Arquitetura

Com paisagem tombada, Comendador Araújo é vitrine da história arquitetônica de Curitiba

HAUS*
18/09/2017 10:30
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Vista geral da rua Comendador Araujo entre as ruas Desembargador Mota e Benjamin Lins. | Hugo Harada

Localizada na região central, a Rua Comendador Araújo é uma vitrine quando o assunto é a história arquitetônica de Curitiba. Em suas cerca de sete quadras, é possível contemplar de prédios modernistas e edifícios contemporâneos a palacetes que remontam a uma cidade de outros tempos.
Tal fato, inclusive, fez com que parte do conjunto urbano do logradouro, localizado entre as ruas Desembargador Motta e Benjamin Lins, fosse tombado pelo Patrimônio Estadual em 2004, como forma de preservar os casarões de arquitetura eclética e manter vivo um importante momento da economia e da urbanização da capital.
Foto: André Rodrigues/Arquivo/Gazeta do Povo
Foto: André Rodrigues/Arquivo/Gazeta do Povo
A Rua Comendador Araújo foi, no passado, a antiga Estrada do Mato Grosso. O caminho fazia a ligação entre a capital e os Campos Gerais, sendo um dos principais corredores por onde circulou a erva-mate, cujo ciclo econômico atingiu seu ápice no século 19. “Ela era o antigo caminho para o oeste, onde os ervateiros e os industriais alemães construíram suas mansões”, acrescenta Salvador Gnoato, arquiteto e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
“Estes imóveis, hoje, atuam como representantes do grande desenvolvimento econômico da época em que foram construídos e permanecem como testemunhos deste período”, acrescenta Sergio Marcos Krieger, chefe da Coordenação do Patrimônio Cultural do Estado (CPC). Entre eles está o casarão localizado nas esquinas das ruas Comendador Araújo e Coronel Dulcídio, onde morou o então presidente da província do Paraná Vicente Machado da Silva Lima, como lembra o arquiteto e especialista em patrimônio Cláudio Maiolino, professor de conservação e restauração da PUCPR.
Ainda segundo ele, o trecho conta com uma “área de céu” maior do que a presente nos espaços verticalizados da cidade, decorrente da menor escala e densidade do endereço, o que só foi mantido devido ao tombamento.

Mix arquitetônico

Do início da via, na Praça Osório, até a Desembargador Motta, por sua vez, o que se vê é uma mescla de construções históricas e contemporâneas que convivem em harmonia oferecendo de comércios e serviços a moradia e lazer.
Rua Comendador Araújo. Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo
Rua Comendador Araújo. Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo
Já nas primeiras quadras da via, os casarões que abrigam a Glaser Presentes e o Shopping Omar – onde funcionou a primeira sede da Universidade Federal do Paraná (UFPR) – têm como vizinho o empreendimento Universe Life Square, um dos mais altos de Curitiba com 152 metros de altura.
Rua Comendador Araújo. Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo
Rua Comendador Araújo. Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo
A poucos passos dali ícones do modernismo e do brutalismo curitibano se erguem em arcos e vigas de concreto. É o caso dos edifícios Gemini e Canadá, assinados pelo arquiteto Elgson Ribeiro Gomes. Construído em 1970, o primeiro apresenta duas torres residenciais e elementos vazados modelados especialmente para o prédio. Já no segundo, destaca-se a fachada que lembra pinhões estilizados e o fato de ser considerado o primeiro lançamento de um apartamento por andar na cidade.
Rua Comendador Araújo. Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo
Rua Comendador Araújo. Foto: André Rodrigues / Gazeta do Povo
“Fora do trecho tombado verticalizaram tudo. O Executive Center Everest é [outro] marco da arquitetura moderna em concreto, [por exemplo]. Mas, para ser ter algo novo é preciso perder alguma coisa. A pergunta que fica é até que ponto é mais importante a verticalização à preservação patrimonial?”, questiona Maiolino.
Para o arquiteto Salvador Gnoato, a chegada dos “novos” empreendimentos faz com que o uso da rua esteja antenado aos atuais conceitos de urbanismo, que dão preferência ao pedestre. “É uma rua de tráfego médio, agradável para se andar a pé. Ela é um modelo. Mais ruas como a Comendador Araújo deveriam existir na área central da cidade”, sugere.
*Por Sharon Abdalla e Luan Galani.

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