Arquitetura
Entre rosas, pinturas e um bispo, conheça as histórias do casarão sueco de Curitiba
Fachada do casarão Villa Sophia com diversos elementos do eclético, como as esquadrias retangulares convivendo com as janelas em arcos plenos. Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo | Gazeta do Povo
O casarão que se levanta sobre a Mateus Leme com a Barão de Antonina, logo atrás do shopping Mueller, parece um palacete qualquer aos olhos distraídos. Mas a impressão termina assim que você bota o pé lá dentro, e se depara com uma galeria de pinturas em quase todos os cômodos: holandesinhas dançantes na copa, cruz de Malta na antiga capela, florões dourados em fundo azul no que costumava ser a sala de jantar. É justamente essa colcha de retalhos artística que faz da casa sueca conhecida como Villa Sophia uma joia arquitetônica da cidade.
“Nenhum outro lugar da cidade oferece tantas pinturas diferentes bem preservadas quanto o casarão”, garantem os arquitetos responsáveis pelo projeto de restauro Ivilyn Weigert e Leandro Gilioli. O que encanta ainda mais é que todos esses ornamentos dão conta de jogar luz sobre os principais capítulos da história de 120 anos do pequeno castelo.
Palacete de apelidos
A casa nasceu por volta de 1896 como uma chácara cercada de pomares pela vontade do sueco Guilherme Lindroth, que ajudou a fundar o Clube Duque de Caxias e o Coritiba Futebol Clube, como consta em um relatório técnico da construção. Apesar da origem escandinava do proprietário, o palacete não guarda características arquitetônicas da terra dos vikings porque Lindroth resolveu “contratar marceneiros alemães, os construtores mais disputados da época, e deixou as pinturas por conta dos italianos, os melhores na lida com o pincel”, conta a restauradora Tatiana Zanelatto Domingues.
Com mais de 2 mil m² distribuídos em três pavimentos e um pé direito de 4,5 metros, a casa esbanja o rigor das técnicas construtivas germânicas sem perder o charme eclético, com muitas linhas geométricas do Art Déco. O casarão recebeu o nome de Villa Sophia em homenagem à esposa de Lindroth, Sophia Mueller, filha do suíço Gotlieb Mueller. A moça adorava cultivar rosas e o primeiro apelido da residência vem daí: “casa das rosas”.
A casa da santa
Depois de 40 anos servindo de residência para as famílias Lindroth e Mueller, em 1937 o imóvel foi vendido para a Igreja Católica e passou a se chamar “casa do bispo”. Foi durante esse período que o casarão ganhou um de seus maiores trunfos: uma reprodução da pintura a óleo da Imaculada Conceição de El Escoria, de 1665, do espanhol Bartolomé Murillo, cuja obra original se encontra no Museu Nacional do Prado.
Depois da passagem dos bispos, no final da década de 1950, o imóvel foi repassado para outro ramo da igreja. Depois de anos abandonado, foi adquirido em 2007 por um engenheiro que adora investir em edifícios antigos, mas que prefere o anonimato. Junto do escritório de advocacia Vernalha Guimarães & Pereira Advogados, proporcionaram a repaginada do casarão.
Em tempo: a santa foi pintada originalmente em um cômodo do terceiro andar no lugar da sacada. Com a restauração, ela foi realocada para o hall do edifício, e hoje é a primeira a sorrir para os visitantes.