Arquitetura

Orla do Guaíba, em Porto Alegre, é revitalizada com projeto assinado por Jaime Lerner

Sharon Abdalla
Sharon Abdalla
04/07/2018 12:35
Thumbnail

Primeira fase da revitalização da orla foi concluída em junho de 2018. Foto: Omar Freitas/Agência RBS | Zero Hora

Sair de casa em um domingo ensolarado para conhecer o mais novo parque da cidade, projetado por ninguém menos do que o arquiteto Jaime Lerner. A cena, extremamente familiar aos curitibanos, que tiveram no ex-prefeito o nome à frente dos parques que deram a cara da Curitiba do cartão-postal nos anos 1990 – e pela qual ela é reconhecida até hoje -, foi vivenciada por milhares de porto-alegrenses que visitaram o Parque da Orla do Guaíba, na capital gaúcha, no fim do mês de junho.
Inaugurado oficialmente na sexta-feira (29), o parque teve a primeira etapa de sua revitalização entregue à população com DNA 100% curitibano. Isso porque seu projeto arquitetônico e paisagístico leva a assinatura do escritório Jaime Lerner Arquitetos Associados (JLAA), enquanto o de desenvolvimento ficou a cargo da também curitibana Grifo Arquitetura.
Foto: Omar Freitas/Agência RBS
Foto: Omar Freitas/Agência RBS
“Tivemos neste projeto a colaboração dos melhores profissionais do país. Tanto a prefeitura [de Porto Alegre] quanto os executores da obra [o consórcio Orla Mais Alegre, também da capital gaúcha] tiveram uma atuação muito responsável, que resultou em uma obra desta qualidade, pela qual sou muito grato e estou muito feliz. Mas o DNA é nosso”, avalia o arquiteto Jaime Lerner, em entrevista exclusiva para HAUS.

O projeto

O convite para que o escritório fosse o responsável pela revitalização da orla do Guaíba, cartão-postal de Porto Alegre, partiu do ex-prefeito José Fortunati no final de 2011, como conta Fernando Canalli, sócio do JLAA e responsável pela coordenação do projeto e acompanhamento das obras. Os trabalhos tiveram início já no começo do ano seguinte.
“O principal desafio foi a resistência que tivemos sobre a decisão da prefeitura em nos contratar por notório saber, uma vez que muitos queriam a realização de um concurso [de arquitetura]. Mas também foi uma motivação para nós [poder devolver] a paisagem do Guaíba ao povo de Porto Alegre”, destaca Lerner.
Para isso, o projeto teve como premissa deixar livre a vista para o lago e para o seu famoso pôr do sol, patrimônio porto-alegrense. Assim, todos os equipamentos que integram os 1,3 quilômetros de extensão desta primeira fase do Parque da Orla do Guaíba foram instalados abaixo do nível do calçadão que margeia a avenida Edvaldo Pereira Paiva, conhecida como Beira Rio. Entram nesta lista os quatro bares (com capacidade de atendimento de 500 clientes simultaneamente cada), cujas lajes funcionam como mirantes.
LEIA MAIS
“Este primeiro trecho entregue é dedicado ao passeio, à contemplação. Então, conectando os bares estão as arquibancadas contínuas em concreto, que servem justamente para que as pessoas possam se sentar e apreciar o espetáculo natural do pôr do sol”, acrescenta Canalli.
Quando o astro se põe, o destaque se volta para o “Chão de Estrelas”, solução proporcionada por uma faixa de 300 metros lineares de pontos luminosos concretados junto ao piso. O resultado é um efeito cênico poético e único.

Ponto focal

A contemplação da paisagem está presente, também, em outros elementos que integram o projeto desenvolvido pela equipe comandada pelo arquiteto Jaime Lerner. O restaurante panorâmico para 280 lugares, instalado próximo ao Centro Cultural Usina do Gasômetro, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Rio Grande do Sul (Iphae), traz piso, teto e vedações em vidro, proporcionando uma vista de 360º do lago e da cidade.
“Batizei o restaurante de “Quase meia-noite”. Queria que ele fosse um lugar no qual as pessoas que queiram se encontrar no parque o possam fazer com facilidade. Então, o nome [inusitado] nasceu dessa intenção de facilitar os encontros”, explica Lerner.
As alças da passarela, que se prolongam sobre as águas do Guaíba, estendem a orla e potencializam o desfrute da paisagem, da mesma forma como ocorre com a praça de madeira, que tem 4 mil m² de área e também repousa sobre o lago. “É uma obra que não repete os calçadões que existem em todas as frentes para a água no nosso país”, acrescenta o arquiteto e ex-prefeito.
Os postes inclinados, que potencializam a área iluminada pelas luzes de LED, garantem a segurança da área, que ganha reforço com o módulo da guarda municipal e o monitoramento por câmeras de todo o perímetro do parque. Duas quadras poliesportivas, vestiários, ciclovia, parque infantil, academia ao ar livre e 20 espaços destinados ao comércio ambulante completam esta primeira etapa do projeto. O custo estimado da primeira etapa das obras foi de R$ 71 milhões, cerca de R$ 11,7 milhões acima do estimado.
Para a segunda fase, ainda sem data para o  início das obras, está prevista a requalificação de mais 2,5 quilômetros de extensão da orla que, segundo Canalli, será dedicada exclusivamente aos esportes.
“Ela contará com quadras para a prática de diversas modalidades, como futebol society, vôlei e basquete, e tem prevista a construção da maior pista de skate da América Latina, com 7 mil m² dedicados a todas as modalidades do esporte. A pista, inclusive, estará capacitada para receber eventos internacionais”, destaca.
Outro ponto que merece atenção, na opinião de Lerner e Canalli, é o fato de o projeto ter sido iniciado pela antiga gestão de Porto Alegre e finalizada pelo atual prefeito do município, algo raro de se ver em terras brasileiras. “É mais um grande exemplo [que esta obra] dá para o país”, resume Lerner.

LEIA TAMBÉM