Arquitetura
Fechada há cinco anos, Casa Andrade Muricy continua à espera de restauro
Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo | Leticia Akemi
Espaço expositivo no centro de Curitiba, a Casa Andrade Muricy (CAM), fechada em 2014 pela então Secretaria de Estado da Cultura para restauro, continua inacessível para o público e artistas; já são cinco anos sem funcionamento. A edificação de 1926, de estilo eclético, tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Paraná em 1978, apresentava infiltrações, partes de gesso trincadas e outras dificuldades estruturais. No ano do fechamento, todas as demandas foram repassadas para a Paraná Edificações, que realizaria o projeto de restauro e execução das reformas.
Mesmo com o levantamento das melhorias necessárias realizado em 2014, ainda não há previsão de início dos reparos. Segundo a Coordenação de Patrimônio Cultural (CPC), um projeto para o restauro está em andamento, mas sem prazo para lançamento da licitação e início das obras. “Como informado, não temos esses prazos, embora estejamos trabalhando para que esses prazos sejam os menores possíveis”, disse o coordenador da CPC, Sergio Krieger, em respostas enviadas por e-mail à reportagem.
De acordo com Krieger, o projeto em andamento contempla o restauro “como um todo” da CAM. “Desde esquadrias, iluminação, troca de telhas etc. Estruturalmente falando, sempre há uma ou outra viga de madeira que está com problemas de cupim e deve ser substituída, quando houver necessidade. A ideia arrumar tudo o que está estragado em função do tempo, de forma que fique como se fosse novo novamente” explicou o coordenador nas respostas. A reportagem não foi autorizada a fotografar as dependências da casa; a CPC informou que a estrutura do museu “está íntegra”, e que, neste intervalo entre o fechamento e o projeto de reforma, houve a modernização de itens como a iluminação (considerada obsoleta na época do encerramento temporário das atividades).
Artistas à espera
No ano em que a CAM foi fechada, havia uma preocupação dos artistas e produtores culturais com a demorada reforma e até mesmo que o prédio fosse destinado para um outro uso. “Enquanto não tivermos esse projeto de restauro pronto, não cogitamos outra atividade ao imóvel. Caberá a uma decisão governamental caso se deseje dar outra destinação ao bem tombado”, afirma o coordenador da CPC.
O artista Tom Lisboa, que em 2004 expôs na Casa Andrade Muricy a mostra “A Fórmula Repaginada”, relembra as vantagens de expor no local. “As salas eram grandes, com um pé-direito alto, então era possível trabalhar bem com a iluminação. A circulação era muito boa e dava para brincar bastante com a disposição da sala”.
Na época, a sua mostra foi realizada por meio de uma convocatória aberta pelo museu para ocupação do local. Como visitante, Lisboa destaca a programação variada no local. “Fui em mostra de cinema, show, achava o espaço muito importante pela diversidade da programação e por ser um ponto de encontro entre os artistas e o público”. “Quando fechou para restauro fiquei preocupado e chateado. Museus do estado podem demorar muito para serem reformados ou nem mesmo voltar a funcionar. Na época pareceu um pouco de desculpa, acho que daria para fazer os reparos sem fechar totalmente o local”, acredita o artista José Antônio de Lima. Sua última exposição na CAM foi “(Im)permanências”, em 2012.
Centro de Curitiba
Junto com outros edifícios históricos tombados que funcionam como espaços culturais, a exemplo do Sesc Paço da Liberdade, a CAM era um dos equipamentos fundamentais para fomentar atividades na região, dizem os artistas. “A Casa faz muita falta, principalmente agora que o MAC [Museu de Arte Contemporânea do Paraná] não está mais no centro de Curitiba. O acesso ficou reduzido tanto para a população como para os artistas”, frisa Tom Lisboa. O MAC, a qual Lisboa se referiu, está atualmente com obras de restauro em andamento, e suas atividades se concentram no Museu Oscar Niemeyer (MON). “Torço para que a CAM seja restaurada e volte a funcionar, dando mais dinâmica para aquele entorno, como aconteceu com o Cine Passeio [cinema municipal na Rua Riachuelo, revitalizado pela Prefeitura de Curitiba e aberto no início deste ano]. Isso é muito importante para o centro da cidade. Sem isso, vai ficando sem vitalidade”, reforça Lima.
*especial para Gazeta do Povo