Arquitetura
“Belvedere não estaria destruído se tivessem permitido uma reforma”, desabafa presidente da APL
Foto: Facebook/Reprodução
O incêndio que atingiu o Palácio Belvedere na última quarta-feira (6), a construção mais emblemática do art nouveau em Curitiba, despertou um jogo de empurra-empurra na busca por culpados.
Para o advogado Ernani Buchmann, que preside a Academia Paranaense de Letras (APL), instituição que detém a concessão do espaço desde 2015, o “Belvedere não estaria destruído se tivessem permitido uma reforma”, desabafa. “O patrimônio do estado exigiu a restauração plena do prédio para sua ocupação, mas o Sesc [que instalaria um café escola no local] não tinha como fazer. Se tivessem aceito o projeto de reforma, teria ocupação agora, e não destruição. Seria melhor reformado, do que aguardando restauração e abandono.”
O prédio, construído em 1915 para ser o mirante mais famoso da cidade, foi tombado pelo Patrimônio Histórico do Estado do Paraná em 1966. Em 2016 também ganhou status de Unidade de Interesse Especial de Preservação (Uiep). Mas há três anos está fechado, em decorrência de diversas negociações.
O prefeito Rafael Greca (PMN) foi na mesma toada nas redes sociais, destacando a lentidão da burocracia do governo do estado: “Repetidas vezes este ano me ocupei do assunto travado por odiosa burocracia. O projeto do Ippuc só não foi licitado porque aguarda liberação da Divisão do Patrimônio Histórico do Paraná. As chamas não nos derrotarão. Nem a burocracia.”
Em resposta às críticas, a Coordenação do Patrimônio Cultural (CPC) esclarece por meio de nota que aprovou em 18 de março de 2015 o projeto de restauração integral do edifício. “Em 14 de novembro deste ano foi solicitada uma nova análise e parecer do projeto pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), que elaborou atualizações nos projetos e orçamentos da restauração do prédio. O parecer favorável foi emitido dois dias depois, em 16 de novembro de 2017”, explica a CPC.
A instituição do governo do Paraná lembra ainda que em “16 de outubro deste ano a CPC realizou vistoria técnica ao Belvedere e constatou que o imóvel estava aberto e ocupado por pessoas em situação de rua, com várias marcas de vandalismo, e alertou a APL sobre a situação”.
Segundo o presidente da APL, o local estava lacrado pela prefeitura e há cerca de 20 dias já não abrigava mais nenhum morador de rua.
Procurado pela reportagem, o engenheiro civil Sergio Krieger, que encabeça a CPC, foi diplomático e lamentou o ocorrido, sem tecer comentários sobre as críticas. “Nos colocamos solidariamente e tecnicamente ao lado da prefeitura para resolver o problema rapidamente.”
Rosina Parchen, ex-chefe da CPC, que se dedica há décadas ao patrimônio, reforça que o projeto de restauração do Belvedere foi aprovado há muito tempo, em 2015. “Em fins de 2016 ainda não havia recurso viabilizado para a intervenção”, explica. “A Fecomércio queria fazer só a obra do pavimento térreo para instalar o café. Só que para essa obra cujo projeto já estava aprovado seria necessário cuidar da cobertura, pois nada funciona chovendo dentro.”
“Logo, o presidente da APL dizer que foi exigido restauro e não só a reforma para o café é no mínimo insensato, pois como se usaria o prédio parcialmente, investindo-se perto de R$ 400 mil para o café do Sesc chovendo em cima?”
Novo restauro
A Prefeitura de Curitiba confirmou que vai manter o projeto de restauro criado para o prédio. Em julho deste ano, R$ 1.073 milhão já havia sido liberado para a restauração. Perícias técnicas ainda terão que avaliar os custos adicionais para a recuperação da edificação. Porém, a CPC adianta que, em vistoria técnica realizada nesta quinta-feira (7), apenas o telhado sofreu danos mais sérios, sem comprometer a estrutura. O Patrimônio Estadual também informa que até final de janeiro essas novas informações já estarão disponíveis.