Além de deixar desaparecidos e desabrigados, o incêndio de grandes proporções que levou ao desabamento do prédio da antiga sede da Polícia Federal em São Paulo, na madrugada desta terça-feira (1º), destruiu dois patrimônios arquitetônicos da capital paulista: ele próprio e a Igreja Evangélica Luterana de São Paulo.
Foco do incêndio, que segundo informações dos moradores começou no quinto andar do prédio, o Edifício Wilton Paes de Almeida era tombado desde 1992 pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp), juntamente com outras construções na região do Anhangabaú. Classificado em nível 3 de proteção pelo órgão, o tombamento destacava o interesse histórico e arquitetônico da edificação, determinando a preservação de suas “características externas”.
Tal fato é justificado pelos atributos da construção (em aço, vidro e concreto) e pelo período em que foi erguida. Assinado pelo arquiteto Roger Zmekhol, em 1961, o Edifício Wilton Paes de Almeida integra a safra de prédios modernistas que transformaram o cenário urbano de São Paulo a partir da década de 1950. Era ainda um dos pioneiros no uso da fachada envidraçada, característica pelo qual era reconhecido. O prédio ainda trazia hall em mármore e aço inoxidável e piso em ipê, além de ar-condicionado embutido.
Com cerca de 11 mil m² de área construída, foi finalizado em 1966 para abrigar a sede da Companhia Comercial de Vidros do Brasil. A partir da década de 1970, passou a servir de sede da Polícia Federal e do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e estava abandonado pelo governo federal (atual proprietário do imóvel) desde o início dos anos 2000.
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Patrimônio religioso
Além de destruir o Edifício Wilton Paes de Almeida, o incêndio seguido do desabamento atingiu outros três prédios vizinhos, entre eles o da Igreja Evangélica Luterana de São Paulo. Também conhecida como Igreja Martin Luther, ela foi inaugurada em 1908 e é considerada a primeira paróquia evangélica paulistana e o primeiro templo em estilo neogótico da cidade.
Assinada pelo arquiteto Guilherme Von Eye, a igreja tinha como elementos de destaque um órgão de 146 tubos e vitrais produzidos pela Casa Cobrado, do vitralista Conrado Sorgenicht, mesmo artista responsável pelas peças do Mercado e do Theatro Municipal de São Paulo.
Ocupando uma área de cerca de 1 mil m², a igreja está localizada nos fundos do edifício, o que fez com sua estrutura fosse fortemente atingida pelo desabamento. Frederico Carlos Ludwig, pastor da Igreja Evangélica Luterana, avalia entre 80% e 90% a destruição causada ao templo.
“Moro no Paraíso e a 1h30 recebi o telefonema de nossa zeladora, que habitava um quarto no fundo da igreja, avisando que tinha acontecido um incêndio no prédio ao lado. Cheguei à 1h50 aqui, de onde assisti a tudo. É uma desolação para as famílias, mas também para nossa igreja e o patrimônio da cidade”, avalia.
*Com informações do ArchDaily e do Estadão Conteúdo