Colonia Roma: a história do centenário bairro mexicano que pode fazer história no Oscar 2019

Indicado ao Oscar em 10 categorias, vencedor do Bafta e do Globo de Ouro, entre outras centenas de nomeações. O filme ‘Roma’, disponível no serviço de streaming Netflix, do diretor e roteirista Alfonso Cuarón, depõe a favor da relação entre as pessoas e suas cidades.

Como estas, com seus bairros, suas ruas e suas referências arquitetônicas nos influenciam e moldam quem somos e quem nos tornaremos no futuro? No caso do filme, os componentes sociais e culturais da região em que o diretor cresceu, a Colonia Roma, foram a inspiração para que o cineasta construísse sua narrativa.

Parte do distrito de Cuauhtémoc, Roma está a menos de cinco quilômetros de uma das áreas mais turísticas da capital mexicana, o Bosque de Chapultepec, onde estão atrações como reconhecido Museu Nacional de Antropologia. À mesma distância, para o outro lado, está a praça do Zócalo e a região histórica mais conhecida da cidade, onde ficam alguns dos principais prédios públicos e a Catedral Metropolitana.

Mais do que um plano de fundo e quase um personagem na história contada por Cuarón, a Colonia Roma – hoje separada entre Roma Sur e Roma Norte – também divide espaço na cidade com sua vizinha Condesa. Procurando por hospedagens na Cidade do México, por exemplo, é comum encontrar recomendações em “Roma y Condesa”, dadas as similaridades entre as duas áreas, que, mesmo juntas, ocupam um espaço relativamente pequeno dentro da gigantesca metrópole que é a capital mexicana.

Passeando pelas ruas de Roma, é fácil identificar os elementos que aparecem na estética de Cuarón – a grande quantidade de cabos da rede elétrica, a abundância de árvores, as casas baixas de concreto. A grande diferença é que, ao vivo, a região é intensamente colorida – como toda a cidade ao redor dela.

Marcada por referências da arquitetura francesa e com claras homenagens ao art nouveau e ao estilo eclético de construção, Roma também é uma região viva dentro da capital. A Colonia, antes morada de famílias mais abastadas, foi transformada pelo abandono de seus antigos moradores, que foram migrando para bairros mais nobres e menos cercados pela multidão agitada que hoje ocupa o centro.

O bairro também foi marcado nos últimos anos por fenômenos naturais – como o grande terremoto de 1985 que devastou a cidade e levou ao chão vários dos prédios históricos que compunham a paisagem em 1971, ano em que o filme de Cuarón se passa. Entre as edificações que já não são mais as mesmas está o próprio hospital que aparece no filme, e que teve uma parte destruída pelo sismo.

Foram mantidas, no entanto, as fachadas de concreto e as ruas arborizadas. Segundo o colunista da revista mexicana de arquitetura Arquine, Juan José Kochen, em artigo para o periódico, Roma tem quase 120 anos de história, ao longo da qual boa parte da identidade local se construiu, se desconstruiu e se recompôs – sempre de um jeito diferente, mas sempre trazendo um pouco de sua história consigo.

Em 2013, ao falar sobre uma exposição dedicada a retratar Roma e Condessa, ele escreveu sobre “a permanência e transformação dos estilos – alguns apreendidos – de ambas as colônias: ecletismo, art nouveau, art déco, neocolonial e colonial californiano, até o movimento moderno”.

O colunista diz, ainda: “Estilos e vanguardas presentes na arquitetura e em parques, jardins e móveis como: Praça Rio de Janeiro, Praça Luis Cabrera, Jardim Garibaldi, Praça Morélia, Praça Romita, Jardim Pushkin, Parque Ramón López Velarde, Parque Juan Rulfo, Parque México, Parque Espanha, Praça Popocatépetl, Praça Iztaccíhuatl, Praça Citlaltépetl, Jardim Morelos, entre outros”, citando alguns dos principais ponto de referência do bairro.