Você enxerga a arquitetura de forma artística?
No início da minha carreira, eu fazia uma arquitetura mais escultórica, com estética bastante voltada para o emocional. Depois, comecei a revisar meu trabalho e me dedicar mais à parte matemática. Quando eu fazia uma arquitetura de escultura, o mainstream fazia uma arquitetura racionalista. Hoje, acontece o inverso. Há uma tendência escultórica na arquitetura, principalmente fora do Brasil.
Em que momento da sua carreira a Casa Bola se encaixa?
A Casa Bola, de 1972, marcou o meu rompimento com a arquitetura escultórica. Tudo que fiz a partir desse ano é mais racionalista, uma arquitetura levantada do chão, com menos liberdade artística. A Casa Bola representa a procura da perfeição no sentido de simetria e repetição. É uma maquete de unidade habitacional para prédios de apartamentos não geminados. Usando a tecnologia do avião, do barco, do automóvel, e com um projeto industrial compatível, o “apartamento-bola” poderia ter um preço competitivo.
E quais são suas ideias atuais?
Hoje eu penso muito mais em urbanismo do que na arquitetura de casas. Estou obcecado com a ideia de que o pedestre tem de sair do chão, com calçadas suspensas, ciclovias aéreas e travessias por cima dos automóveis, sobre os telhados privados. Essa delimitação menos rígida entre o público e o privado possibilitaria uma verticalização aguda, que é muito mais econômica do que a horizontalização. Um elevador é muito mais barato do que um metrô.
Você construiu uma segunda Casa Bola para seus pais, em 1983. Alguém vive nela atualmente?
Na Casa Bola que fiz para meus pais, moram a minha filha com o marido e meus netos. Viver lá é normal, não tem nada especial. Gosto muito dessa casa que eu fiz, a decoração é limpa, com muito espaço vazio, como se fosse um fundo infinito. Como a ideia era diminuir os espaços, ela é muito compacta, mas tem alto conforto.
Quatro décadas depois, como você vê a Casa Bola?
É uma maquete muito primária de um conceito de industrialização de cápsulas habitáveis. Não foi bem aceita pelo mercado, mas acredito que possa ser viável em um futuro em que a compactação seja desejável. Quem sabe daqui a 50 ou 100 anos, com a evolução dos materiais, essas casas possam ser flutuantes. É uma fantasia, mas o volume mais leve seria a esfera. Como uma bolha de sabão.