Arquitetura

A boa arquitetura da década de 1960 em dois prédios marcantes do centro de Curitiba

Sharon Abdalla
Sharon Abdalla
04/09/2017 10:30
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Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo. | Gazeta do Povo

Prédios gigantes não são, necessariamente, “desengonçados”. A prova documental disso está no livro “Prédios de Curitiba”, lançado na última terça-feira (29) no Paço da Liberdade. De autoria dos arquitetos Guilherme de Macedo e Fábio Domingos Batista e do fotógrafo Washington Takeuchi, a obra reúne 40 prédios curitibanos erguidos entre 1916 e 2014 e destaca a diversidade de estilo e os belos exemplares espalhados, principalmente, pela região central da cidade.
Além de se destacarem na paisagem urbana, muitos deles levam a assinatura de profissionais que ajudaram a inserir o nome de Curitiba no cenário arquitetônico nacional, como é o caso dos edifícios Araucária e Barão do Serro Azul. Dois gigantes cheios de classe no centro da cidade.

Vista privilegiada

Construído entre 1966 e 1968, o que se pode considerar uma história recente, o Edifício Barão do Serro Azul é destas construções que não passam despercebidas por quem circula pelo seu entorno. Localizado a poucos metros da Praça Tiradentes e do Largo da Ordem, o “gigante” de 8 mil m² tem endereço na esquina das ruas Prefeito João Moreira Garcez e Barão do Serro Azul, o que faz com que sua fachada possa ser vislumbrada à distância.
“Ele é o edifício mais fotogênico da cidade, pois é fotografável de vários pontos”, diz o arquiteto Guilherme de Macedo.
Foto do edifício Barão do Serro Azul . Local: Centro .
Foto do edifício Barão do Serro Azul . Local: Centro .
A fachada em curva, resultado do aproveitamento de todo o perímetro do terreno pelo engenheiro-arquiteto Elgson Ribeiro Gomes, autor de seu projeto, é outro aspecto marcante do edifício. Além do efeito estético, ela permite o maior aproveitamento da ventilação e iluminação naturais nos apartamentos, outra característica de seu trabalho.
“Ele se esforçava para criar espaços habitáveis para qualquer faixa de renda. [Para isso], trabalhava sempre com janelas amplas e elementos vazados, maximizando a ideia da funcionalidade das edificações tanto na iluminação quanto na ventilação”, destaca Péricles Varella Gomes, professor da Escola de Arquitetura e Design da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e filho do arquiteto, tido como “neto” intelectual de Le Corbusier, um dos fundadores da arquitetura moderna.

Pré-fabricado

Foto do edifício Araucária . Local: Centro .
Foto do edifício Araucária . Local: Centro .
Contemporâneo desse prédio, o Edifício Araucária também tem no modernismo seu estilo arquitetônico. Sua rápida construção, erguida em 1969 a partir de uma estrutura pré-fabricada, ainda hoje chama a atenção dos especialistas.
“O Araucária tinha que ter uma construção rápida por questões comerciais. E não há muitas unidades deste modelo em Curitiba, pois as obras pré-fabricadas eram uma novidade nesta época”, conta Macedo.
Para quem circula pela região do Teatro Guaíra, de quem é vizinho, a característica que salta aos olhos no projeto assinado por Lubomir Ficinski Dunin (falecido há dois meses) e Roberto de Albuquerque é a fachada de cor amarela, resultado da moldura da esquadria de suas impressionantes 1.088 janelas. Ritmadas, elas fazem com que seja praticamente impossível para quem vê o prédio da rua identificar em qual ambiente do apartamento estão instaladas.
Foto do edifício Araucária . Local: Centro .
Foto do edifício Araucária . Local: Centro .
“Este edifício tem uma inserção urbana interessante [pois sua construção] fica em diagonal no terreno, em forma de cunha, localizado entre as ruas Treze de Maio e Conselheiro Laurindo”, acrescenta João Guilherme Ficinski Dunin, arquiteto do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) e filho de Lubomir, reconhecido como um dos grandes urbanistas de Curitiba.
Tais elementos reforçam o forte apelo visual que as duas edificações impõem à paisagem urbana. Mais do que isso, para Macedo, elas demonstram a preocupação dos arquitetos em dar personalidade aos seus trabalhos, o que, de certa forma, vai na contramão das construções atuais, que têm padrões “muito parecidos”, segundo ele, com uma arquitetura mais voltada ao “mercado imobiliário”.

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