Em um intervalo de poucos dias, a população de Curitiba ganhou ao menos dois equipamentos urbanos para usufruir. Ao norte da região central, no Alto da Glória, foi inaugurada a escadaria no Jardinete Engenheiro Raul Iwersen, que liga a Av. João Gualberto à Rua Ivo Leão, passando sobre a Rua Comendador Fontana. Ao sul, no Prado Velho, houve a inauguração de uma praça de dois mil metros quadrados próxima ao campus da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

Efetivamente, a escadaria já existia, mas passou por requalificação financiada pela construtora Hugo Peretti, que em breve vai entregar um empreendimento a poucos metros dali, o Weiss de Castilho. A praça, por sua vez, é iniciativa das incorporadoras Altma e Hiex e ocupa um terreno que vai abrigar um futuro lançamento imobiliário das empresas, previsto para ser apresentado em dezembro.

Ambas representam práticas cada vez mais comuns que vêm sendo chamadas de “gentilezas urbanas”: ações – temporárias ou perenes – de empresas da iniciativa privada, principalmente aquelas cujas atividades acarretam impactos mais imediatos para a cidade e seu dia a dia, como construtoras e incorporadoras, que trazem melhorias para as regiões onde elas atuam.

Um dos objetivos das gentilezas urbanas é mitigar os efeitos negativos da atividade da construção civil. “Sabemos que, durante o período de construção, quem está no entorno tem que lidar com caminhões, barulho, poeira etc. Então, temos que fazer a nossa parte para que os incômodos que geramos sejam atenuados”, afirma Hugo Peretti Neto, diretor da construtora de mesmo nome.

Isso contribui, de acordo com a diretora de incorporação e novos negócios da Piemonte Construtora, Silvia Soares, para uma relação mais saudável com a vizinhança. “Temos que olhar para isso como o começo de uma história legal com os vizinhos, uma história que desenhamos juntos”, diz.

Para que a iniciativa tenha sucesso, é preciso avaliar as necessidades da região e o comportamento de moradores e frequentadores e identificar o que pode ser feito para melhorar a qualidade de vida ali. “Nós vamos entregar uma pracinha na Rua Paulo Gorski e transformar a loja que temos ali em um restaurante de comida israelense”, conta o CEO da AG7, Alfredo Gulin Neto. A proposta veio da percepção de que o Ecoville, onde a incorporadora está construindo o AGE360, ainda oferece poucos serviços aos moradores.

No caso da escadaria do Alto da Glória, detectou-se a necessidade de revitalizar o local, deixando-o mais iluminado e equipando-o adequadamente para a travessia com segurança.

Há outro aspecto a que as empresas associam a incorporação das "gentilezas urbanas" às suas práticas: o bem-estar, entendido como um desdobramento da sustentabilidade. A lógica é que, ao ser ambiental e socialmente responsável, a empresa promove o bem-estar tanto daqueles que vão ­usufruir diretamente de sua obra quanto de vizinhos e de toda a cidade.

“Esse ponto de partida é muito claro e nós vimos fazendo isso: começamos com uma arquitetura mais elegante, desenvolvendo prédios mais agradáveis aos olhos, depois passamos à sustentabilidade interna e agora estamos investindo em 'gentilezas urbanas'”, conta o sócio da AGL Incorporadora, Luiz Antoniutti.

É assim que as construtoras e incorporadoras cumprem com a função de “criar cidades mais belas e mais agradáveis de se viver”, nas palavras do diretor de incorporação da Laguna, André Marin. “Como construtoras, temos uma possibilidade enorme de melhorar o entorno”, avalia.

A consequência disso acaba sendo o desenvolvimento da região onde atuam. “Quando você traz algo diferente para o entorno, você incentiva o aumento do fluxo ali e a sensação de segurança, mas também desenvolve os comércios locais e valoriza aquela área”, diz a gerente de novos negócios da incorporadora Altma, Raisa Dored.

Em última instância, o benefício retorna à própria construtora ou incorporadora, já que, ao investirem no desenvolvimento contínuo da região e das cidades onde estão inseridas, elas promovem a valorização de seus empreendimentos e criam novas oportunidades de negócio.

“No Brasil, acho que ainda estamos algumas décadas para trás nesse entendimento, mas quando olhamos para fora, vemos que muito do sucesso dos empreendimentos e do empreendedor da construção civil está ligado à construção ou à reconstrução ou à transformação da região em que ele está inserido. Puerto Madero, em Buenos Aires, é um exemplo, Design District, em Miami, é outro”, afirma o CEO da AG7, Alfredo Gulin Neto.

Além de requalificar a escadaria no Alto da Glória, com projeto de paisagismo, nova iluminação, pintura e painéis com releitura do quadro "Homenagem à Cidade Amada I e II", do pintor Juarez Machado, a Hugo Peretti fica responsável pela conservação do local por dois anos.

No terreno onde irão implantar um empreendimento de moradia estudantil, na Rua Imaculada Conceição, Prado Velho, a Altma e a Hiex inauguraram uma praça pública com dois mil metros quadrados. O espaço conta com quadra de beach tennis e vôlei, miniquadra de basquete e estrutura para apresentações artísticas, eventos gastronômicos e encontros – e será parcialmente preservado após a obra. O espaço funciona de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h.

Construída ao lado do futuro empreendimento New Urban, na Rua João Bonat, 93, no Novo Mundo, a praça é uma iniciativa da AGL Incorporadora em parceria com a CWB Outdoor, proprietária do terreno. Ela conta com pet place, horta comunitária e jardim com plantas nativas, além de bicicletário e espaço para eventos e exposições de produtos de empreendedores locais.

Construído em um terreno que dá para a movimentada Rua Ivo Zanlorenzi, na esquina com a Paulo Gorski, o AGE360 contará com uma rua de desaceleração para acesso ao prédio. Com extensão de 150 metros, o equipamento terá sistema de drenagem das águas pluviais, pavimentação, calçamento e projeto de paisagismo com plantas nativas – e vai permitir a criação de duas novas praças. Uma delas vai contar com artes assinadas por Marc Pottier, curador internacional de arte contemporânea especializado em arte em espaços públicos. É também nesta área que a incorporadora pretende instalar um restaurante.

Antes da obra do edifício Croma, na Rua Jerônimo Durski, 1.624, no Bigorrilho, a Piemonte abriu ao público uma praça com playground e espaço pet no local onde ele está sendo construído. Após a obra, também haverá uma "gentileza urbana": os dois murais que integram o projeto do empreendimento – e que terão assinatura do artista urbano Kobra –, serão visíveis da rua, podendo ser apreciados por quem mora ou passa pela região.

Antes do BIOOS entrar em fase de obras, a Laguna fechou parceria com a Yoga no Parque para oferecer aulas de yoga na praça construída no terreno do empreendimento, no Cabral. As aulas também foram levadas à Praça KAÁ, no Bigorrilho, até o seu fechamento para obras e, agora, acontecem na Galeria Laguna e no heliponto do prédio onde fica a sede da empresa. Não há periodicidade definida, mas as datas são anunciadas com antecedência pelas redes sociais.