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Arquitetura
O que é cidade do futuro? Um lugar mais humano, com planejamento preventivo e nova forma de viver
Fórum sobre Futuro das Cidades marca o fim da exposição dos 40 anos do escritório Baggio Schiavon Arquitetura no MON, em Curitiba | Unsplash/Jezael Melgoza
Muito se fala das cidades do futuro. Mas você sabe o que realmente é uma cidade do futuro? Segundo alguns dos maiores especialistas em arquitetura e design de nosso tempo, que estiveram presentes na noite desta quinta-feira (31) no Fórum Futuro das Cidades, no Museu Oscar Niemeyer (MON), a cidade do amanhã é, em resumo, mais humana, com planejamento preventivo e aquela que instiga uma nova forma de viver.
O evento foi uma iniciativa de conclusão da exposição "40+40: Baggio+Schiavon, 40 anos de arquitetura”, com curadoria de Consuelo Cornelsen.
Guto Requena, arquiteto e designer que comanda um estúdio com seu nome em São Paulo, abordou um outro aspecto das cidades que demanda atenção: as relações humanas - ou a falta de instrumentos que as incentivem. Na palestra “Tecnologias de rupturas para cidades + fraternas”, Requena apresentou diversos trabalhos desenvolvidos em seu estúdio que aplicam tecnologia ao design urbano para, justamente, estimular as interações entre pessoas, lembrando-as justamente daquilo que elas têm em comum: sua humanidade.
Um dos projetos apresentados foi o Empatias Mapeadas, que consiste em um pavilhão arquitetônico que pode ser instalado como coreto em uma praça ou como ponto de ônibus. Além de proteger do sol e oferecer um espaço para sentar, o pavilhão conta com sensores que captam os batimentos cardíacos de quem os utiliza e os reproduz em alto-falantes para que todos possam ouvir.
“O que aconteceu nesse projeto foi que as pessoas riram, se emocionaram, se abraçaram, teve gente que chorou”, contou ele sobre o piloto.
Em sua fala sobre emergências climáticas, o sociólogo e economista Pedro Jacobi lembrou que, apesar da urgência do tema, os avanços relacionados a ele vêm sendo muito mais lentos do que o necessário. Uma consequência disso são os eventos extremos que já estamos enfrentando, como a estiagem no Paraná entre 2020 e 2021 ou os temporais em Petrópolis em fevereiro deste ano - e sem qualquer preparo. “Somos uma sociedade que lida muito pouco com prevenção e antecipação”, afirmou.
A tendência, conforme ele, é que esses eventos continuem acontecendo e afetando muito mais aqueles com uma realidade habitacional precarizada. Assim, é urgente discutir temas como segurança e justiça hídricas, proteção da biodiversidade, gestão de resíduos, etc., levando em conta essas diferenças sociais e olhando para os instrumentos disponíveis para mudar a situação.
O designer argentino radicado no Brasil Christian Ullman falou sobre design para inovação social, que trabalha com a ideia de criar novos padrões de produção, consumo e vida, já que é a nossa forma de viver quem constrói o mundo ao nosso redor, mas também o destrói. “Temos que fazer diferente, construir novas ideias e novas visões”, resumiu.
Conforme Ullman, para que isso seja possível, primeiro é necessário entender que passado, presente e futuro não são cenários únicos relacionados a diferentes tempos: há inúmeros contextos diferentes em nossa sociedade, ou seja, diferentes presentes, passados e futuros. A partir disso, é possível construir novas ideias e visões que se relacionem a esses diferentes contextos, atendendo às demandas específicas de cada um deles e também respeitando suas características.
Tanto Jacobi quanto Ullman criticaram a disposição de pessoas e instituições com acesso a recursos para investir em inovação que mantêm a lógica de privilegiar alguns grupos quando há uma série de outras questões mais urgentes a serem resolvidas na sociedade, como a dificuldade de acesso à água potável em determinadas regiões do planeta.
A consultora de tendências de comportamento Iza Dezon, que também leciona na Fundação Armando Alvares Penteado (Faap) e no Istituto Europeo di Design (IED), traçou um perfil de parte da geração Z, aqueles que nasceram entre o fim de 1990 e 2010. "Muitas dessas pessoas não conhecem a vida off line", desmistifica Iza. "Mas são dispostas a rever seu consumo e seu estilo de vida, buscando marcas com propósito e ações com significado."
Ela contou também que, se nada for feito para mudar as atividades que causam a poluição no planeta, grandes empresas vão perder 85 bilhões de euros nos próximos 5 anos, segundo pesquisa de 2020 da Springwise. "Atualmente a gente consome 30% a mais por ano do que a Terra tem capacidade de repor", informou Iza.
Na sequência, a pesquisadora apresentou uma série de marcas que tem pavimentado o caminho das soluções ecológicas nas mais variadas áreas. Como a Gin Toniq, a Our Food Culture, a Yam e a Waterbear, por exemplo.
A noite foi finalizada com a palestra Desenho Urbano, ministrada pelo engenheiro Gustavo Taniguchi, que explicou que a ideia por trás da expressão “desenho urbano” é a de planejamento urbano. É ele que consegue, por exemplo, relacionar diferentes realidades existentes em um mesmo espaço urbano, ou estruturar um processo de crescimento da cidade para que ele seja ordenado, beneficie tanto os moradores e preserve o meio ambiente.