Arquitetura
Conheça o arquiteto que criou o Rio de Janeiro do cartão postal
Índio da Costa é reconhecido por seu trabalho de urbanismo no Rio de Janeiro. Foto: João Magnus/Divulgação
É dos traços de um guri sulista que surgiu parte da nova paisagem contemporânea do Rio de Janeiro: a Orla Rio, que compreende espaços, mobiliário e quiosques do calçadão de Copacabana, Ipanema e Leblon, e o VLT , além da restauração de Búzios.
O arquiteto e urbanista gaúcho Luiz Eduardo Indio da Costa, 78 anos, um dos nomes mais influentes da área no país, também carrega no currículo a assinatura de residências deslumbrantes que se integram com respeito à cidade maravilhosa.
Hoje está à frente do escritório que leva seu nome, em parceria com o filho, o designer Guto Indio da Costa, e participa de diversos comitês e conselhos voltados a pensar as cidades e a arquitetura.
Hoje no escritório vocês repensam o mundo, de ventiladores a máquinas de lavar, passando por cadeiras, casas, urbanismo. Como é esse processo de desconstruir para reconstruir?
Desconstruir e reconstruir são ações que fazem parte do dia a dia de cada ser humano, principalmente hoje, um momento em que os valores estabelecidos são questionados cotidianamente. Na elaboração de cada projeto novo, seja ele de qualquer tipo, há sempre um processo criativo que impõe uma desconstrução de tudo o que se conhece e está estabelecido. Só depois desta desconstrução é que há alguma possibilidade de florescer alguma ideia realmente nova.
Desconstruir e reconstruir são ações que fazem parte do dia a dia de cada ser humano, principalmente hoje, um momento em que os valores estabelecidos são questionados cotidianamente. Na elaboração de cada projeto novo, seja ele de qualquer tipo, há sempre um processo criativo que impõe uma desconstrução de tudo o que se conhece e está estabelecido. Só depois desta desconstrução é que há alguma possibilidade de florescer alguma ideia realmente nova.
Como é trabalhar com o próprio filho? Como se dão as trocas entre vocês?
Trabalhar ao lado e, muitas vezes, junto com o meu filho é extremamente prazeroso e estimulante. As trocas e as discussões são extremamente enriquecedoras. As diferenças de geração se diluem neste esforço conjunto de chegar a um resultado equilibrado entre os arroubos idealistas e fortes, da juventude dele, e o equilíbrio da minha maturidade.
Trabalhar ao lado e, muitas vezes, junto com o meu filho é extremamente prazeroso e estimulante. As trocas e as discussões são extremamente enriquecedoras. As diferenças de geração se diluem neste esforço conjunto de chegar a um resultado equilibrado entre os arroubos idealistas e fortes, da juventude dele, e o equilíbrio da minha maturidade.
Conte-nos a maior lição que aprendeu com seu filho Guto nesses anos juntos à frente do escritório.
Acho que aprendi mais do que ensinei, não só ao meu filho designer, como aos demais filhos e à nova geração de arquitetos e profissionais que trabalham em equipe comigo. A maior lição que eu recebi foi me esforçar em não estratificar ideias e conceitos, mas questioná-los sempre, antes de aceitá-los ou rejeitá-los.
Acho que aprendi mais do que ensinei, não só ao meu filho designer, como aos demais filhos e à nova geração de arquitetos e profissionais que trabalham em equipe comigo. A maior lição que eu recebi foi me esforçar em não estratificar ideias e conceitos, mas questioná-los sempre, antes de aceitá-los ou rejeitá-los.
Qual é o tema mais urgente a ser repensado hoje dentro da arquitetura?
O ritmo acelerado da vida moderna faz com que tudo se transforme em tema urgente e talvez seja esse um dos maiores problemas que enfrentamos hoje. O tempo de reflexão e de maturação de uma ideia está sendo prejudicado por esta premência desnecessária, com prejuízo das soluções finais. Talvez esta resposta seja exacerbada pelo caso específico do Rio de Janeiro, quando as Olimpíadas [ocorridas em 2016] pareciam o objetivo final de cada projeto público.
O ritmo acelerado da vida moderna faz com que tudo se transforme em tema urgente e talvez seja esse um dos maiores problemas que enfrentamos hoje. O tempo de reflexão e de maturação de uma ideia está sendo prejudicado por esta premência desnecessária, com prejuízo das soluções finais. Talvez esta resposta seja exacerbada pelo caso específico do Rio de Janeiro, quando as Olimpíadas [ocorridas em 2016] pareciam o objetivo final de cada projeto público.
Nossas cidades hoje “clamam” por algo?
Os desejos verbalizados estão claramente divulgados: segurança, melhoria de mobilidade e muitos outros. O desejo não verbalizado talvez seja o de uma desaceleração do ritmo cotidiano e a volta a um ritmo mais compatível com o nosso lado animal, imposto pelo nosso organismo. A volta do convívio urbano, que se fazia nas calçadas e nas praças, hoje tende a ser feita nos espaços fechados dos shopping centers. O fato de eu estar respondendo correndo a esta entrevista, durante a madrugada, por absoluta falta de tempo, ilustra bem o que estou dizendo.
Os desejos verbalizados estão claramente divulgados: segurança, melhoria de mobilidade e muitos outros. O desejo não verbalizado talvez seja o de uma desaceleração do ritmo cotidiano e a volta a um ritmo mais compatível com o nosso lado animal, imposto pelo nosso organismo. A volta do convívio urbano, que se fazia nas calçadas e nas praças, hoje tende a ser feita nos espaços fechados dos shopping centers. O fato de eu estar respondendo correndo a esta entrevista, durante a madrugada, por absoluta falta de tempo, ilustra bem o que estou dizendo.
Como você vê a arquitetura hoje? Ela vive em uma bolha própria?
Não acho que isto seja um fenômeno atual. A boa arquitetura, infelizmente, sempre foi elitizada. Acho que, justamente, o nosso grande esforço e desafio, como profissionais, seja uma maior proximidade e diálogo mais direto e amplo com a sociedade, para multiplicar a abrangência do nosso trabalho.
Não acho que isto seja um fenômeno atual. A boa arquitetura, infelizmente, sempre foi elitizada. Acho que, justamente, o nosso grande esforço e desafio, como profissionais, seja uma maior proximidade e diálogo mais direto e amplo com a sociedade, para multiplicar a abrangência do nosso trabalho.
Como você encara a sustentabilidade? O conceito mudou de ontem para hoje?
A boa arquitetura e o bom urbanismo sempre se preocuparam em preservar os recursos naturais. Talvez por uma infância vivida durante o período da Segunda Guerra Mundial e uma influência europeia, acrescida por uma formação acadêmica racionalista, a minha geração sempre tenha tido a consciência de que os bens da natureza eram finitos e que deveriam ser poupados e corretamente distribuídos entre a população. Os Estados Unidos, após o enriquecimento vertiginoso que tiveram na década posterior à Segunda Guerra, criaram um conceito exacerbado de consumismo e desperdício e influenciaram todo o mundo ocidental, vendendo a ideia de que poderíamos consumir de forma irresponsável.
A boa arquitetura e o bom urbanismo sempre se preocuparam em preservar os recursos naturais. Talvez por uma infância vivida durante o período da Segunda Guerra Mundial e uma influência europeia, acrescida por uma formação acadêmica racionalista, a minha geração sempre tenha tido a consciência de que os bens da natureza eram finitos e que deveriam ser poupados e corretamente distribuídos entre a população. Os Estados Unidos, após o enriquecimento vertiginoso que tiveram na década posterior à Segunda Guerra, criaram um conceito exacerbado de consumismo e desperdício e influenciaram todo o mundo ocidental, vendendo a ideia de que poderíamos consumir de forma irresponsável.