Arquitetura
Escada que Jesus subiu no julgamento de Pilatos é revelada pela primeira vez em 300 anos
Segunda a tradição católica, a escada de mármore foi a que Jesus subiu durante julgamento de Pilatos. Foto: Elisabetta Povoledo/The New York Times | NYT
A escada de mármore que Jesus subiu no julgamento do prefeito romano Pôncio Pilatos, como defende a tradição católica, que atualmente está instalada em um santuário do outro lado da Basílica de São João de Latrão, em Roma, foi revelada ao público pela primeira vez em 300 anos.
Desde 1723 o mármore era protegido por um revestimento de madeira de nogueira. Ela ficará descoberta por dois meses enquanto o revestimento está sendo restaurado por especialistas do Museu do Vaticano.
Acredita-se que a escada tenha sido trazida de Jerusalém para Roma em 326 d.C. por Santa Helena, mãe do imperador Constantino e colecionadora de todas as coisas referentes a Jesus. Ela também pensava ter encontrado vários vestígios da crucificação, incluindo pregos e madeira da “cruz verdadeira”.
Não demorou a se tornar uma atração para os peregrinos, que ainda percorrem os degraus de joelhos, como um ato de penitência, enquanto refletem sobre a paixão de Cristo. Ao longo dos séculos, mãos, pés e joelhos de peregrinos deixaram sulcos no mármore, que está tão gasto em algumas partes que é possível ver a pedra áspera sob sua superfície.
“Não tínhamos a menor ideia do que seria aquilo e, a cada degrau revelado, sentíamos uma nova emoção”, recordou Violini, especialista em restauração dos Museus do Vaticano. O efeito geral é o de uma cascata de água, congelada no tempo.
As ranhuras se multiplicam perto de uma grelha – marcada pela cruz medieval – que cobre um ponto onde fica uma mancha, supostamente uma gota do sangue de Jesus. O mármore foi desgastado pelo toque de incontáveis peregrinos que enfiavam o dedo através da grade.
Ao tocarem o ponto, os devotos tentavam se conectar com o sagrado, justificou o reverendo Francesco Guerra, diretor do santuário, que foi confiado aos cuidados dos padres passionistas no século XIX. Guerra disse que, em meio a séculos de poeira, os restauradores já encontraram moedas, fotos, orações e pedidos de bênção escritos a mão.
A divulgação da escadaria marca a conclusão de um projeto de 20 anos para restaurar o santuário do século XVI, desenhado justamente para abrigar a escada pelo arquiteto Domenico Fontana, que transformou Roma sob o comando do papa Sisto V.
Embora a escada e a capela sejam um grande ponto de peregrinação, atraindo meio milhão de visitantes por ano, encontrar doadores para a restauração não foi fácil.
“Nem todo mundo compreende a Escada Santa. Não é uma restauração glamourosa, como a da Capela Sistina”, opinou Mary Angela Schroth, que está supervisionando o trabalho e descreveu o conjunto de degraus como “o último grande projeto de conservação da Roma do fim do século XVI”.
*Com The New York Times.