Arquitetura

Das ideias ao papel, do projeto ao canteiro de obras

Gazeta do Povo
20/05/2010 03:12
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Júlio Maciel e sua esposa acertam os detalhes do projeto da casa com as arquitetas Letícia Feres (à frente) e Viviane Loyola

Quem pensa em construir normalmente tem em mente como seria a casa dos sonhos. Mas antes de colocá-la em pé, é necessário projetá-la com segurança. Assim o primeiro profissional a ser consultado é um arquiteto habilitado no Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea).
“Não é sempre assim que acontece, mas seria o ideal”, diz Jeferson Dantas Navolar, presidente do departamento Paraná do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB). Ele explica que se aventurar na construção sem um projeto implica em falta de qualidade da obra, desperdício e, quase sempre, frustração.
Para escolher esse profissional a melhor forma é visitar obras assinadas pelo arquiteto, colher referências confiáveis e participar de vários encontros com ele. “Caso o usuário não tenha uma indicação, a dica que dou é reunir três ou quatro nomes e conversar com cada profissional antes da escolha”, aconselha Paulo Ritter Oliveira, coordenador da Câmara de Arquitetura do Crea-PR.
Ter certeza da disposição de cada cômodo, entradas, posições dos móveis, também faz muita diferença. “Com tudo resolvido é pouco provável que o cliente queira alterar detalhes na execução da obra”, diz a arquiteta Viviane Loyola.
Ela e sua sócia, Letícia Feres, estão desenvolvendo o projeto da residência do empresário Júlio Maciel, 45 anos. Essa é a primeira vez que a família se aventura na construção de um imóvel, que terá cerca de 500 metros quadrados. “Minha família sempre quis uma casa personalizada, segura e confortável”, diz Maciel.
Para escolher o escritório de arquitetura o empresário procurou referências e conheceu obras já executadas pela arquiteta em terrenos similares ao que dispõe. “Começamos o projeto no ano passado, mas ainda tínhamos dúvidas do que queríamos. Ao visitar outros imóveis, mudamos alguns conceitos e agora estamos fazendo um novo projeto”, comenta o empresário.
Para ele, a relação de confiança com as arquitetas está sendo a melhor forma de ter segurança. “Passamos nossas necessidades e ela traduz dentro do projeto que podemos visualizar na perspectiva.”
As imagens em 3D são, normalmente, feitas com recursos tecnológicos. Há vários softwares que viabilizam perspectivas mostrando, interna e externamente, inclusive com iluminação e mobília, todos os cômodos da casa.
Amadurecimento
As primeiras reuniões com o arquiteto servem para listar as necessidades de cada membro da família e tentar unificar um formato da casa. “Alguns detalhes como a insolação do terreno, posição da casa e características das edificações vizinhas, devem ser avaliadas pelo arquiteto antes de iniciar o projeto”, aponta Navolar.
No caso do escritório de Viviane e Letícia, são solicitados 30 dias para um estudo preliminar. Ao final desse período é entregue um esboço da planta e a ideia da fachada. Com a aprovação, são necessários mais 30 dias para o detalhamento do projeto arquitetônico. “Depois dessa fase, damos início ao projeto executivo, que servirá para conseguir a liberação do alvará de construção”, diz Viviane.
É importante que cliente e profissional estabeleçam e aprofundem uma relação de confiança. Repassar ao arquiteto todos os anseios, dúvidas, preferências e gostos é a melhor forma de chegar ao projeto ideal que contemple aspectos de conforto ambiental, (insolação, luminosidade e acústica), tecnológicos (sistemas construtivos, resistência e durabilidade) e econômicos (relação mais adequada entre custos, benefícios e padrão desejados).
“No Japão, um cronograma é 50% projeto e 50% obra. No Brasil, esse tempo é em média de 10% para o projeto. O ideal seria chegar a 30%”, compara o diretor do IAB.
Para Navolar, a primeira relação com o arquiteto deve ser a de qualidade e em seguida devem vir os critérios de preço. O IAB disponibiliza em sua página na internet (www.iab.org.br) uma tabela de referência com honorários para arquitetos. Não se trata de valores obrigatórios, mas é uma forma de o contratante ter uma ideia do preço praticado pelo mercado.
Há ainda a possibilidade de o proprietário procurar diretamente uma empreiteira que concentra todos os profissionais responsáveis por projeto e execução. “As construtoras costumam trabalhar com parceiros, sempre dando suporte ao cliente. Mas o primeiro passo é encaminhá-lo a um arquiteto”, explica Syonara Thomé da Silva, diretora da construtora Greenwood.
Complementares
Ao terminar o projeto arquitetônico é preciso promover uma reunião com o engenheiro civil, escolhido pelo cliente, ou com a construtora que se encarregará da execução. “A partir do projeto arquitetônico, todos os profissionais envolvidos contribuirão para fazer os projetos complementares que vão compor o projeto executivo”, explica Viviane.
Os projetos complementares indispensáveis são o estrutural, o hidro-sanitário e o elétrico. O estrutural deve ser feito pelo engenheiro civil que irá acompanhar a execução da obra e é fundamental para dimensionar as estruturas, geralmente de concreto armado, que vão sustentar a edificação. “Uma estrutura com lajes, vigas, pilares e fundações superdimensionados representa custos altos e não significa obrigatoriamente segurança”, diz Ilya Pereira Raffo, engenheiro da construtora Greenwood.
O projeto de instalações elétricas deve ser elaborado por um engenheiro eletricista que fará o dimensionamento das cargas elétricas, detalhará os fios, eletrodutos e disjuntores. O hidro-sanitário pode ser feito por um engenheiro civil ou por um arquiteto, prevendo a distribuição das tubulações de água e esgoto.
Raffo ressalta que a maioria das residências projetadas pede ainda projetos especiais como o de gás, para aquecimento de água, de automação, para uso de tecnologia de comunicação e de climatização, como o ar-condicionado ou a calefação. “O mais aconselhável é contratar empresas especializadas em cada uma dessas áreas para fazer o projeto”, recomenda. Outro alerta importante é quanto à conservação dos projetos. Deve-se guardar todos os desenhos e especificações da obra, eles serão importantes para futuras reformas ou na hora de vender o imóvel.