Quando faltavam duas semanas para o festival musical TribalTech, um grupo de profissionais do design e da arquitetura recebeu um desafio: transformar completamente um dos ambientes da Usina 5, que vai sediar o evento. Para isso, deveriam utilizar o máximo de materiais de descarte e entulhos que conseguissem aproveitar.

A proposta veio de Ticiana Martínez, da Ôda Design Club, que foi convidada para fazer a decoração do lounge que vai servir como backstage da TribalTech. “A Malu e o Patrick Cornelsen, aqui da Usina 5, tinham o desejo de fazer um backstage mais contemporâneo e inusitado. Quando fiz minha primeira visita para entender a atmosfera do lugar, percebi que eles tinham vários materiais descartáveis que eram restos da fábrica Diana, que ocupava este espaço antigamente”.

Para coordenar este projeto e atuar como uma espécie de diretor de arte e cenografia, Ticiana convidou o designer paulista Marcelo Stefanovicz, do Studio Stefanovicz, e montou uma equipe formada por ele e pelos designers e empresas Eduardo Bragança, Nati Nicz, Ana Penso, Leo Sokolovicz, Daniel Ferrarezi e Diego Sebastian, da Wood Skull, Luan Valloto, Henning Kunow, Cannelle Design, Dsgn Selo e Consuelo Cornelsen. Assim nasceu o Coletivo Oda/Projeto Usina 5.

Depois de se reunir e analisar o local, o grupo desenvolveu a ideia. “Eu desenhei alguma coisa, eles também desenharam algumas coisas e fizemos a composição destes desenhos neste espaço, fazendo uma espécie de cenografia. Eu trabalho mais com metal, mas a gente está tentando usar o que cada um tem de ponto forte. Tecido, lona, metais, madeira, não tem um tipo de elemento só, cada um trouxe um pouco”, conta Marcelo.

Com o objetivo de reaproveitar, reusar e ressignificar, preservando, ao mesmo tempo, a história do local, eles iniciaram a renovação do espaço dando novas propostas e funções a objetos como grades de chão, cofres, armários de metal, cadeiras de auditório e arquivos de cartão ponto.

“Eram materiais incríveis e de muita história, produtos e de matéria-prima que me fizeram pensar em, ao invés de fazer uma dinâmica de mobiliário locado, que é o habitual, convidar um grupo de designers, de pessoas que eu sei que sabem mexer com este tipo de trabalho, para a gente ressignificar estas peças, para a gente trazer vida novamente para este material que está em descarte, que é entulho”, diz Ticiana.

Foi esta proposta que justificou a escolha de Stefanovicz, cujo mote principal de trabalho é o reuso. Somente materiais complementares foram trazidos de fora, como os restos de tecido para o enchimento dos assentos de um dos pufes gigantes que estarão disponíveis no lugar.

“Depois de medir a quantidade de coisas que a gente tinha para fazer os enchimentos dos bancos é que a gente foi buscar retalhos de tecido, que seriam descartados por fábricas de malharia, então conversamos com vários, alguns doaram, outros a gente comprou por um valor melhor. Então conseguimos dar reuso não só para o que tinha aqui, mas até para coisas de fora”, relata.

Após muito soldar, martelar, combinar e compor, os designers chegaram a uma proposta de ambiente que passa uma mensagem: é possível reutilizar com sofisticação. “É um tema que é obrigatório hoje em dia e o papel deste trabalho também é uma contribuição para apresentar um projeto de reuso para a sociedade. Tem também uma temática educativa, o resultado vai ficar muito bonito então tenho certeza que as pessoas vão olhar e perceber muita beleza no reuso e na ressignificação”, reforça Ticiana.

Para Stefanovicz, isso também faz com que, além de reaproveitar, se gere menos descarte. “Em um evento deste porte, ou em qualquer evento, a gente produz muito resíduo e acho que cada vez mais a gente tem que pensar no que vai sobrar. Não tem como ser completamente sustentável, mas a gente está fazendo o possível para usar o máximo que conseguir. O que era lixo agora é nicho, cadeira, banco, iluminação e mesa de apoio”.

O lounge decorado pelo Coletivo Ôda Design estará aberto a partir do início do TribalTech, que começa neste sábado (22) às 14h, na Usina 5 – Rua Constantino Bordignon, 5 – Prado Velho.