O verão está chegando

Arquitetura

Conheça soluções para preparar as casas para o calor

Vivian Faria, especial para HAUS
07/11/2023 10:46
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Nas fachadas, a estratégia mais utilizada é a de sombreamento, principalmente sobre os vidros, e uma opção é utilizar brises. | Bigstock

Em um país tropical como o Brasil, toda edificação precisa oferecer abrigo do sol e do calor, mesmo nas regiões mais frias. Em maior ou menor grau, todo o país passa por seus dias quentes e o preparo para eles é importante tanto para moradores, trabalhadores e usuários desses espaços quanto para o meio ambiente.
“Pensar em conforto ambiental – que é térmico, acústico, lumínico e tátil – é dar uma solução para a saúde das pessoas e para a eficiência da edificação, o que está relacionado à sustentabilidade dela”, explica a professora de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB) Joara Cronenberg, que também é pesquisadora do Laboratório de Controle Ambiental e Eficiência Energética da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da instituição.
Isolar a laje é fundamental para dissipar o calor e garantir interiores mais frescos.
Isolar a laje é fundamental para dissipar o calor e garantir interiores mais frescos.
Para isso, não há uma receita ou fórmula mágica. Conforme os especialistas, cada edificação precisa ser adaptada ao local exato onde será inserida. É a partir do entendimento de questões como insolação e ventilação no terreno que os responsáveis por um projeto poderão buscar soluções para que a edificação seja termicamente agradável, sejam elas relacionadas ao projeto, ao sistema construtivo, aos materiais ou a tecnologias.
“No Brasil, as soluções para cada região são bem diferentes. No Nordeste a ventilação natural é muito boa, então temos que projetar casas que aproveitem isso, que tenham baixa inércia térmica [capturem pouco calor do ar interno] e que sejam leves”, exemplifica Fabrício Lucchesi, sócio da consultoria de arquitetura bioclimática e eficiência energética Hygge. “Em Curitiba, a estratégia envolve isolamento térmico, proteção solar de verão e esquadrias de alto desempenho”.

Do projeto à construção

Isolamento térmico.
Isolamento térmico.
Em termos de projeto, o primeiro passo para preparar uma edificação para o calor é pensar na orientação da construção. “Vivemos num país com uma grande oferta de luz natural e calor, então a solução mais básica é o cuidado para evitar o superaquecimento, o que passa por uma orientação que evite o excesso de irradiação dentro das edificações”, explica Joara.
Em linha semelhante, é preciso pensar nas aberturas para permitir a circulação de ar no interior dos edifícios.
Para a construção em si, o segredo está na combinação entre sistemas construtivos, materiais isolantes e acabamentos. A alvenaria convencional feita com blocos cerâmicos, por exemplo, já contribui para o conforto térmico. “Temos uma cultura do tijolo cerâmico vazado, que tem um bom nível de isolamento térmico não só pelo material, mas também porque os blocos são vazados e criam cápsulas de ar sem movimentação”, explica o arquiteto e diretor da consultoria em conforto ambiental Ca2 Marcelo Nudel.
Ao ser associada a materiais isolantes nas coberturas de casas e prédios, acabamentos que criam sombreamento e outros materiais voltados para o conforto térmico, o efeito é ampliado. Isso também vale para a alvenaria que se utiliza de blocos de concreto vazados e/ou celular, para o steel frame e para a madeira engenheirada, por exemplo. Nos dois últimos casos, é preciso considerar os materiais que vão formar as paredes.
Pensando em calor, o tipo de construção menos recomendado é o que usa paredes de concreto moldadas in loco. Isso porque o concreto não é um bom isolante térmico – característica atenuada em blocos vazados ou no concreto celular, mais poroso. “Mas até elas podemos adaptar com chapas de gesso do lado de dentro”, pondera Nudel: “não faz milagre, mas melhora.”

Coberturas e fachadas

Os vidros garantem iluminação natural e são associados a beirais e outras técnicas de sombreamento.
Os vidros garantem iluminação natural e são associados a beirais e outras técnicas de sombreamento.
Escolhido o sistema construtivo, é importante pensar na cobertura da edificação. “Os tetos e telhados são as superfícies por onde os edifícios recebem mais calor, então, recomendamos o uso de materiais não muito escuros, que possam refletir a luz solar e que tenham condutividade térmica adequada para que o sol não passe imediatamente para dentro”, orienta a professora da UnB.
No caso de lajes expostas, os principais materiais de isolamento utilizados são o poliestireno expandido (EPS) e o poliestireno extrudado (XPS). “No caso do EPS, que é um isopor, você faz uma laje de concreto, coloca uma camada de 2 a 5 cm do material, faz uma proteção mecânica e, se for o caso, coloca a camada de piso”, explica Nudel. O processo com o XPS é semelhante e, de acordo com o diretor da Ca2, pode ter resultado superior.
“Quando você tem forro combinado a telhas de fibrocimento, por exemplo, há um risco enorme de acumular calor, especialmente se esse espaço não for ventilado. Então, é possível usar EPS ou XPS e fazer aberturas para ventilar o telhado, mas é preciso cuidar para não entrar água, porque isso vai danificar o material isolante”, diz.
Outras opções para telhados são isolamentos com lãs minerais, telhas termoacústicas – popularmente chamadas de telas sanduíche, por serem compostas por duas chapas metálicas com um material isolante no meio – e mantas de alumínio.
A análise de incidência de radiação solar feita num empreendimento da Swell mostra os pontos que tendem a ficar mais quentes.
A análise de incidência de radiação solar feita num empreendimento da Swell mostra os pontos que tendem a ficar mais quentes.
Independentemente da escolha, Nudel reforça: “sempre que usamos isolamento térmico nas envoltórias em locais de clima quente, isso pode causar problemas se não houver boa ventilação natural ou bom sombreamento dos vidros. Da mesma forma que o isolamento térmico vai reduzir o calor que passa de fora para dentro, ele vai reduzir o que passa de dentro para fora”, destaca.
No caso das fachadas, a estratégia mais utilizada é a de sombreamento, principalmente sobre os vidros. “Algumas opções são varandas, pergolados, telhados que passem o suficiente para proteger do sol, brises etc., itens que nossa arquitetura tradicional sempre usou”, enumera Joara. Cobogós, painéis em diferentes materiais e até plantas também podem ser utilizados.
Uma alternativa cada vez mais comum, principalmente nos empreendimentos comerciais e corporativos, é o uso de fachadas ventiladas, ou seja, aquelas em dupla camada, com a “segunda pele” da edificação instalada em armações de alumínio ou aço a certa distância da alvenaria. “Elas funcionam como um anteparo para que a parede do prédio não receba radiação solar direta”, explica Nudel. Além disso, o espaço entre as camadas permite a circulação de ar.
Quando toda a fachada é feita em vidro, material que também teve uma ampliação de uso, o cuidado precisa ser redobrado para que a edificação não se torne uma estufa. Além dos sombreamentos, é possível optar por vidros tratados para oferecer maior proteção contra a irradiação solar.
“No vidro, olhamos para três fatores: a transmitância térmica [taxa de transferência de calor], o fator solar e a transmitância luminosa”, explica Fabrício Lucchesi. “Mas de nada adianta eu colocar o melhor vidro do mundo na pior parede do mundo ou usar uma esquadria qualquer. Tudo tem que ser levado em conta”, reforça.