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Arquitetura

Conversa de elevador

Por Marcos Kahtalian*
09/05/2023 18:53
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Todo mundo tem alguma história para contar sobre elevadores. E não estou me referindo àquela típica conversa de elevador – o tipo de platitudes educadas que já tem quase uma sociologia própria e que todos praticam. Refiro-me a causos mais tensos. Sobre elevadores que param de repente, portas que não abrem – ou abrem no lugar errado – e, sobretudo, daqueles terríveis momentos em que o elevador enguiça com você dentro. Levante a mão quem nunca pensou ou passou por uma situação dessas, sobretudo aqueles mais claustrofóbicos. Mas, o mais comum mesmo, não são essas histórias e sim a cotidiana paralisia dos elevadores. Aquela plaquinha colocada: elevador indisponível, sob reparo. Com a consequência inevitável de engarrafamento do fluxo de passageiros, com aquele mau humor latente, característico a um fim de dia cansativo. De fato, elevadores são pensados para otimizarem o fluxo dentro do conjunto de moradores de um condomínio e o elevador parado, para o condomínio também. Dá para dizer que esse é um dos grandes assuntos e dramas da administração condominial, quando com muita frequência, os elevadores estão sempre “parados”. Lembro de uma série televisiva que o elevador do prédio estava sempre com a placa de interditado. Era engraçado porque não era com você.
Se os elevadores trazem um tremendo alívio e são cada vez melhores, mais rápidos, confortáveis e seguros (já defini certa vez o “homo apartamentus” como aquela estranha espécie que vai para casa de elevador) é preciso refletir muito bem não apenas na escolha e planejamento deles em um empreendimento, quanto também na sua manutenção cuidadosa, e nas possibilidades de contar com geradores e planos de contingência quando for o caso. É claro que você pode usar as escadas de vez em quando – quem sabe até o terceiro, quarto andar -, mas pouca gente vai se aventurar mais do que isso.
Felizmente a indústria e os incorporadores vêm cada vez mais qualificando esses produtos e nem de longe se assemelham aquelas engenhocas do passado. Lembram da porta pantográfica? Daqueles botões pretos que marcavam os andares e viviam quebrados? Das teclas que mesmo que você apertasse com força nunca sinalizavam o andar? Ou dos estranhos guinchos e estrondos súbitos, baques e saltos, que emitiam aquelas máquinas como se fossem alguma espécie animal das profundezas? Era assim.
Hoje vemos elevadores com reconhecimento digital, elevadores inteligentes, com muita eletrônica embarcada, controles de temperatura, painéis informativos e tudo o mais que a criatividade e o dinheiro permitem. Mas isso nos apartamentos novos, nos prédios comerciais, naqueles produtos mais sofisticados. Para a imensa maioria dos elevadores – e de nós – o que precisamos mesmo é contar com um bom plano de manutenção. Assistência técnica eficiente e aqui vale lembrar o quão deficiente são os processos de manutenção na grande maioria dos condomínios. Nos novos projetos, boas empresas vem incorporando os manuais de manutenção da edificação com bastante detalhamento. Temos que prestar mais atenção a esse documento, porque não vale a pena lembrar dele só quando aparecem problemas.
Vale a pena se lembrar disso quando estiver subindo para seu apartamento hoje. Mas esse não é um bom assunto pra puxar papo no elevador. Como se diz por aí, chame o síndico.
*Marcos Kahtalian é sócio fundador da Brain Inteligência Estratégica