Arquitetura
Abrigo para crises humanitárias projetado em um dia por estudantes paranaenses recebe reconhecimento internacional
Projeto "Bulletproof Home" foi assinado por dois estudantes da UTFPR. Foto: divulgação
É possível uma cidade estar preparada para uma crise humanitária? Seja por conflitos armados, epidemias, crises de alimentos ou desastres naturais, essa triste realidade comum na sociedade contemporânea foi o tema que guiou a 24ª. edição do prêmio internacional de arquitetura Ideas Forward — e no qual dois estudantes paranaenses, Caroline De Carli e João Pedro Lopes Andrade, receberam menção honrosa. Ambos são estudantes da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR): ela, de arquitetura e ele, de engenharia civil.
A ideia do prêmio era, justamente, propor uma vila que estivesse preparada para não apresentar alguns dos problemas mais comuns decorrentes das crises humanitárias: falta de comida e abrigo, riscos à saúde e ao bem-estar de uma comunidade. Sem especificar o número de pessoas nem sua localização, os pré-requisitos exigiam o desenho de dois espaços: um que concentrasse centro médico, dormitórios para famílias, instalações sanitárias, refeitório, vestiário e depósito para alimentos; e um para receber equipes de voluntários. Detalhe: a partir do momento em que o tema é divulgado, os participantes têm apenas 24 horas para entregar todo o projeto.
No Bulletproof Home, os estudantes paranaenses propuseram abrigos modulares triangulares que, para serem transportados, podem ser montados, virando um hexágono e podendo ser carregados por drones. Um dos pontos altos é o seu material: os módulos seriam feito em kevlar, fibra sintética usada em coletes à prova de balas. “É um tecido duas vezes mais resistente que o aço e muito mais leve — mas é muito caro”, explica Lopes Andrade. “A empresa que produz esse tipo de material tem garantia para apenas uma bala, mas mesmo assim o tecido continua útil porque é resistente”. Por isso, a ideia é reaproveitar esse material inutilizado.
O projeto diferencia dois tipos de módulos para atender à proposta. Os amarelos funcionariam como dormitórios, enquanto os vermelhos concentrariam as funcionalidades. Cada face do triângulo teria 2,5 metros de comprimento, dando ao abrigo uma altura de aproximadamente 2 metros . “Nosso objetivo não era conforto, mas garantir a segurança“, conclui o estudante.
Projetos vencedores
O primeiro lugar ficou para Andrew Robertson, do Reino Unido. No seu projeto, The Crisis Fleet, a ideia era justamente desconstruir a ideia de acampamentos temporários, levando ao extremo sua característica efêmera: todas as instalações ficam em caminhões adaptados para cada uma das funções, otimizando o transporte.
Mais três brasileiros receberam menções honrosas nesta edição: Anderson Beuting, de Brusque (SC), e Gustavo Murilo Pessini e Uilian Marconato, de Santa Maria (RS). O júri do prêmio foi composto por cinco pessoas especialistas da arquitetura humanitária: João Santa Rita (Portugal), Bonaventura di Modrone (Itália), Pedro Novo (Portugal), Susel Biondi (Peru) e Chang Kyu Lee (Estados Unidos). Todos os premiados podem ser conferidos no site oficial da competição.
Essa não é a primeira vez que o casal é destaque em prêmios internacionais de design e arquitetura. Em março, os estudantes ficaram em 3º lugar no prêmio CLUE Competition com o projeto Awallness, que criava um muro alternativo na fronteira da Cisjordânia.