Pesquisa inédita
Arquitetura
“Filhos do compartilhamento”, millenials retomam interesse pela compra do imóvel próprio
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Há não muito tempo, a geração Y (os millenials) era conhecida como a "geração do desapego", na qual o compartilhamento era a regra e a posse de bens quase uma exceção. Pois o cenário parece estar mudando, pelo menos quando o assunto é o mercado imobiliário.
Pesquisa inédita realizada pela Brain Inteligência Estratégica e apresentada em evento exclusivo para convidados realizado por HAUS no último dia 6 de outubro aponta que os nascidos entre 1982 e 1994 representam a segunda maior fatia de intenção de compra do imóvel próprio no recorte por gerações (43%), atrás apenas da Z (45%) e à frente da X (34%) e dos baby boomers (30%), que contemplam, respectivamente, as faixas etárias entre 21 e 26 anos, 43 a 58 anos e 59 a 77 anos.
A pesquisa traça o panorama nacional do setor e ouviu 3.243 pessoas com idades entre 21 e 75 anos em agosto de 2023, todas com renda média superior a R$ 2 mil/mês. Deste total, 53% integram o recorte geracional Y (27 a 42 anos), contra 11% e 30% dos representantes das gerações Z e X, respectivamente, e 6% de baby boomers.
Mas o que contribui para esta mudança de perspectiva geracional? Na avaliação de Marcelo Gonçalves, sócio-consultor da Brain, questões relacionadas à antropologia. Ele explica: "há 10 anos, os millenials eram o 'terror' do mercado imobiliário [no sentido de que não seriam potenciais compradores de imóveis]. Mas eles também mudaram, é normal. E no nível antropológico, conforme se vai envelhecendo, vai-se parecendo [mais] com a geração anterior, e o millenial passou a ter um imóvel [ou, pelo menos, a manifestar a intenção de tê-lo]".
E ele não está sozinho. A maior fatia de intenção de compra de imóveis entre os 39% dos brasileiros que pretendem adquirir o bem nos próximos dois anos encontra-se entre os ainda mais jovens, a geração Z - 45% manifestam o interesse -, que compartilha com a Y as motivações para a compra: a transição demográfica (saída do aluguel, da casa dos pais, casamento), que representa 81% no primeiro caso e 55%, no segundo. Entre os millenials, a intenção de compra baseada no desejo pelo upgrade - a aquisição de um imóvel maior, com mais estrutura disponível ou com ticket médio mais elevado do que o atual - também é expressiva e representa 31%, contra 14% apresentados como justificativa pela geração Z.
O investimento na aquisição do imóvel também é bastante similar entre os dois perfis geracionais, girando em torno de até R$ 300 mil para a maioria dos entrevistados. 42% dos integrantes da geração Z e 40% dos da Y pretendem investir em imóveis de até R$ 200 mil. Tickets médios entre R$ 200 e R$ 300 mil, por sua vez, estão no raio de 23% e 21% dos futuros compradores, respectivamente, para aqueles grupos geracionais.
O que muda, aqui, é a maior preferência da geração Y por casas em rua (52%*) ou em condomínios fechados (31%*), que para os entrevistados da geração Z respondem por 43%* e 5%* do tipo de imóvel buscado. Os apartamentos lideram a preferência deste último grupo (54%) e somam 34% entre os com idades de 27 a 42 anos.
X+
Com porcentuais de participação abaixo da média nacional, que é de 39%, a geração X (43 a 58 anos) e os baby boomers (59 a 77 anos) têm, respectivamente, 34% e 30% das intenções de compra entre os entrevistados destes grupos pelo levantamento da Brain.
Em fase mais estável economicamente, eles apresentam motivações distintas dos mais jovens e apontam o upgrade entre o principal motivador para o investimento no imóvel - 43% entre os boomers e 35% entre os respondentes da geração X. Estes últimos ainda têm na transição demográfica a principal justificativa para a aquisição do bem (39%).
Assim como nos recortes geracionais mais jovens, os imóveis de até R$ 200 mil respondem pelo maior volume de intenção de compra quando as faixas de investimento são analisadas isoladamente. Mas nestes recortes geracionais destacam-se, também, o desejo pela aquisição de imóveis de R$ 300 a R$ 400 mil e entre R$ 400 e R$ 500 mil, citados por 25% e 22% dos ouvidos das gerações X e boomers, nesta ordem.
Entre eles, a preferência também é por casas em rua, 48%* e 64%*, respectivamente, à frente dos apartamentos (36%* para ambas) e das casas em condomínio fechado, 32%* (geração X) e 21%* (boomers). "Em geral, eles querem imóveis maiores", resume Gonçalves.
*A pesquisa sobre a tipologia de imóvel desejado por geração permitia resposta múltipla, por isso o total é superior a 100%.