Inédito
Arquitetura
Exposição no MON celebra escritórios de arquitetura do PR que viraram “papa-concursos” pelo Brasil
Fachada oeste do edifício da Petrobras no Rio de Janeiro, cujo projeto foi feito por arquitetos radicados em Curitiba e outros profissionais paranaenses. | Leonardo Finotti
A partir de 9 de setembro o Museu Oscar Niemeyer (MON) vai abrigar uma exposição inédita que jogará luz sobre a produção arquitetônica para concursos públicos de projetos de arquitetos e escritórios paranaenses ou radicados no Paraná. São mais de sete décadas em que foram produzidos mais de 250 projetos por aproximadamente 400 profissionais da arquitetura e do urbanismo, mostrando a força da arquitetura paranaense.
É a mostra “Concurso como prática: a presença da arquitetura paranaense”, de autoria dos arquitetos Fábio Domingos Batista, Alexandre Ruiz Rosa e Marina Oba, com curadoria da arquiteta Elisabete França, ex-diretora de Planejamento e Projetos da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU) e que hoje leciona na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), na Universidade de São Paulo (USP) e na Escola da Cidade. A exposição ficará aberta até 12 de dezembro e conta com patrocínio da Copel.
"Papa-concursos"
Segundo o estudo desenvolvido para a mostra no MON, foram pesquisados 165 concursos nacionais desde 1948, quando foi feito o certame público para a escolha do projeto do Teatro Guaíra, como explica a arquiteta Marina Oba, que leciona na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Até 2020, foram 252 premiações, entre primeiro, segundo e terceiros lugares, e menções honrosas, o que levou diferentes gerações de arquitetos a receber o apelido de "papa-concursos". "Considerando apenas os primeiros lugares, escritórios paranaenses tiveram seus projetos coroados como os melhores em 72 concursos", diz Marina.
Apesar do volume bastante alto de certames vencidos, desse total, apenas 21 resultaram em obras construídas. Na opinião da professora da UFPR também responsável pela exposição, entender a razão por trás da pequena materialização dos projetos vencedores é tema para outra pesquisa. Mas ela arrisca um palpite: "Muito disso acho que se deve a ineficiência da gestão de projetos públicos coletivos com prazo estendido. Porque o projeto é algo que toma tempo e depende de continuidade, algo que extrapola a gestão política, que, por sua vez, quase sempre tem pressa para fazer e concluir", avalia Marina.
Dois grandes marcos e suas gerações
Para o arquiteto Fábio Domingos Batista, um dos idealizadores da exposição, existem dois ápices das equipes curitibanas no cenário dos concursos a nível nacional e internacional. "O concurso da Petrobrás, em 1966 e 1967 [capitaneado por Roberto Gandolfi e José Sanchotene], e a Estação Antártica, de 2013, do Estúdio 41", aponta Batista.
Esse exemplo mostra como a primeira geração reconhecida por vencer concursos públicos de arquitetura influenciou a geração posterior. "Existe um primeiro momento quando o pessoal de São Paulo, em sua maioria formado pela Mackenzie, fixa-se aqui em Curitiba e começa a consolidar equipes locais. Como José Maria Gandolfi, Roberto Gandolfi, Luiz Forte Neto, Joel Ramalho, José Sanchotene, por exemplo", elucida Marina.
Para Batista, por isso a geração posterior, da qual ele faz parte, ficou marcada por essa vocação para os concursos. Até mesmo por terem tido aulas e terem trabalhado com alguns desses mestres citados por Marina. "E hoje a régua tá muito alta, porque a nova geração cresce trabalhando em diversos escritórios, com diversas equipes, e o nível dos arquitetos locais só sobe", confidencia Batista. "É algo meio comunitário: se nossos amigos conseguem ganhar, a gente também consegue", resume Batista sobre a visão da geração mais jovem.
40 projetos em destaque
A arquiteta Elisabete França se debruçou sobre os projetos criados por escritórios do Paraná ao longo do tempo e selecionou 40 que merecem destaque. Esses projetos estarão em exposição por meio de maquetes construídas por Carlos Alberto Silva, fotos de Leonardo Finotti e design gráfico de Marcello Kawase e Eduardo Alves da Cruz. A intenção é que, após o MON, a exposição se torne itinerante e possa percorrer o Brasil.
A exposição trará também infográficos que mostrarão diversas informações sobre o panorama do que foi construído e premiado, distâncias geográficas, relação entre as equipes, percursos individuais, participação feminina, entre outros.
E também um documentário produzido pelos arquitetos Luis Singeski, Isabela Fiori e Felipe Gomes, com entrevistas exclusivas com os principais nomes dos escritórios paranaenses que marcaram a produção arquitetônica dos concursos.
"O concurso é uma maneira de construir, de fazer projeto. Projetos com mais liberdade e em maior escala. É uma oportunidade para nomes jovens proporem ideias sem ter no currículo uma obra de grande porte. O concurso é anônimo justamente para que quem ganhe seja a proposta e não o nome", defende Marina.