Arquitetura

Prédio art decó no Rebouças mantém viva a história ferroviária do estado

Marina Pilato*
17/09/2018 11:00
Thumbnail

Foto: Letícia Akemi / Gazeta do Povo | Leticia Akemi

Na Rua João Negrão, quase esquina com a Avenida Sete de Setembro, no Centro de Curitiba, um edifício colado à Ponte Preta faz mais do que chamar a atenção pelo estilo com influência art déco. Ele ajuda a contar a história de uma época em que a cidade adquiriu uma nova configuração. O Edifício Teixeira Soares, que foi construído em 1941 e abrigou a sede da Rede Ferroviária Federal (RFFSA), hoje é um dos câmpus da Universidade Federal do Paraná (UFPR), inaugurado em junho deste ano.
“O edifício faz parte da paisagem ferroviária de Curitiba, que precisa ser preservada como um todo”, explica o arquiteto e professor da UFPR, Key Imaguire. Para entender essa história, é preciso voltar até 1885, quando a construção da estrada de ferro que liga Curitiba a Paranaguá foi realizada. A chegada dela à entrada da cidade gerou uma integração com o Centro, em especial pela Rua Barão do Rio Branco, ligando as antigas sedes do poder público – como a Câmara e o Palácio do Governo da época – ao terminal de embarque de trens. Também fazem parte desse Setor Especial de Preservação da Paisagem Ferroviária de Curitiba, além da Estação Ferroviária, do edifício e da ponte, estruturas como a garagem de litorinas e o Estádio Durval de Britto e Silva.
Fotos: Letícia Akemi / Gazeta do Povvo
Fotos: Letícia Akemi / Gazeta do Povvo
Essa influência permanece até hoje e a região do Edifício Teixeira Soares conta essa história. O prestígio da região, com a Praça Eufrásio Correia, a ligação à Praça Tiradentes e ao Paço da Liberdade, permanece até as décadas de 1960 e 1970, marcada até mesmo pela presença do extinto Cine Vitória, por muito tempo o maior cinema de rua de Curitiba. O edifício centralizava os serviços de manutenção e administração da Rede Viação Paraná Santa Catarina e depois se tornou sede da Rede Ferroviária Federal (RFFSA).
Com seus tijolos aparentes e características originais preservadas na fachada, a edificação mantém a discrição arquitetônica e foi tombada pelo Patrimônio Histórico, com a Ponte e a Estação, em 1976.

Ocupar e preservar

O espaço foi cedido pelo governo federal à UFPR em 2008 e, desde então, a revitalização e re-ocupação do local eram aguardadas tanto pela utilidade acadêmica quanto pela preservação da memória ferroviária. Em junho deste ano foi inaugurado o Campus Rebouças, abrigando os estudantes do curso de Turismo e da pós-graduação em Educação.
De acordo com a autora do projeto de restauro e reforma do campus, a arquiteta e urbanista Neuza Noguchi Machuca, a revitalização do espaço e a sua ocupação pela universidade contribuem para a recuperação e melhoria da qualidade de vida do bairro Rebouças, “pois promove a valorização e desenvolvimento das características únicas do lugar e da sua gente e a recuperação social e cultural”.
A edificação passou por várias reformas e ampliações ao longo dos anos, mas as fachadas frontais da Avenida Sete de Setembro e da Rua João Negrão foram mantidas, de acordo com o projeto de reforma pela UFPR, assim como os destaques para a torre do relógio com as aberturas redondas, os detalhes da platibanda (faixa horizontal na parte superior de edifícios) e as aberturas das esquadrias. No hall de entrada principal, na Rua João Negrão, foram preservados os detalhes do piso, as molduras nas paredes e teto, os corrimãos e esquadrias de ferro. O espaço acadêmico também contará com anexo para salas de aula.

Nos eixos do transporte

O edifício foi batizado em homenagem a João Teixeira Soares, o engenheiro ferroviário mineiro que foi diretor da Estrada de Ferro do Paraná e esteve à frente de marcos desse setor de transporte no Brasil. É o caso da primeira ferrovia eletrificada do Brasil, a Estrada de Ferro do Corcovado, no Rio de Janeiro, e a ferrovia São Paulo – Rio Grande, que liga o município de Itararé (SP) a Santa Maria (RS). Após a ideia e o traçado dos trilhos da Estrada de Ferro Curitiba-Paranaguá terem sido concebidos pelos irmãos André e Antônio Rebouças, Teixeira Soares encabeçou a construção da estrada.
*especial para Haus

LEIA TAMBÉM

Enquete

Você sabe quais são as vantagens de contratar um projeto de arquitetura para sua obra de reforma ou construção?

Newsletter

Receba as melhores notícias sobre arquitetura e design também no seu e-mail. Cadastre-se!