Arquitetura
Coisa de cinema: arquiteta curitibana atua como set designer em filmes de Hollywood
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Alguns arquitetos projetam ambientes internos e externos, outros planejam cidades e há aqueles com um pé no design autoral. Mas há os que traçam uma trajetória diferente do tradicional. É o caso da brasileira Daniela Medeiros, arquiteta pela PUC-PR e designer de mobiliários pela UTFPR.
Depois de um mestrado em Design de Produção no American Film Institute de Los Angeles, nos EUA, ela descobriu que podia exercer a profissão que escolheu de um jeito que foge do convencional: trabalhando nos bastidores dos filmes de Hollywood. Desde então, conseguiu espaço nos grandes estúdios e participou da criação e desenvolvimento de cenários de blockbusters como “Thor: Ragnarok”, “Godzilla: King of Monsters”, “Homem-Formiga e a Vespa”, “Gemini Man” e “A Freira”.]
Nos conte um pouco da sua carreira. Como você foi parar em Hollywood trabalhando nos sets de cinema?
Assim que me formei em Arquitetura e Design, fui em busca de um caminho profissional que fosse ao mesmo tempo desafiador, criativo e dinâmico. Como havia tido uma matéria sobre arquitetura no cinema na ETSAM em Madrid, pesquisei sobre o tema e resolvi entrar em um curso curto de cinema para agregar mais conhecimento sobre a área e, por fim, me ajudar a decidir se este era o caminho que queria seguir.
Que tipos de formação são sugeridas para atuar com arquitetura dentro do universo do cinema? Como foi isso, no seu caso?
Os contatos que fiz nesse curso me trouxeram oportunidades de trabalhar em curtas-metragens que me convenceram de que era isso que queria fazer na minha vida profissional. Portanto fui atrás de um curso mais completo na área de Production Design, e depois de muita pesquisa encontrei o American Film Institute. Me inscrevi, fui aprovada e em menos de um mês eu estava em Los Angeles fazendo meu Mestrado. Depois de graduada, comecei a trabalhar em empresas com foco em design de Parques Temáticos. Até que, em 2016, tive minha primeira oportunidade de trabalhar em um filme de grande porte, “Thor: Ragnarok”, que me levou para a Austrália por cinco meses. Desde então tenho trabalhado geralmente em longas-metragens de alto orçamento na posição de designer de set, mas também fui designer de produção em filmes como “All These Voices”e “Icebox”. Ambos foram premiados, incluindo um Student Academy Award (Oscar Estudantil) para “All These Voices”. Em 2016, ganhei Best Production Design no festival 24FPS.
Entre os seus trabalhos estão a atuação com set designer de “Homem Formiga e a Vespa”, “Thor: Ragnarok”e “A Freira”. Como foi sua participação nestes filmes?
Trabalhei como Set Designer, ou seja, era responsável pela criação dos espaços arquitetônicos onde as cenas aconteceriam. Meu trabalho consistia na conceituação do espaço, modelagem em 3D e detalhamento construtivo.
Quais ambientes você ajudou a planejar/decorar em cada filme?
Em “Homem-Formiga e a Vespa”, o set mais interessante no qual trabalhei foi a casa da Fantasma/Ava (Hannah John-Kamen), onde ela tem a câmara que a mantém viva. Em “Thor: Ragnarok” fui responsável pela Arena onde os personagens do Thor (Chris Hemsworth) e Hulk (Mark Ruffalo) lutam, um lixão de peças espaciais, partes da cidade de Sakaar, entre outros. Fiz também o quarto do Hulk, o apartamento da Valkyrie (Tessa Thompson) e desenhei parte da área externa de Sakaar, a cidade colorida e cheia de ângulos onde está a arena. Em “A Freira”, eu desenhei uma sala de aula que aparece no começo do filme.
Pode pontuar os principais desafios de se elaborar cenários cinematográficos?
Acredito que seja entender como aquele espaço será filmado, ou seja: necessidades como amplitude e luz, paredes móveis, fundos de mentira ou chroma key, se será preciso estar sobre uma plataforma, etc. Isso tudo só se define com reuniões e trocas de informações entre departamentos.
E os episódios mais complexos na elaboração destes cenários, quais foram?
Em “Thor: Ragnarok”, a complexidade das formas, sempre com muitos ângulos, era um grande desafio. Tínhamos que modelar em 3D e criar detalhamentos para que a equipe de construção pudesse montar tudo. Não era fácil, mas sempre muito legal, ainda mais quando a gente vê [os cenários] de pé.
*Especial para Haus.