Arquitetura

David Bastos conta sobre sua trajetória na arquitetura

Daliane Nogueira
03/11/2011 02:32
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David Bastos não poderia ter escolhido cenário mais inspirador para instalar o seu escritório: o Trapiche Adelaide, na Baía de Todos os Santos, Salvador. O local se transformou, nos últimos anos, em uma das regiões mais sofisticadas e charmosas da Bahia. E ele faz parte dessa transformação, pois foi responsável por vários projetos da região.
A arquitetura entrou na vida do baiano ainda na juventude. Mas, além da técnica apurada, Bastos é um incansável investigador da emoção de seus clientes. Para ele, este é o segredo do sucesso de um projeto. Famosos como Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Nizan Guanaes, Joyce Pascowitch, entre tantos outros, estão na lista de clientes do escritório que tem uma filial em São Paulo.
Apaixonado pelo que faz, o profissional é reconhecido pelo “estilo David Bastos”, que traz arquitetura e decoração com simplicidade, elegância e um jeito baiano de morar. Neste papo com a Viver Bem Casa & Decoração, ele contou um pouco de sua carreira e do conceito que leva para seus projetos.
São 30 anos de profissão e uma marca que é hoje reconhecida em todo o país. Conte um pouco da sua trajetória na arquitetura.
Sou formado na Universidade Federal da Bahia, em meados dos anos 1980. E, antes mesmo de deixar a faculdade, fiz um estágio muito interessante na favela de Alagados, em Salvador. Lá fiz um trabalho muito rico de análise das construções. Mas o que me chamava mais atenção nessas casas era a relação das pessoas com o morar, a vontade de ter um espaço confortável na medida de suas possibilidades.
E isso influenciou o seu trabalho de que forma?
Acredito que principalmente em perceber que o ato de morar está além da arquitetura. Perceber o prazer que se tem em morar. Eu via pessoas procurando ter uma casa mais arejada, bem iluminada, com conforto visual e um acabamento digno, independentemente da condição financeira.
Nessas três décadas de carreira, o que você acha que mudou nas relações das pessoas com suas casas?
E o que é morar bem? Morar bem é ter conforto. E o luxo não está no preço da casa, mas no espaço que ela oferece e, principalmente, no tempo que você tem para curtir sua casa. O tempo é um verdadeiro luxo que merece toda a valorização. Acho que isso mudou bastante nesses anos. Percebo que as pessoas valorizam cada minuto que ficam em casa.
Apesar dessa aparente simplicidade, vê-se também uma crescente glamourização da decoração. Como é esse processo?
A arquitetura de interiores trabalha com a estética, que muda muito com os anos. Trabalho com o prazer das pessoas. E muitas gostam de ter uma casa para exibir, outras preferem o máximo conforto para a família. Mas não existe pecado no morar, o pecado é você morar em desacordo com o que acredita.
Todo o início do seu trabalho foi na Bahia. De que forma a natureza exuberante influencia o seu trabalho?
Eu não gosto de nada que atrapalhe o olhar, não gosto de obstáculos. Por exemplo, não gosto de paredes de tijolo, prefiro as de vidro, que permitem que o olhar vá para todos os cômodos e para além da casa. Creio que, como Salvador tem mar, esse aspecto tenha ficado mais apurado. Mas não limito isso para as cidades com elementos naturais. Posso decorar um apartamento em um prédio no centro de uma grande cidade, que vou privilegiar a mesma questão.
Você acredita que a sua marca sempre fica impressa nos projetos?
Com certeza. Você pode ter uma casa de praia, uma casa de cidade ou uma loja; em todas elas eu tenho a minha liberdade para criar. Em qualquer projeto meu que você conheça, haverá uma preocupação com a preservação das áreas livres.
Quantos projetos já saíram da prancheta (computador) de David Bastos?
Não sei exatamente, mas considerando ao menos dois por mês, digo que são mais de 700 projetos. Boa parte deles na Bahia, mas há também no Rio, São Paulo, Brasília, Espírito Santo, Santa Catarina, Mato Grosso e tive um projeto em Curitiba, mas já faz muito tempo. Fora do Brasil, tenho algumas coisas em Portugal, Estados Unidos, Dubai.
Hoje você tem um escritório em São Paulo. Como foi a transição para uma cidade já bastante povoada de grandes nomes da arquitetura?
São Paulo concentra boa parte dos fornecedores. Cheguei aqui naturalmente. Hoje permaneço mais em São Paulo do que na Bahia. Faço parte da cidade.
Quem é o seu ídolo na arquitetura?
Sou muito fã do Oscar Niemeyer. Ele está com mais de cem anos e boa parte de sua produção foi feita quando ele tinha entre 40 e 60 anos e você olha hoje para esses projetos e eles são atuais. Um exemplo que acho extraordinário é pensar que ele é ateu e comunista e fez aquela basílica maravilhosa de Brasília. Ele merece todo o nosso respeito e admiração.
Ele te inspirou?
Em termos de projeto não, mas no estilo de vida, na simplicidade, na sensibilidade, inspira a qualquer pessoa que observe sua vida e obra.