Arquitetura

Farol da Ilha do Mel vai passar por reforma após mobilização dos moradores

Sharon Abdalla
Sharon Abdalla
26/03/2018 22:29
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Foto: Bruno Santos/Arquivo Pessoal

A mobilização popular em prol da revitalização do Farol das Conchas, na Ilha do Mel, no Litoral do Paraná, encontrou ressonância junto aos órgãos responsáveis pela manutenção da estrutura. Depois de consertar a iluminação do farol no último dia 20 de março, a Capitania dos Portos do Paraná e a Prefeitura de Paranaguá manifestaram com exclusividade à HAUS a intenção de firmar parceria com o objetivo de reformar o farol e recuperar sua atratividade histórica e turística.
Toda esta movimentação teve início após o lançamento da campanha “Acenda o Farol” por um grupo de moradores da ilha, que pedia a atenção das autoridades para o fato de ele estar apagado, segundo eles, desde o segundo semestre de 2017.
“O objetivo principal [da campanha] era chamar a atenção para a Ilha do Mel, para a preservação e o cuidado com a ilha como um todo. Temos a questão da construção do novo porto [no litoral paranaense], da carência de atividades culturais na ilha e a manutenção do farol, que apresenta vidros quebrados e mato alto no entorno”, destaca o fotógrafo Bruno Santos, que mora na Ilha do Mel há cerca de três meses, onde trabalha como cozinheiro. “Ali há uma circulação muito grande de pessoas, principalmente de turistas europeus”, acrescenta ele, que também é um dos integrantes do grupo que lançou a campanha.
O apelo turístico do farol, que está entre os pontos mais visitados da Ilha do Mel – devido à bela vista que proporciona aos visitantes que se aventuram a subir os 150 degraus que levam até sua base – é reconhecido, também, pela Capitania dos Portos do Paraná e pela Secretaria de Cultura e Turismo da Prefeitura de Paranaguá, fato que motivou a busca da parceria entre os órgãos.
Foto: Bruno Santos / Arquivo Pessoal
Foto: Bruno Santos / Arquivo Pessoal
“A manutenção do farol [base e torre] é de responsabilidade da Capitania dos Portos, mas temos o entendimento de que, como ele faz parte da ilha e é um importante patrimônio e atrativo turístico, o município se faz interessado e está disposto a participar de sua manutenção”, pontua Harrison Camargo, secretário de Cultura e Turismo de Paranaguá. “Estamos tentando esta parceria por dois motivos: para dividir um pouco os custos da manutenção e para buscar uma maior vigilância para o farol para que possamos tentar diminuir os atos de vandalismo, os roubos e furtos no local”, acrescenta o capitão de mar e guerra dos Portos do Paraná, Germano Teixeira da Silva.
De acordo com ele, desde o último mês de setembro o Farol das Conchas sofreu quatro ocorrências relacionadas ao roubo das baterias que alimentam sua iluminação. Ainda segundo o comandante, assim que o problema era constatado, equipes efetuavam a recomposição das baterias e o fechamento da porta de acesso ao farol, que novamente era vandalizado. “Na verdade ele não ficou seis meses apagado, pois, neste período, nós fomos lá por quatro vezes para reativá-lo”, explica Teixeira da Silva.

Reforma

As tratativas entre a Prefeitura de Paranaguá e a Capitania dos Portos para a realização da reforma do Farol das Conchas tiveram início em reunião realizada na manhã desta segunda-feira (26), como informaram as partes.
“O objetivo é reformar o farol, e o seu acesso, para que possamos melhorar seu aspecto e atrair os turistas. O farol é um símbolo da Ilha do Mel e da cidade de Paranaguá que está há muito tempo sem nenhum tipo de manutenção, e esta é a nossa preocupação”, esclarece o prefeito de Paranaguá, Marcelo Roque.
Segundo ele, um novo encontro deve ser agendado para os próximos dias, incluindo a área técnica da prefeitura de Paranaguá e a Secretaria de Cultura e Turismo, para que sejam analisadas, também, as questões relacionadas à legalidade do convênio.
A reforma, por sua vez, deverá contemplar o tratamento antissalinidade da estrutura do farol (em ferro), a eliminação dos pontos de ferrugem, a pintura da torre na cor branca (original) e a substituição dos vidros quebrados ou rachados. Não há previsão para o início das ações de manutenção.
Foto: Bruno Santos/Arquivo Pessoal<br>
Foto: Bruno Santos/Arquivo Pessoal<br>

Auxílio aos navegantes

Datado do período imperial, o Farol das Conchas foi construído em 1870 por ordem de Dom Pedro II. A obra foi realizada por uma empresa inglesa. Já os materiais foram importados da Escócia, país que possuía a mais avançada tecnologia na área.
“Historicamente, o farol auxilia e mantém a segurança da navegação. Atualmente isso [é mais representativo] para a navegação voltada à pesca artesanal, para que os navegantes possam [se orientar] e ter noção de onde está a terra. Para a navegação mercante, ele é um fator de segurança a mais, devido aos avanços da tecnológicos”, explica o comandante Teixeira da Silva.
Com torre de 18 m de altura (quase 70 m, se considerada a altura do morro onde está instalado), o Farol das Conchas é marcada por duas características específicas: sua coloração, branca, e a frequência do lampejo (10 segundos apagado e um segundo aceso). Segundo o comandante, estes elementos permitem que os navegantes o diferenciem entre outros faróis da costa brasileira tanto durante o dia como também à noite. “É a sua identidade”, completa.
Apesar de localizado na Ilha do Mel, área tombada pelo governo do Paraná, o Farol das Conchas não é contemplado pela proteção concedida pelo título estadual, que diz respeito somente às questões ambientais da área. A Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres, vizinha do farol na praia de Nova Brasília, também é tombada a nível estadual. Além deste título, a Ilha do Mel também está contemplada no trecho de Mata Atlântica declarado Reserva da Biosfera pela Unesco, em 1991 que, oito anos depois, passou a ser considerado Patrimônio Natural Mundial.

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