Arte urbana

Arquitetura

Leminski estampa novo mural em prédio no Centro de Curitiba

Vivian Faria, especial para HAUS
08/03/2023 18:47
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Quem passa diariamente pela esquina da rua XV de Novembro e a travessa Presidente Faria, que abriga a Estação Tubo Central, acompanha há cerca de um mês a transformação da empena cega do Edifício Marechal, que tem frente para a Av. Marechal Deodoro, em um enorme mural que estampa o rosto do escritor e poeta Paulo Leminski. A obra, que motiva uma campanha de arrecadação de fundos para sua finalização, fica a cerca de 300 metros do antigo mural “Jack Bobão”, apagado no fim de 2022, devido à recorrência de notificações e multas recebidas da Secretaria Municipal de Urbanismo.
O novo mural é de autoria do artista Gardpam, que há dez anos se dedica ao grafite e há cerca de três decidiu homenagear importantes nomes da cultura paranaense – Paulo Leminski, Helena Kolody e Poty Lazzarotto – em pinturas de grande escala na lateral de prédios. “Desenvolvi a ideia, me inscrevi num edital do Mecenato, da Fundação Cultural de Curitiba, e consegui autorização dos edifícios. No fim, não passei no edital, mas como já tinha a autorização, resolvi ir atrás para fazer pelo menos um deles”, conta.
Com materiais doados e algumas economias para os andaimes de balanço, Gardpam partiu para a pintura em fevereiro de 2022. Poucos dias depois, a obra foi embargada. “Pintei três ou quatro dias e a prefeitura embargou. Eu não sabia, mas precisava de um alvará para pintar”, relembra. “Então, entrei com o processo e, agora em fevereiro, saiu a autorização para eu poder fazer a obra, só que isso me pegou um pouco no susto na questão financeira”.

Campanha

Ao retornar ao trabalho, Gardpam decidiu promover a campanha para arrecadar fundos para garantir a finalização do mural. “Se eu contar todos os gastos, inclusive a mão de obra, o mural custaria entre R$ 40 e R$ 50 mil, que foi o valor do projeto que apresentei ao Mecenato”, diz Garpam. Contudo, com a doação de materiais e os custos já arcados pelo artista, hoje ele estima que vai precisar de R$ 10 a R$ 15 mil para manter o aluguel dos andaimes até o fim do trabalho e ainda aplicar uma camada de verniz sobre a pintura.
“Até agora já consegui quase metade do valor. Alguns amigos fizeram vaquinha, outros estão fazendo rifa, uma empresa doou bolsas que estou vendendo nas redes sociais. O problema é que está uma época muito chuvosa e difícil de pintar, o que está atrasando o trabalho”, avalia.
Porém, se a mobilização continuar e a chuva der uma trégua, o mural de aproximadamente 70 metros de altura por 15 metros de largura será finalizado até o fim de março. A previsão mais otimista é para o meio do mês.
Quando estiver pronto, Gardpam espera que o mural ajude a valorizar a cultura local e a tirar as pessoas do “piloto automático” para que estejam mais presentes no mundo. “Cada vez mais, as pessoas ficam na frente de telas e acabam não olhando ao seu redor. E cada vez mais temos um tempo muito limitado, muitas tarefas para fazer. Precisamos de um tempo para refletir e admirar – e uma arte como essa provoca uma mudança na nossa rotina, nos faz olhar para algo diferente e sentir algo diferente”.
Embora ainda não saiba se a execução será possível, Gardpam também tem autorização de um edifício que fica junto à Praça Generoso Marques para fazer o segundo mural da série.