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Galeria de arte Simões de Assis muda de endereço e ganha novo projeto arquitetônico

Projeto da Arquea seguiu preceito museológico e amenizou luminosidade com chapas metálicas na fachada. | Ricardo Perini/Divulgação
Foi em um espaço novo de arte em Curitiba que o artista Alfredo Volpi (1896-1988) expôs pela primeira vez no Paraná. As obras características formadas por bandeirinhas e casarios do pintor ítalo-brasileiro, considerado um dos mais importantes da geração do modernismo, puderam finalmente ser vistas de perto pelos apreciadores de arte na cidade, em 1985. A galeria de arte Simões de Assis era esse lugar, e acabara de completar um ano. Começava a se consolidar como uma galeria de arte moderna, algo ainda inexistente na capital, comandada pelo jovem arquiteto Waldir Simões de Assis.
Recém-formado no curso de Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), sua vontade, como a de outros colegas, era a de ter um escritório. Mas Assis já tinha os dois pés fincados na arte e, anterior à galeria, mantinha contatos com nomes como o pintor Arcangelo Ianelli (1922-2009) e com a artista plástica Tomie Ohtake (1913-2015). Quem sugeriu o negócio à Assis foi o diplomata e colecionador de arte Gilberto Chateaubriand. "Em cinco meses mais ou menos me organizei e inaugurei a galeria. O nome foi uma ideia dele também, que me disse que eu tinha um sobrenome sonoro, e que era como galeristas internacionais estavam assinando", relembra.
O primeiro endereço da Assis foi na Rua Duque de Caxias, onde ficou por 10 anos. Na sequência, a galeria se instalou na famosa Casa de Pedra, construção icônica da década de 1930, com cara de chalé inglês, no bairro Batel. Lá, foram mais 26 anos.

A galeria chega agora a uma terceira etapa e, atendendo às necessidades, a Simões está em novo endereço, na Alameda Dr. Carlos de Carvalho. O local foi projetado pela Arquea Arquitetos, escritório conhecido pelos trabalhos únicos ligados a produção cultural contemporânea.
"Encontramos o imóvel onde ficava uma antiga loja de decoração, e o restante foi todo refeito, de acordo com processos museológicos. Passamos as nossas necessidades e ficamos muito satisfeitos com o resultado. Agora podemos fazer duas exposições concomitantes: uma no térreo e outra no mezanino, com funcionalidade para receber o público", fala Assis.
A linha de projeto da Arquea seguiu uma arquitetura atemporal, neutra e simples, que valoriza o conjunto de materiais. "Usamos o conceito de museu, de caixa branca e figura-fundo, para que a arte se valorize ali dentro. Ao mesmo tempo, criamos um espaço imponente", explica o arquiteto e um dos sócios da Arquea, Pedro Amin Tavares.

O escritório também foi o responsável pelo projeto da filial da Simões de Assis em São Paulo, tocada pelos filhos de Waldir, Guilherme e Laura, que, apesar da formação em áreas distintas, também seguiram para o metiê.
Luz e materiais
Outro aspecto que a Arquea levou em conta no projeto foi o de "ser gentil com a cidade". De ser uma galeria onde as pessoas passem e se sintam à vontade para entrar, e não intimidadas.
No imóvel de 600 m² já existia um pano de vidro amplo, e os arquitetos precisaram encontrar uma forma de bloquear a luz externa, mas não 100%. Para isso, usaram uma chapa metálica perfurada em toda a extensão da fachada, criando um filtro para a luminosidade não interferir nas obras de arte.
O recurso permitiu ainda que a proporção da vitrine ficasse mais alinhada. "Também modulamos as chapas metálicas para ter o mínimo de perda possível, para que não sobrassem retalhos", conta Tavares.
Outra necessidade atendida no novo endereço foi o pé direito alto: na Casa de Pedra, era de 3 metros. A metragem, apesar de boa, vinha se mostrando insuficiente para abrigar determinadas obras de tamanho monumental, cada vez mais comuns entre artistas, sobretudo os contemporâneos. Na nova Simões de Assis, o primeiro plano da galeria conta com 7,5 m de pé direito, facilitando essa questão.

Até o segundo semestre de 2021, o espaço ganhará ainda um pátio de esculturas na parte externa da galeria, que será inaugurada com uma exposição com obras do escultor baiano Manuel Araújo, representado nacionalmente pela Simões.