no combate ao regime militar, mas era também a senhora de uma majestosa casa modernista no Morumbi e esposa de Pietro Maria Bardi, o todo-poderoso escolhido por Assis Chateaubriand para criar e gerir o Museu de Arte de São Paulo.
Com base em pesquisa extensa, minucioso levantamento de fontes inéditas, calcado em dezenas de entrevistas, bibliografia brasileira e italiana, mas sobretudo narrado com leveza e numa estrutura temporal engenhosa, este livro leva ao limite as possibilidades do gênero biográfico. Como a obra de Lina, é denso, alegre e sedutor.