Dos "Bichos" à arquitetura, mostra celebra centenário de Lygia Clark na Pinacoteca de São Paulo

Foi aberta ao público neste sábado (2) a exposição "Lygia Clark: Projeto para um planeta" em homenagem a uma das artistas brasileiras mais relevantes do século 20. Em cartaz até o dia 04 de agosto, a mostra ocupa sete galerias expositivas da Pinacoteca de São Paulo com mais de 150 obras que estabelecem uma conexão entre as diferentes fases de sua carreira, apresentando pinturas iniciais, a passagem pelo movimento neoconcreto, proposições participativas e projetos arquitetônicos.

O conjunto em exposição, com curadoria de Ana Maria Maia e Pollyana Quintella, inclui obras históricas (poucas vezes vistas nos últimos anos), demonstra o legado dos mais de 30 anos de carreira de Lygia Clark e comemora o centenário da mineira. Dentre a seleção apresentada na Pinacoteca Luz estão numerosas obras da série "Bichos", uma das mais famosas produzidas por Clark, "A casa é o corpo", instalação feita para a Bienal de Veneza de 1968, e "Maquete para interior nº3", reproduzida em grande escala especialmente para a Pinacoteca.

Um dos mais importantes nomes da arte brasileira contemporânea, Lygia Clark tem, segundo as curadoras, "lugar fundamental na formação de repertório sobre formas de produzir e experimentar arte", tendo sido uma das artistas responsáveis por reestruturar o vocabulário artístico brasileiro, desafiando as fronteiras entre o papel do artista e do público, e propondo uma nova relação entre corpo e objeto.

É justamente a partir da proposição de participação do público - encarada como fundamental para a artista - que se entra na exposição. O trajeto desenhado começa em um tablado com réplicas da série "Bichos" disponíveis para o manuseio do visitante, no centro da galeria expositiva. Ao redor, pinturas da fase inicial e trabalhos importantes da carreira da artista.

Na segunda sala, vinte "Bichos" originais são reunidos pela primeira vez em mais de uma década. Entre
eles, "Relógio de Sol" e "Projeto para um planeta" (ambas de 1960).

A mostra avança com desdobramentos da pesquisa de Lygia Clark no campo tridimensional (quando os "Bichos" dão lugar às "Obras moles", 1964, e aos "Trepantes", 1964-65), a busca pelo rompimento com a noção de autoria (simbolizado nas obras "Quebra da moldura",1954, e "Descoberta da linha orgânica",1954), por um reencontro sensorial entre sujeito e mundo até sua aproximação com a arquitetura.

Pensando formas funcionais e olhando para o ambiente cotidiano, a artista passa a desenvolver propostas arquitetônicas interessadas em permitir que o usuário pudesse transformar a estrutura física do espaço. Obras como "Maquete para interior nº 3" (1955), "Estruturas de caixas de fósforos" (1964) e a série "Escadas" (1948-51), integram a mostra. Apesar de surgir de modo evidente apenas mais adiante em sua carreira, a arquitetura teve pontos de contato bastante cedo na formação de Lygia, que iniciou seus estudos artísticos com o arquiteto e paisagista Roberto Burle Marx, em 1947.

Além de obras, a exposição reúne trechos de filmes, fotos e documentos que exibem as propostas individuais e agenciamentos coletivos de Clark, estes últimos fruto das experiências da artista em Paris, onde morou entre 1970 e 1976, ministrando um curso na Universidade Sorbonne. Complementando a exposição, a nova sala de vídeo do museu recebe o filme “O mundo de Lygia Clark” (1973), de Eduardo Clark, que apresenta uma série de proposições da artista como "Canibalismo", "Rede de Elástico", "Diálogo de óculos", entre outros.

Serviço:
Exposição "Lygia Clark: Projeto para um planeta"
Local: Pinacoteca Luz
Datas: 02 de março a 04 de agosto de 2024
Horários: de quarta a segunda-feira, das 10h às 18h (com entrada até 17h); quintas-feiras com horário estendido até às 20h
Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada); gratuito às quintas-feiras (a partir das 18h) e aos sábados