Investimento imobiliário

Arquitetura

Comprar, reformar e revender: conhecida como house flipping, prática vem se popularizando no Brasil

Vivian Faria, especial para HAUS
05/07/2023 13:20
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R3 surgiu inspirada na ideia do house flipping, mas realiza obras de retrofit em apartamentos como essa unidade do Ed. Excelsior. | Divulgação

Não foi para uso próprio ou para colocar para alugar que os engenheiros civis e sócios da R3 Retrofit Luiz Fernando Cordeiro e Rodrigo Filippini compraram dois apartamentos no Edifício Excelsior, empreendimento erguido na década de 1980 no Bigorrilho. Foi para submetê-los a um processo de retrofit e revendê-los com lucro, ideia inspirada no house flipping, modelo de investimento que vendeu 407 mil unidades nos Estados Unidos em 2022* – 8,4% do total de vendas de imóveis no país – e que ganha cada vez mais adeptos no Brasil.
“A ideia do house flipping é emprestada do mercado financeiro, de fazer um flip de uma ação”, conta Cordeiro. A prática consiste em comprar ações, geralmente aquelas de ofertas públicas iniciais (IPO), e vendê-las assim que a demanda faz o preço subir, o que acontece rapidamente no caso de IPOs. Para os imóveis, a proposta é comprar uma unidade a um valor competitivo e reformá-la para revendê-la a um preço mais alto, o que geralmente envolve casas e apartamentos mais antigos.
“O imóvel antigo nunca reformado acaba sofrendo depreciação. Assim, encontramos unidades antigas com um valor de compra bom, inferior ao de novas – o que é o principal segredo para esse tipo de investimento”, explica a arquiteta e fundadora da 4Inside Arquitetura de Resultados, Luiza Hafner. Para ela, que trabalha tanto com a consultoria para quem quer revitalizar um apartamento para venda quanto selecionando oportunidades para investidores, o house flipping tende a ganhar força no Brasil porque o país conta com grande contingente de imóveis antigos – e também pois os novos não estão cabendo no bolso das pessoas.
A proposta original do house flipping é fazer uma reforma simples e rápida para vender o imóvel pelo preço de mercado.
A proposta original do house flipping é fazer uma reforma simples e rápida para vender o imóvel pelo preço de mercado.
Além do valor, os imóveis antigos apresentam como vantagens as dimensões amplas, as plantas flexíveis e, principalmente, a localização, pois, em geral, estão em áreas centrais e bem servidas em termos de transporte, comércio e serviços. Porém, nem todos valem o investimento. É preciso avaliar a região e o que ela oferece, as condições do empreendimento, o valor do condomínio e as possíveis taxas com que o futuro morador terá de arcar.

Reforma x retrofit

Outro ponto que demanda atenção é o tamanho da reforma necessária para tornar o apartamento mais atrativo para novos moradores. “Os flippers estão focados em giro rápido”, resume Cordeiro. Isso significa que, de modo geral, eles querem tanto o investimento quanto o tempo de reforma sejam menores para que a venda possa acontecer em um período curto.
Não é o caso dos apartamentos citados no início desta reportagem. As unidades estão entre as primeiras adquiridas pelos engenheiros para dar início à R3 Retrofit, que surgiu com a proposta de comprar e revender imóveis retrofitados, mas hoje oferece também consultoria para o modelo tradicional de house flipping. “Começamos com projetos em que compramos o imóvel e investimos até 70% nele para vender por até 150% do valor inicial. Buscamos uma rentabilidade de, ao menos, 25%”, revela Cordeiro.
Os apartamentos do Ed. Excelsior, por exemplo, foram adquiridos por R$ 1.042.000. O retrofit, tipo de reforma que visa melhorar as instalações e modernizar o espaço preservando características originais, custou em torno de R$ 717 mil – a esse valor ainda foram somadas outras despesas, que totalizaram aproximadamente R$ 42 mil. Nove meses depois – cinco para a reforma e outros quatro até encontrar o comprador ideal –, as unidades foram vendidas por cerca de R$ 2,5 milhões e o retorno sobre o capital investido ficou em 26%.
Apartamento do Ed. Excelsior antes do retrofit.
Apartamento do Ed. Excelsior antes do retrofit.
Apartamento do Ed. Excelsior depois do retrofit.
Apartamento do Ed. Excelsior depois do retrofit.
“O pessoal do house flipping tradicional olha para uma rentabilidade um pouco menor: em geral, não passa de 15%. E a reforma é muito mais simples. Eles ‘dão um tapa’ no imóvel, muito parecido com o que o investidor de leilão faz”, diz Cordeiro. Outra diferença é o tempo investido no processo: se, no caso da R3, o retrofit tem duração média de quatro meses, a reforma pode ser feita em até 60 dias.

Recomendações

Independentemente do tipo de obra a ser feita, há algumas orientações para quem quer investir nessa proposta. “Antes de qualquer coisa, é essencial entender muito bem sobre o mercado no qual se vai atuar. É importante saber o que se está fazendo. Não adianta, por exemplo, querer colocar um superinvestimento num bairro que não vai valer tudo isso”, orienta Luiza.
Ela indica ainda conhecer o público-alvo e saber que tipo de projeto ele almeja. “Também não se pode subestimar a reforma: é preciso planejá-la para saber qual será o investimento e o resultado final. Se houver qualquer imprevisto, talvez algo tenha que ser cortado para a conta fechar”, diz. Nesse sentido, Cordeiro sugere tratar os projetos como planos de negócio e conversar com mais de um empreiteiro para desenvolver um planejamento factível para a obra.
Outra recomendação é deixar cozinhas e banheiros 100% equipados para facilitar a venda. “São os ambientes de que todo mundo precisa para entrar para morar”, justifica Luiza.
*Dados da Attom, curadora de dados sobre terrenos, propriedades e imóveis.