Memória Arquitetônica
Arquitetura
Icônica pela arquitetura brutalista, Casa MIC, passa por processo de retrofit

Fachada posterior da Casa MIC, projeto de Manoel Coelho que recebeu um retrofit completo pelas mãos das arquitetas Noelle Piasetzki e Izadora Czerpicki, do escritório IN arq+design. | Brenda Pontes / Divulgação
O arquiteto Manoel Coelho -- nascido em Florianópolis e radicado em Curitiba -- morreu em 2021, mas deixou marcas definitivas na capital paranaense. Seja no design urbano, como os abrigos dos pontos de ônibus e as lixeiras; na revitalização da Praça Osório -- ele tinha uma grande visão sobre como transformar um espaço e criou a Boca do Brilho; ou ainda nas obras de grande porte, como os campi da PUC-PR e da Universidade Positivo.

Em cada projeto, o apuro técnico e estético está presente. Em 1981, ao construir e projetar o seu lar, não foi diferente. A Casa MIC, como foi batizada, está localizada no bairro São Lourenço e é, até hoje, um ícone da arquitetura brutalista. Com um contraste entre o concreto e as cores primárias, o espaço de 495 m² tornou-se um dos principais exemplares do estilo arquitetônico na cidade.

A organização da casa é formada por quatro meios níveis, com o pé-direito bem mais baixo que o normal, totalizando apenas dois pavimentos. São nesses meios níveis que se distribuem os setores social, íntimo e de serviços, interligados visualmente.

Em 2020, a família colocou a casa à venda e deu-se início uma nova fase do projeto. A casa passou por um processo de retrofit pelas mãos das arquitetas Noelle Piasetzki e Izadora Czerpicki, do escritório IN arq+design. A Casa MIC, que agora recebe o nome de Casa 275, foi adaptada às necessidades dos novos moradores, com atualização de infraestrutura, instalação de sistemas inteligentes, realização de restauros e elaboração de um estilo singular para os ambientes.
Desafios e novos olhares

Para Piasetzki, um dos maiores desafios do processo foi a
parte investigativa, para entender o funcionamento dos sistemas elétricos,
hidráulicos e estruturais. Além de lidar com todo o concreto que envolvia essas
composições.
parte investigativa, para entender o funcionamento dos sistemas elétricos,
hidráulicos e estruturais. Além de lidar com todo o concreto que envolvia essas
composições.
Por ser uma construção mais antiga, a implementação dos sistemas tecnológicos inteligentes, como painéis de energia solar, piso aquecido, captação de águas pluviais e renovação de água da cascata do jardim de inverno, demandaram certo trabalho de projeto e execução para as arquitetas. "Refletimos por muito tempo quais seriam os melhores caminhos para instalação destes sistemas, porém, confiamos no potencial da casa em se adaptar e receber o novo", afirma Piasetzki.

A arquiteta conta que muitas decisões foram surgindo ao longo
da obra. Durante o processo, observou-se que a casa já funcionava de maneira
muito inteligente, funcional e os ambientes foram muito bem pensados. Dessa
maneira, a mudança foi na reprogramação do uso da casa de forma que atendesse o
fluxo de vida e conforto dos novos moradores.
da obra. Durante o processo, observou-se que a casa já funcionava de maneira
muito inteligente, funcional e os ambientes foram muito bem pensados. Dessa
maneira, a mudança foi na reprogramação do uso da casa de forma que atendesse o
fluxo de vida e conforto dos novos moradores.
"Criamos uma linguagem divertida no estilo, com releituras das cores originais da casa, resultando em uma paleta mais sóbria combinada com materiais aconchegantes, como a madeira e tapeçaria, que harmonizaram perfeitamente com as tonalidades do concreto. No projeto de interiores, valorizamos a liberdade do mobiliário, pensando na sensação de soltura e equilíbrio dos blocos de cores e texturas. A iluminação é pontual e discreta, valorizando estes blocos e a posição deles no espaço", destaca.
Também foram inseridos itens de arte e design, como o Couch Barcelona (de Ludwig Mies van der Rohe) e a Poltrona Red and Blue (de Gerrit Rietveld) - originais, adquiridas no bazar da família Coelho - entre outros mobiliários, que levam assinatura de designers brasileiros: peças do estudiobola, poltrona Pelicano, do Estudio Elmor, Tapete Pompeia, de Giacomo Tomasi, e tapeçaria de parede, assinada por Alex Rocca.
Restauros e revitalizações

Para manter a essência e originalidade do projeto, foram feitos diversos processos de restauros em diferentes cômodos da casa. Os azulejos amarelos originais da residência, localizados em alguns banheiros, na churrasqueira e no antigo atelier de cerâmica - que agora recebe uma cozinha bar - passaram por esse procedimento. Assim como as luminárias. "As que chamam mais atenção são os pendentes bola e as arandelas dos banheiros, que antes estavam situadas em outros ambientes", aponta a profissional.

Na parte externa da casa foi identificada uma infiltração que
vinha da cascata do jardim de inverno. Para correção, as arquitetas optaram por
remover as pedras originais para reparos e assim poder fazer a instalação do
sistema de renovação de água. Ao concluir a obra da cascata, as pedras foram
colocadas no mesmo lugar que estavam. “Além disso, em um processo muito
delicado, todo o concreto original da casa foi restaurado e revitalizado”, diz
Piasetzki.
vinha da cascata do jardim de inverno. Para correção, as arquitetas optaram por
remover as pedras originais para reparos e assim poder fazer a instalação do
sistema de renovação de água. Ao concluir a obra da cascata, as pedras foram
colocadas no mesmo lugar que estavam. “Além disso, em um processo muito
delicado, todo o concreto original da casa foi restaurado e revitalizado”, diz
Piasetzki.
Modificações e integrações

Com o objetivo de atender a necessidade dos novos moradores,
na parte interna da casa, a suíte recebeu uma ampliação e um novo banheiro,
assim como a abertura de uma esquadria para ventilação desse cômodo. O quarto
de hóspedes foi transformado em closet e o espaço que abrigava um atelier de
cerâmica foi integrado ao pavimento de estar social e deu espaço para uma
cozinha bar, perfeita para receber amigos e familiares em diversas ocasiões.
na parte interna da casa, a suíte recebeu uma ampliação e um novo banheiro,
assim como a abertura de uma esquadria para ventilação desse cômodo. O quarto
de hóspedes foi transformado em closet e o espaço que abrigava um atelier de
cerâmica foi integrado ao pavimento de estar social e deu espaço para uma
cozinha bar, perfeita para receber amigos e familiares em diversas ocasiões.

Outra integração realizada na Casa 275 foi no jardim de inverno, que antigamente era ao lado da sala de jantar, mas não incorporado. “Optamos por retirar a esquadria que o separava da sala de jantar, vedando uma nova esquadria no telhado. Essa mudança trouxe muita leveza e frescor ao projeto, juntamente com os zenitais existentes na laje, que resultou no equilíbrio entre a vegetação e a imponência do concreto”, finaliza.
Veja outras fotos do projeto




