Arquitetura
O que as cidades contemporâneas têm a aprender com o urbanismo das formigas?

Organização dos insetos pode ajudar a repensar a lógica das cidades. Foto: Pixabay
Geralmente comparamos o movimento de uma cidade ao de um formigueiro. Mas, olhando de perto, nossas áreas urbanas perdem feio em termos de organização para as formigas – essas verdadeiras especialistas em mobilidade.
Entre as suas principais virtudes está a resistência e a eficiência em vencer barreiras. Ainda que se considerem todas as diferenças entre humanos e formigas, muito se pode aprender com elas sobre como pensar as cidades.

Em um estudo publicado pelo Journal of the Royal Society Interface, pesquisadores se debruçaram sobre os “planos de mobilidade” de uma colônia de formigas da Austrália, a Iridomyrmex purpureus. As trilhas formadas por elas atingem quilômetros de extensão, sem provocar “congestionamentos” e com diversas alternativas de rotas.
A análise mostrou que os caminhos nem sempre conectam o formigueiro diretamente até a árvore de onde elas extraem alimento e, caso um obstáculo apareça, as formigas não precisam ficar horas em linha, paradas.
O estudo revela ainda que a malha viária desses insetos segue sempre a mesma lógica, o que os pesquisadores chamam de “modelo da ligação mínima” (MLM).
“As vias são sempre as mais curtas possíveis, mantendo a fonte de alimentos a uma distância que não exija um grande deslocamento. As formigas apenas conectam um ninho novo a uma árvore se a estrada a ser criada for mais curta do que a já existente; do contrário elas devem buscar provisões no ninho mais próximo”, diz o estudo encabeçado por Arianna Bottinelli.
A conclusão a que se chega é que o o custo de manutenção dessa rede é sempre baixo – modelo que é frequentemente o oposto do praticado pelos humanos.
Densidade

A concentração de formigueiros em uma colônia é controlada e não passa de 15 ninhos. Uma vez que a colônia atinge essa densidade, formigas pioneiras estabelecem novas colônias. Esse processo garante a sobrevivência ordenada da espécie. “Uma vez que descobrimos o que a natureza faz, nós tentamos aplicar as mesmas regras simples para prever o que aconteceria em um sistema de redes elétricas, por exemplo, feito pelo homem”, explica Arianna no documento divulgado pela universidade.
A conclusão foi que, ao construir novos subúrbios, é necessário conectá-los à área urbana mais próxima, para que a rede de energia seja relativamente barata, mas também bastante eficiente. A robustez do sistema pode ser elevada ou reduzida ao mudar a frequência com que novos subúrbios são conectados aos servidores centrais.
Na conclusão dos pesquisadores, limitando o tamanho dos formigueiros, ou seja, dos “bairros”, a disponibilidade de recursos se torna muito mais eficiente. Seja debaixo da terra ou no interior de uma árvore, as formigas nunca permitem um crescimento descontrolado. A descentralização praticada por esses agrupamentos de insetos nos estimulam a repensar nossos centros urbanos.
Compartilhar espaços

Outra lição vinda do comportamento dos pequenos animais é o uso do mesmo espaço. As que saem dos formigueiros abrem espaço àquelas que estão retornando com comida e as que voltam de “mãos vazias” não ultrapassam as carregadas, mas esperam e caminham em um ritmo mais lento.
Ótima lição para os humanos que, como se sabe, não costumam ficar atrás de caminhões em uma rodovia, por exemplo. Com base em estudos como esse, cientistas vêm transformando o fluxo de tráfego das formigas em algoritmos aplicáveis para o trânsito de veículos. Os resultados mostram como atitudes individuais podem resultar em um bem coletivo que, por fim, beneficia o individual. É um círculo virtuoso.
Ao pensar em um sistema inteligente para carros autônomos, esses princípios seriam possivelmente seguidos para acabarmos com os congestionamentos. Os pesquisadores australianos entendem que as pessoas seriam relutantes a isso, mas acidentes seriam virtualmente não-existentes e as viagens se tornariam muito mais eficientes.
*Via Archdaily e TheCityFixBrasil