Arquitetura

Para Flavio Borsato e Maurício Lamosa, desing tem de ser simples e pessoal

Luan Galani
30/01/2016 00:00
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Foto: Gui Gomes/Divulgação.

Perfil
Modismos e tendências não acham espaço com eles. O que define o trabalho dos arquitetos paulistas Flavio Borsato, 44 anos, e Maurício Lamosa, 42 anos, são desenhos autorais, simplicidade formal e elegância. Há 15 anos eles criaram o estudiobola, nome que brinca com as iniciais dos seus sobrenomes. Reconhecidos pelo segmento moveleiro como um dos ateliês de design mais expressivos do país, suas peças cheias de cores e de traços minimalistas já entraram para o hall dos clássicos do design brasileiro.
O que levou vocês à arquitetura? E como foi a transição ao design industrial?
Eu [Maurício Lamosa] sempre gostei de decoração quando mais novo. A beleza me emocionava muito, principalmente o visual das cores. O que mais me apetecia era a minha casa e a casa dos meus amigos. Com 12 anos eu ajudava a minha mãe a mudar os quadros de lugar, a reorganizar a sala toda. Só depois a gente entende porque aquilo é belo. Passa a entender a cidade como organismo e o nosso papel como o de um maestro. Digo que a arquitetura é a matemática da beleza. Trata de gerar beleza de forma técnica. Na faculdade, sempre achamos que devíamos aprender a fazer tudo, como o ator que sabe fazer cinema, tevê e teatro. Um dia o Flávio [Borsato, também fundador do estudiobola], que cresceu numa fábrica de móveis, me convidou para trabalharmos juntos. Eu nunca disse não para as coisas e topei.
O estudiobola é reconhecido por seu design inovador. Como funciona o processo criativo e a inspiração?
A gente não espera por inspiração. Não vem do desenho. A inspiração vem da fábrica. Alguns fabricantes têm um tremendo potencial, com técnicas próprias e know-how, mas geralmente estão subutilizados. Com a Arte Fama Móveis, por exemplo, a fábrica nos inspirou e criamos peças sob medida para eles. Criamos duas linhas. Para a coleção Lara, nossa inspiração foi o papel de brigadeiro, que virou uma mesa. Um desenho icônico, simples, porém bem humorado. Para a Chino, nos inspiramos nos mobiliários chineses. Utilizamos madeira taeda, com pezinhos afunilados, como estacas. A partir das ideias é só refinar para gerar elegância e humor.
Design democrático é uma bandeira presente na Escandinávia e no Japão. Na mesma linha, Philippe Starck defende a democratização dos produtos. Como vocês enxergam isso?
Estamos trabalhando para isso. O Olimpo do design industrial é o plástico. Mas o ferramental para a fabricação é muito caro. A relação é meio esquizofrênica: para o produto ficar mais barato, mais investimento tem de ter. O design acessível já é feito. Mas não com a elegância dos pensadores do design, que atingiria mais pessoas. Precisamos tornar o desenho mais longevo e menos barroco. É um dos desafios atuais, que inclui política com as fábricas.
Muitas cidades têm público consumidor mais tradicional, que prefere uma decoração mais tímida. Como superar isso e trazer mais personalidade para os ambientes?
Poucos se arriscam. Até os profissionais têm esse medo. Mas está mudando. Muitos já utilizam nossos produtos, por exemplo. É como um ingrediente de comida que assusta. Quem cria a história do ambiente mescla conceitos, conta uma história. O designer cria, mas depende do especificador, do arquiteto, do designer de interiores. Vejo isso melhorando nas mostras. Embora a maioria seja um neutro elegante, alguns saem da zona de conforto.
Vocês concebem o design de produto brasileiro diferente dos outros?
Não gostamos da ideia do design industrial com pegada indígena, tribal ou étnica. Acho que nosso design é parecido com o que se faz fora. Faz parte do design universal. Se fosse para elencar um diferencial, seria a madeira. Temos um bom histórico no trato da madeira. Nomes como Sérgio Rodrigues, Hugo França e Zanini de Zanine estão aí para provar. Não temos a cultura do design, mas temos pessoas de peso, como os Irmãos Campana e Brunno Jahara, que ditam nortes para o desenho. O que acaba reverberando na arquitetura. Veja aquela fruteira dos Campana, por exemplo. É uma bagunça estrutural em metal que originou o estádio Ninho de Pássaro, na China.
Que problemas vocês enxergam no cenário do design atual?
Falta de indústria plástica no Brasil. O material é comum nas casas das pessoas lá fora. Mas pouquíssimas marcas investem aqui. E só com o plástico vamos conseguir democratizar o design industrial. Some-se a isso o fato de as indústrias ligadas ao plástico não se interessarem em fazer mobiliário. Então, o móvel de boteco lá de fora chega aqui como de elite. Outro problema é que os grandes magazines – as fast fashion do mobiliário –, em geral, ainda não procuram o design, não gastam suor. Procuram o preço chinês, a cópia, e mês a mês inúmeros desenhos são criados e jogados no lixo. Preferem o arroz com feijão.

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