Arquitetura
Dia do Imigrante Italiano: curiosidades e arquitetura de Santa Felicidade
Casa de madeira em Santa Felicidade mantém preservados os lambrequins. Fotos: Letícia Akemi/Gazeta do Povo.
O Brasil comemora nesta terça-feira (21) o Dia do Imigrante Italiano. A data celebra a chegada das 380 primeiras famílias italianas ao país em 1874 a bordo do navio Vapor Sofia.
Em Curitiba, o enclave italiano mais importante está em Santa Felicidade. Tradicionalmente conhecido como um polo gastronômico, o bairro também transpira traços do país europeu em seus casarões e igrejas, que foram levantadas pelas mãos dos imigrantes.
O arquiteto Fábio Domingos Batista explica que a maioria dos imigrantes que se instalaram aqui na capital veio da região do Vêneto, que abriga cidades emblemáticas como Veneza, Verona, Pádova e Treviso. Por isso, ele e a arquiteta Ana Carolina Mazzarotto viajaram a essa região na Itália a fim de pesquisar sobre as suas influências nas edificações daqui.
A pesquisa deu origem ao livro “Arquitetura Italiana em Curitiba”, obra que mostra as principais estruturas residenciais, comerciais, de igrejas e cemitérios daqui, que foram construídas por imigrantes e que seguiram os padrões e estilos de lá.
Descubra curiosidade e veja o roteiro da Av. Manoel Ribas e conheça um pouco mais sobre a história da imigração italiana na cidade e sobre os estilos arquitetônicos italianos!
Carpintaria mantém a tradição dos lambrequins
“Quem procura lambrequim no Google encontra a gente logo na primeira página”, diz Joel Vendramin, 71 anos, que se orgulha de ter “uma das últimas, senão a última carpintaria que faz lambrequins no Paraná”. Das serras-fita e lixadeiras da Carpintaria São Judas Tadeu, instalada na Manoel Ribas, em Santa Felicidade, há 132 anos, saem, além de portas, janelas e assoalho de madeira, os famosos lambrequins. “Vendemos para Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e todo o Paraná”, diz Vendramin. Veja todos os detalhes da carpintaria aqui.
Dona Hermínia
Hermínia Perussi foi uma septuagenária de Santa Felicidade que entrou para a história como a última verdureira tradicional, como atesta trabalho acadêmico da UFPR de autoria de Ana Maria Ganz. Por mais de 50 anos, a italiana percorreu de carroça a região central, batendo de porta em porta para vender verduras, ovos e lenha. Nos 12 quilômetros que percorria todos os dias, principalmente na volta para casa pela Manoel Ribas, ela adormecia no banco da carroça e o cavalo continuava o trajeto. Sabia o caminho de cor. Saiba mais aqui.
Casa dos Gerânios
Localizada na Av. Manoel Ribas, próxima à Secretaria Municipal do Meio Ambiente, a casa foi construída entre 1880 e 1890 pela família italiana Boscardin, uma das pioneiras na colônia de Santa Felicidade. De acordo com Batista, as casas em alvenaria como esta não eram tão comuns em outras colônias. “Isso e o fato de ser um imóvel maior, do tipo sobrado, mostra uma prosperidade da colônia”, afirma. O nome se deve ao hábito que a família tinha de enfeitar as janelas com vasos da flor.
Hoje, o espaço que já abrigou um moinho de cereais está abandonado e sofre constantemente com as cheias do Rio Cascatinha. Mas preserva as características de quando foi construído e que são típicas da região rural do Vêneto, como o telhado que cai para a frente e para os fundos da casa, a simetria entre as janelas e a porta no primeiro pavimento – duas janelas para cada lado da entrada – e o sótão utilizável devido à disposição do telhado. Um dos detalhes mais especiais, segundo Batista, é a cimalha branca na junção das telhas com a parede.
Casa dos Arcos
O restaurante Casa dos Arcos funciona em um imóvel construído por imigrantes italianos por volta de 1895, localizado na Av. Manoel Ribas, 5999. É um exemplar de arquitetura italiana urbana: apesar da volumetria semelhante à das casas rurais, possui uma arcada na fachada, a chamada loggia, estrutura muito comum na área central das cidades do Vêneto, onde pipoca o comércio. De acordo com Fábio, essa disposição da Casa dos Arcos parece chamar outras estruturas iguais a ela, como acontece na Itália, onde elas ficam lado a lado, formando uma verdadeira galeria para pedestres. “Em épocas de calor, elas oferecem sombra. Na chuva, dão abrigo”, comenta.
Além da loggia, a casa também se apresenta como um sobrado com sótão. Na época de sua construção, o térreo era dirigido ao comércio, enquanto o pavimento superior era residencial, provando mais uma vez que o imóvel foi erguido também com o propósito comercial.
Casa Culpi
No número 8450 da Av. Manoel Ribas levanta-se a Casa Culpi, construída em 1887 e que funcionou como residência e comércio da família Culpi. Bastante elaborado, o conjunto se assemelha à Casa dos Gerânios, de acordo com Fábio, mas com duas diferenças principais: além de ter um balcão acima da porta, é composto por dois volumes – um térreo e um sobrado. O volume térreo foi o primeiro e ali eram comercializados produtos hortifrutigranjeiros para abastecer as pessoas que viviam na região. “Isso demonstra como a família prosperou, já que construiu depois o sobrado, uma casa maior e com mais detalhes”, aponta Fábio.
O imóvel já fez parte da Fundação Cultural de Curitiba, abrigando um acervo sobre a imigração italiana. Atualmente funciona ali o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) Botiatuvinha da Fundação de Ação Social (FAS).
Igreja de Santa Felicidade
Construída por um mutirão de imigrantes, a Paróquia São José e Santa Felicidade, na Av. Manoel Ribas, 6252, começou a ser erguida em 1889 e foi finalizada em 1891, em uma velocidade incrível. A maior referência às igrejas do Vêneto está na disposição da torre do sino: ela é independente do volume maior, instalada ao lado dele. Outro ponto típico italiano que aparece nesta igreja é o frontão logo acima da porta de entrada.
Cemitério de Santa Felicidade
Um dos exemplos mais singulares da arquitetura italiana em Curitiba é o Cemitério de Santa Felicidade, na Av. Manoel Ribas, 6655. Construído em 1896 por imigrantes italianos, tem uma estrutura semelhante aos cemitérios do Vêneto, com uma arcada formada por módulos, o chamado panteão. As 18 famílias que contribuíram para sua construção estão enterradas em 18 dos 19 módulos que formam esse panteão. O 19º módulo é uma capela, que fica centralizada. “Na Itália, os cemitérios são mais horizontalizados. Não vemos túmulos verticais como aqui”, afirma Batista.