Se você vê no cinza a única tonalidade possível para projetos que tenham o concreto aparente como destaque, saiba que está enganado. Menos "famoso", mas igualmente impactante quando a referência é o apelo estético, o concreto pigmentado de preto mantém o tom de resistência e brutalidade do material, porém com um toque a mais de elegância nos projetos que fazem uso dele.

Apesar de incomum, o processo de pigmentação de concreto não é uma novidade. Desde a década de 1950 iniciaram-se experimentações para dar cor ao material, o que consiste em nada mais do que incluir algum tipo de pigmento, na forma de pó ou líquido, aos agregados (areia e/ou pedra) do concreto ainda secos, em uma quantidade de 2 a 5% sobre o peso do cimento. Assim, toda a mistura torna-se pigmentada, ainda que somente uma pequena parte torne-se visível.

Para o concreto preto, especificamente, costuma-se adicionar óxido de ferro (Fe3O4), encontrado na natureza como o mineral magnetita. Quando adicionadas ao traço do concreto, as partículas de óxido de ferro englobam e revestem as partículas de cimento, por serem dez vezes menores. É por isso que a quantidade de pigmento é dosado com base na quantidade de cimento, e não na de areia, brita ou água.

Outra possibilidade, menos recomendada, é a de se utilizar fuligem e seu derivado negro de fumo na mistura para conseguir uma superfície ainda mais escura. Porém, enquanto os pigmentos de óxido de ferro ligam-se ao cimento e se tornam parte permanente da matriz de concreto, o negro de fumo não. Quando a água evapora, ela pode extrair o carbono, fazendo com que o concreto desbote mais facilmente.

Em ambos os casos, a pigmentação do concreto não afeta as características físicas e a resistência do material, que mantém o desempenho convencional. Sua função é, sobretudo, estética e sua utilização requer um processo mais controlado, sendo idealmente realizada por fornecedores especializados.

Outra questão a se levar em conta é que, posteriormente à obra, para qualquer remendo ou manutenção a ser feito na superfície deverá se ter o cuidado de se chegar à tonalidade original, o que faz da boa documentação de projeto imprescindível para isso. Estes elementos podem encarecer o processo, quando comparado ao concreto cru, o que pode ser compensado levando-se em conta que ele dispensa o uso de revestimentos, que estão entre os mais elevados investimentos de uma obra, tornando seu custo-benefício interessante.

Conheça quatro projetos que têm o concreto preto como destaque!

Localizada nas proximidades da cidade de Kladno, na República Tcheca, a ponte sobre o rio Dřetovice tem projeto assinado por Ondřej Císler, da Aoc Architects, e Petr Tej, do Instituto Klokner de Praga. A estrutura de concreto faz parte de uma trilha de pedestres que liga a vila e o cemitério da localidade.

Os arquitetos basearam sua abordagem em um conceito espiritual, imaginando a ponte como uma porta entre "o mundo dos vivos e dos mortos". O projeto destaca-se pela leveza e sutileza com que interfere na paisagem.

O concreto preto é um dos quatro materiais que compõem a Casa Bruma, das arquitetas Claudia Rodríguez e Fernanda Canales. Somam-se a ele madeira, pedra e vidro.

O programa contempla nove blocos segmentados, que abrigam todos os ambientes da casa e são adaptados à topografia do terreno, aparecendo e desaparecendo entre a paisagem mexicana.

Uma das mais importantes e conhecidas ruas comerciais do país, a Oscar Freire (SP) é o endereço da loja Garoa. Construída em um terreno de esquina, a edificação destaca-se como uma "pedra esculpida", que contrasta a tonalidade escura do concreto e o recorte da vitrine, que expõe aos transeuntes a luminosidade e o colorido do espaço interno.

O projeto, assinado pelo Una Arquitetos, é de 2010 e ainda traz vidro e tijolos como principais elementos.

Na Residência Comano, localizada em Lugano, Suíça, os arquitetos do Attilio Panzeri & Partners optaram pelo concreto negro não apenas na fachada, mas também no interior do imóvel.

O resultado é uma estética rústica e opaca, exaltada pela luminosidade abundante decorrente das grandes aberturas em vidro.

*Com informações do Archdaily Brasil.