Arquitetura
Concreto aparente volta à moda

Fachada de casa em Governador Celso Ramos, com projeto de Orlando Busarello, mistura concreto e madeira. Foto: Acervo Slomp & Busarello Arquitetos
Marca registrada na obra de Oscar Niemeyer, o concreto aparente virou mania nos anos 1970. Mas, desde então, nunca ficou completamente no anonimato. De tempos em tempos – como agora –, ele volta à cena em projetos imponentes e de personalidade marcante. Como o próprio nome diz, o concreto aparente descortina a estrutura da construção deixando à mostra vigas, pilares, lajes e até paredes inteiras, em um estilo industrial. Essa aparência, ao mesmo tempo despojada e elegante, é uma tendência na construção e também na decoração de ambientes. O tom cinza do concreto dá liberdade ao uso de diversos acabamentos, sem regras. Ele pode reinar absoluto, com o mobiliário como adereço, ou vir acompanhado de madeira, pedra, vidro e tijolo, normalmente os mais utilizados. “Os ambientes com paredes em concreto aparente são capazes de receber qualquer item de decoração com grande efeito, já que a crueza da técnica construtiva oferece um contraponto muito interessante para mobiliário, objetos e arte de qualquer procedência, de valor histórico ou itens luxuosos”, afirma o arquiteto Marcos Bertoldi.
Há dez anos, ele procurou a construtora Greenwood, de Curitiba, para executar o projeto de uma casa-galeria com a aplicação da técnica, para um amigo apaixonado por arquitetura e colecionador de arte contemporânea. Na época em que se iniciaram as conversas, Bertoldi diz que havia poucos clientes dispostos a comprar a ideia de uma casa em concreto aparente após um hiato de mais de 20 anos na aplicação do material em Curitiba. Isso se deu, em parte, à falta de profissionais especializados na execução de obras desse tipo. “Os arquitetos não se encorajavam a usar o concreto aparente pela falta de mão de obra e know how”, afirma Syonara Thomé, engenheira civil e proprietária da Greenwood, que atualmente é referência na execução de projetos desse tipo. Segundo ela, apesar de não ser uma técnica barata, o prazo de execução e outras etapas da obra é mais curto, uma vez que as tubulações ficam embutidas antes, já durante a concretagem.
Versatilidade
Sistema construtivo bastante versátil, o concreto aparente pode assumir qualquer forma ao ser moldado. Para o arquiteto Orlando Busarello, a possibilidade de construir formas bonitas e funcionais é só um dos muitos pontos positivos do material. “Poder retirar as formas e ver a obra pronta, sem a necessidade de revestimentos, com beleza, durabilidade, facilidade de manutenção e envelhecimento nobre são outras qualidades viabilizadas pela técnica”, diz. Aliás, as opções de apresentação final são bastante interessantes e diferenciam o trabalho. Busarello prefere o acabamento mais liso, apenas com a marcação das linhas de emenda do compensado das formas e pequenos círculos resultantes do sistema de ancoragem. “Este acabamento é ambientalmente mais correto e economicamente mais adequado, o compensado pode ser reutilizado e a superfície lisa absorve menos poluição.” Mas os moldes permitem outras variações, com vinco, ripado, contendo ou não a “impressão” das formas, e todas elas são exploradas pelos arquitetos de acordo com o projeto.
Para o engenheiro civil Cesar Henrique Sato Daher, sócio-diretor da Daher Tecnologia em Engenharia e professor da Universidade Positivo (UP), o concreto aparente é “uma espécie de pedra líquida”. A referência se deve à liberdade que se tem para moldá-lo. Mas, para usufruir dessa versatilidade, é imprescindível que alguns critérios sejam seguidos à risca. Segundo o engenheiro, a qualidade na seleção dos materiais que serão utilizados para preparar o concreto, a proporção, compactação e seleção dos moldes – que precisam ser muito bem acabados – são alguns aspectos que definem a qualidade final da obra e a sua vida útil, de 100 a 150 anos. Os problemas que podem surgir, caso esses aspectos não sejam observados, vão desde coloração amarelada à corrosão.
Sato compara o processo de produção do concreto ao modo de fazer de um bolo, em que não adianta escolher os melhores ingredientes se as proporções, a finalização e o acabamento não forem respeitados. Mas a tecnologia é hoje em dia uma grande aliada, e o preço está bem mais acessível – cerca de R$ 320 o metro cúbico.



